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Mostrando postagens de junho, 2011

Nascente

            Com ternura, que tanto o inverno         estimula a fornalha do amor de jovem pelo vão de tua boca molhada de cacau Ouça estas palavras, numa voz quente: “seiva que flora e flor que cresce”, pela língua ácida de Verlaine, uma nesga, uma nascente na mata. Deixa meus dedos nesse musgo, Onde o botão de rosa brilha. Deixa que eu nessa erva clara, Vá beber as gotas do orvalho Com que é regada a tenra flor de antúrio. Teu corpo tem o encanto turvo, Teu corpo forte que embebeda Que estranho perfume ele tem, exótico, pelo vão da boca. II         Me encanta vossa boca e seus jogos         graciosos, os da língua, os dos lábios e ainda         do tremor dos dentes, palafitas de teu palácio, tal como uma gata angorá, entre os quais roça as matas e lava a alma crescente meu viril orgulho. Por isso, manhã d´alma quero nunca sair dessa fenda nascente do capim molhado do vale. (do livro “Cobra de Vidro”)

Retratos relâmpagos

Rubens Shirassu, um dos pioneiros da propaganda na região Cronista mescla, entranhadamente, os instantâneos líricos saídos das formas de vida e do espaço da modernidade à velha arte do repórter fotográfico A crônica, oficialmente classificada, não existe. Mas, como ocorre com ovnis há sempre alguém disposto a testemunhar que já a viu e nas mais diferentes formas. Pode aparecer brincalhona, amarga, profunda, superficial ou como um recorte da infância. Essa contemplação oferece provas luminosas da existência de um espaço aberto para a criatividade ou a falta desta. Vai-se do banal ao clássico, caso em que se pode enquadrar, entre outros exemplos, a prosa de Rubens Shirassu. Menção especial merece o jornalista, radialista, cronista e contato publicitário que, com seus flashs rápidos de repórter fotográfico, perenizam o instante, assim consegue traçar um painel de costumes e hábitos de 1947 até 1979. Além da adoção da meditação e mudança de postura, influenciadas pela sabedoria

Outro lado da história

Benjamin Resende, autor de Raízes Prudentinas                                     Com o mais profundo respeito e admiração, venho sugerir ao memorialista Benjamin Resende, autor do livro Raízes Prudentinas , que estude a possibilidade de incluir em seus escritos os fatos da vida artística e boêmia de Presidente Prudente e arredores. De minha parte, acredito que seria uma grande injustiça, falta de respeito, e preconceito, deixar de buscar nas gavetas do esquecimento, os atores e atrizes amadores das radionovelas, a principal mola propulsora da televisão e teatro nos dias de hoje, os colaboradores de jornais e rádios (cronistas e poetas), os operadores de mesa de som, sonoplastas, entre tantos outros personagens de bastidores de produção que, infelizmente, por falta de estrutura, incentivo e vontade política em resgatar a memória e identidade, grande parte caiu no ostracismo, ou esquecimento.        Na área musical, aqueles que criam os jingles e a trilha do espetáculo, citaremos os

No calor da fogueira

Olha pro céu, meu amor/ Vê como ele está lindo/ Olha praquele balão multicor/ Como no céu vai sumindo/ Foi numa noite, igual a esta/ Que tu me deste o teu coração/ O céu estava, assim em festa/ Pois era noite de São João/ Havia balões no ar/ Xóte, baião no salão/ E no terreiro/ O teu olhar, que incendiou/ Meu coração ( Olha Pro Céu, Luiz Gonzaga ) Quem viveu sua infância e adolescência em cidades pequenas, ou em subúrbios afastados do centro da cidade, deve guardar doces lembranças das festas juninas. Por volta de 1971, na época com 11 anos, a gente confundia as fagulhas dos fogos de artifício com o brilho das estrelas que pontilhavam na lona azul do céu. A alegria e a emoção explodiam feito os rojões e cabeças-de-negro que saudavam as festas das noites de Santo Antônio, São João e São Pedro! Lembro de uma típica festa julina realizada no sítio do seu Mané, numa noite fria e úmida de julho, onde sentíamos o calor da confraternização entre as pessoas reunidas em volta da imensa

Eclipse da lua

Foto de Alexandre Sanches  É o satélite solitário dos aventureiros, símbolo dos místicos, sonho  dos românticos, estandarte de todos os verões, até os da alma Houve um tempo em que os povos veneravam a lua, cantando músicas e contando lendas ou “causos” trazidos de seus ancestrais. Essa gente divulgava, entre outros mitos, tipos de seres extraterrenos que faziam contato na hora do eclipse. Com a diminuição de seus raios, ocorre um aumento da sombra nas matas, águas das fontes, mares, vales, cachoeiras e rochas. Seguindo as tradições milenares, acreditam os chineses, como descreve um famoso poema, que uma princesa virgem suicidou-se por ter sido largada no casamento. Pelo trauma do episódio, em todo eclipse, ela vem procurar um rapaz, usando de todos os meios para convencê-lo a morrer por ela. Ele, ao partir, com as mãos dadas a ela, fica preso no mundo dos mortos, que seria o outro lado da lua. Assim, eles chamavam a linda jovem de “A Dama da Lua.” Então, Deus, o grande arqu

Jogos da arte, língua e pensamento

Fernando Pessoa, o Shakespeare lusitano Em homenagem ao seu 123º aniversário de nascimento Fernando Pessoa é o mais alto poeta moderno de sua língua. Devemos colocá-lo no rol dos artistas mundiais, a exemplo de Pablo Picasso, James Joyce, Braque, Stravinski e Le Corbusier. Todos os traços típicos dessa grande equipe encontram-se condensados no grande poeta português. Pessoa deve ser colocado entre os grandes poetas da “estruturação”: estes, na opinião dele próprio, “são mais complexos naquilo que exprimem, porque exprimem construindo, arquiteturando, e estruturando”, e um tal critério os situa adiante dos autores privados das qualidades que fazem a complexidade construtiva. Ele pertence à linhagem dos poetas-engenheiros ou poetas-geômetras, que vêm de Edgar Allan Poe (que ele traduziu) e de Mallarmé (que ele leu bem e que influenciou, aparentemente, os sonetos herméticos da primeira fase da poesia pessoana, Passos da Cruz, 1914-1915. (...). É o poeta do verbo ser e de seus des

Topografia

Poemas Eróticos III Desenho Nº 2 de Arlindo Rodrigues Cara almofada de vinco profundo para o rosto, coxas, com a graça ravina rósea algo sombria, onde ronda o desejo enlouquecido, do sexo, onde chegam as mãos, depois de errar sem rumo! Nádegas, irmãs dos seios com olhos tesos e fixos só que mais naturais, camaradas e sorridentes pois todo o monte império consiste em serem formosas!

"O ciclo do brilho nos olhos" no sarau de sábado próximo

Sarau Solidário em junho de 2010 (Foto do Clube do Meio Artístico ) A Associação Prudentina de Escritores (APE) promove no Centro Cultural Matarazzo, no próximo dia 18, sábado, às 19h30, o Sarau Solidário " O Ciclo do Brilho nos Olhos ". O evento, uma parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, contará com a participação de Paula Hanke, Carlos Freixo, Davi Aquino, Suley Mara, Áurea Silva, Leonícia Mussa e Luís Amaral. Todo o cenário criado por Celso Aguiar amolda-se no tema proposto e, na área visual, terá a presença do artista plástico Josué Pantaleão, junto com os estudantes de artes plásticas da FACLEPP da cidade. As músicas que fazem a trilha do espetáculo, serão tocadas pelos músicos da Banda Provisória, Marcelo Zorzeto e Fred Mello. Pelo que informam os organizadores, foram incluídos os estilos de leveza e técnica da dança clássica e a magia romântica, teatral e mesclada de drama do tango argentino. A entrada para o Sarau Solidário será 1 quilo de

A doença da beleza

Romance com tema atual de escritora de Brasília A narrativa Fome de Rosas , publicada em 2009, está entre as mais importantes da literatura brasileira contemporânea. Ela mostra a vida de Alice, de classe média alta, jovem e bonita, que emagrece a olhos vistos. Na tentativa de se manter como as modelos muito bem favorecidas profissional e financeiramente? Ela queria seguir o protótipo que impele tantas moças em nossa época? Rosângela Vieira Rocha propõe-se em desvendar o segredo dessa moça, que resvala para a espiritualidade. Até que ponto ela pretende parecer uma estrela da moda e conquistar seletas plateias? É um livro que desperta curiosidade, mas também solidariedade, porque alguém sofre e ninguém pode fazer algo para melhorar a angústia de Alice. A personagem sofre de anorexia nervosa, uma síndrome caracterizada por profunda aversão aos alimentos, acarretando magreza e, às vezes, graves carências nutritivas. Observa-se, habitualmente, em mulheres jovens, sendo resultante de c

Agenda Matarazzo / Junho de 2011

Literatura Concurso Literário de Presidente Prudente (CLIPP) As inscrições podem ser feitas na Biblioteca Municipal até 30 de junho de 2011. De a 30, de segunda à sexta-feira, das 8h30 às 20h30 e aos sábados, das 8h30 às 12h30 na Biblioteca Municipal Dr. Abelardo de Cerqueira César Autor do Mês: José Saramago José Saramago e a mulher Pilar Del Rio O célebre e polêmico escritor português, ficou c onhecido por utilizar um estilo oral, da mesma época dos contos de tradição oral populares em que a vivacidade da comunicação é mais importante do que a correção de uma linguagem escrita. Todas as características de uma linguagem oral, predominantemente usada na oratória, na dialética, na retórica e que servem sobremaneira o seu estilo interventivo e persuasivo estão presentes. Assim, utiliza frases e períodos compridos, usando a pontuação de uma maneira não convencional. Os diálogos das personagens são inseridos nos próprios parágrafos que os antecedem, de forma que não exi

Humor e reflexão

Caricatura de Lan   Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto )   - No Brasil, as coisas acontecem, mas depois, com um simples desmentido, deixaram de acontecer. - Antes só do que muito acompanhado. - Ser imbecil é mais fácil. - Está dando mais do que cará no brejo. - Nos trens suburbanos não livram a cara nem de padre, que dirá mulher de minissaia. - O mais perigoso é que já estão confundindo justa causa com calça justa. - O Reino Unido não é tão unido assim como eles dizem, não. - Mais monótono do que itinerário de elevador. - Mais inútil do que um vice-presidente. - Mais mole que bochecha de velha. - A Polícia anda dizendo que prende um bandido de meia em meia hora, então a gente fica desconfiado que eles assaltam de 15 em 15 minutos. - Ninguém se conforma de já ter sido. - Quem desdenha quer comprar, quem disfarça está escondendo, mas quem desdenha e disfarça, não sabe o que está querendo. - Mulher enigmática, às vezes é pouca gramática. - Quando um amigo morre, leva um pouco da

Um comichão e o blecaute

 Ter uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia metódico  e banal atravancando o coração Há momentos na vida em que o Homem (aí subentendido a Mulher também) deveria fazer um inventário de si mesmo – seus sonhos, suas desilusões, suas possibilidades e onde sente um comichão na cabeça – e se faz perguntas. Vale a pena? Aproveito o “blecaute”, de algumas horas, e me olho dentro de minha casa interior, ao redor da cordilheira. Como você sabe, traço caminhos supondo um conhecimento, embora planeje há tanto tempo. Faço coisas como refestelar no sofá da sala criando um clima assim mais íntimo, mais acolhedor, mesmo do inevitável das palmas molhadas das mãos, e qualquer coisa como um leve tremor dentro de você. Era isso – esse gesto sincero, impulsivo que foge da rotina mecânica. Mas, você traz a memória de qualquer coisa macia que me alimenta nos dias solitários. Sobretudo à noite, aos domingos. Consegui um jeito de olhar por trás do muro de minha casa,