Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2013

Manoel de Barros: O Encontro, a Carta e o Filme

Um dos maiores poetas do século                                                                              Raquel Naveira “Não seria capaz de reconhecer um rouxinol...  Será um pássaro roxo?  Terá na garganta um sol?                            Raquel Naveira Sabia com Trevas IX “O poema é antes de tudo um inutensílio.”                            Manoel de Barros Aos vinte anos, comecei a publicar meus poemas no jornal Correio do Estado de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Com coragem, entrei na sala do Professor Barbosa, proprietário do jornal, mostrei-lhe alguns poemas datilografados, li-os em voz alta e pedi para que os publicasse. Daquele dia em diante, ininterruptamente, por trinta anos, passei a levar o pão da poesia para o meu povo. Quando publiquei o primeiro livro de poesias, intitulado Via Sacra , dez anos depois, em 1981, já havia formado um público leitor. Um dos primeiros poemas q

Tempo Livre

Se o trabalho enobrece, como anuncia  a sua ética, por que desejamos sempre  mais tempo para nos divertir? Que Deus não tenha terminado a sua obra é perfeitamente compreensível. Afinal deu duro, sozinho, para entregá-la em apenas seis dias. Mas, e nós? Estamos trabalhando juntos há milênios e pelo que ouço dizer continuamos falhando nas tentativas de construir um mundo melhor. Aliás, só no século 20, por algumas passagens aliadas a fenômenos da natureza, a construção quase desabou. Falta muito, realmente, para entregarmos essa obra pronta. Agora, estou sabendo, talvez tenhamos que abandoná-la. E por um motivo que os deixará exultantes: o emprego vai acabar. Os sociólogos estão chegando – e com algum atraso – à mesma conclusão que os gregos antigos: nós não nascemos para trabalhar. E não nascemos mesmo. Eu vejo por mim: às segundas-feiras, precisamente na semana do Natal, sinto a maior dificuldade de sair da cama para o trabalho. Durante s

Achados Notáveis

Braga Horta, co-fundador da ANE de Brasília “A poesia de Rubens Shirassu Júnior é culta, referta de alusões e citações, mas livre de qualquer ranço de eruditismo; pelo contrário, ágil como um fluxo-de-consciência. E com “achados” notáveis como – só para exemplificar– “Meu coração é um cacto vermelho”  (“Radiografia do Homem Ordinário”), ouvir “a cantiga de Deus nos bilros das rendeiras” (“Procissão do Espírito”), “Delícia é poder sentir as coisas mais simples” (“De Cara”). Vê-se que não é sem boas razões que o poeta, autor do magnífico “Cobra de Vidro”, cultua Oswald de Andrade e Murilo Mendes.” Anderson Braga Horta Horta nasceu em Carangola, Minas Gerais, em 17 de novembro de 1934. Publicou vários livros de poesia, prosa, traduções e crítica literária. Reside em Brasília, Distrito Federal, desde 1960. Co-fundador da Associação Nacional dos Escritores (ANE), membro das Academias Brasiliense de Letras e Letras do Brasil. Ganhou

No Olho do Ciclone, Estilhaços e Caos

Nascimento da Criança Geopolítica de Salvador Dali “Chega de jogos da linguagem, de artifícios da sintaxe, de prestidigitações com fórmulas. Agora, é preciso encontrar a grande lei do coração, a lei que não seja uma lei, uma prisão,  mas um guia para o Espírito perdido no seu próprio labirinto.”   ( Carta aos Reitores das Universidades Européias, de Antonin Artaud ) Beto Lima Era o ano de 1994. Aos 33 anos, Rubens Shirassu Júnior parte de Presidente Prudente, São Paulo, para confrontar com o universo mágico da cultura oriental, onde iniciou uma série de viagens, foi a sua palavra-chave, e pesquisou sobre a simbologia, os hábitos e tradições – assim, viajando com um sonho na bagagem do seu interior, de trem, em cada estação pela qual passou, curtindo a vida sem rumo, por todo o Japão, atrás de luas, lagos, antigas construções dentro da mata escura, descerrando as folhagens do Taoísmo, do Zen-budismo, das lendas, de famosos

Tarefas de guerreiro

Bacchus de Caravaggio Sempre sob inegável suspeita das mentes institucionalizadas, manipuladas e vazias, por seu ângulo de visão muito objetivo e seu caráter pouco alegórico, o dionisismo e o existencialismo se mantiveram, contudo, nas últimas décadas, como uma das forças mais influentes do pensamento contemporâneo. Há muitas razões para isso, desde a vigência espetacular que conheceu no pós-guerra até sua tendência presente à revitalização, em face da evidência do fracasso de formas do pensamento mais intelectualistas. A filosofia contemporânea chegou a uma complexidade verbal delirante e, na melhor das hipóteses insensata, cuja principal operação é a substituição sistemática do concreto pelo abstrato, do prático pelo teórico e da experiência direta pela elucubração mental. O pensamento jovem, enquanto corpo de plataforma, não está imune aos típicos vícios filosóficos de nossa cultura, no estágio atual de seu desenvolvimento, mas representa uma toma

A morte de Raymundo Araújo

Fico sabendo sobre o falecimento de Raymundo Araújo Júnior, meu amigo virtual. Sua esposa Tita comunicou-me a trágica notícia por e-mail. Uma morte súbita, chegou, foi cochilar e, pouco depois, constatou-se a sua morte. Raymundo Araújo, tinha planos, era médico veterinário, queria mudar-se para o campo, aos arredores de cidade interiorana do Rio de Janeiro. Fiquei perplexo! Não tive palavras para enviar por e-mail, fiquei abatido temporariamente, o que dizer  para a esposa dele? Somente agora, me recompus, lembrando que o "amigo virtual", não raramente é mais amigo que o vizinho próximo, o parente, o pretenso amigo que raramente nos faz uma visita ou nos deixa uma palavra de carinho e encorajamento. Este distanciamento virtual soa falso, visto que nos correspondemos, trocando confidências, promessas, protestos, nossas paixões políticas, esportivas, cinematográficas, literárias e todo um arcabouço de familiaridades, que nem sempre contamos aos nossos "a

Portugal: a terra e o homem em azulejos

Elementos da formação cultural são resgatados O livro de poemas Sangue Português , de Raquel Naveira, nos traz a época das grandes navegações e descobrimentos, consequência da política de expansão comercial dos povos europeus. Em alguns poemas fica a sensação do espírito de aventura dos portugueses e europeus que aportavam no Brasil em fins do século XV, em busca de enriquecimento rápido e fácil – conseguindo graças ao trabalho escravo, como mostra na releitura de Navio Negreiro , de Castro Alves: “Pela proa,/ Pela popa,/ Correm as sentinelas da Coroa,/ É preciso guardar o ouro,/ O marfim,/ Os escravos;/ A cobiça é um abutre/ Que devora os fígados/ E atordoa as almas. Página 75.” Ao deparar com os nomes que povoam o universo da obra, a exemplo de Bocage, Florbela Espanca, Confissão de Mariana (À Sóror Mariana Alcoforado) Lord Byron em Sintra, D. Pedro em Queluz, Dona Maria, a Louca, Camões em Macau , Moçambique (a Mia Couto) e outros, o(a) leitor(a)

Carroceiro

Capa do último livro de Raquel Naveira (Ao grafiteiro Mundano) O carroceiro, Homem-cavalo, Puxa a carroça pela rua; Será que dá dinheiro Esse monturo de plásticos, Papéis, Cacos E sucatas? O carroceiro, Cavalo-homem, Chafurdou lixeiras, Caçambas, Em busca de metais, Latas, Restos de carros alegóricos, Criou um mundo brasileiro Que carrega às suas costas. Lá vai o carroceiro, Trotando, Subindo ladeira, Passando entre os carros; Os olhos ardem, O estômago pesa, Engole fumaça, Tudo nebuloso Em meio ao chuvisqueiro. Lá vai o carroceiro: Bermuda, Boné, Camisa xadrez Colada ao corpo; Mal-estar De viver assim, Preso por ferros A uma carroça, Seu cativeiro. Lá vai o carroceiro: Dor nas pernas, Nos joelhos, Caminha rumo à favela, Cortada por trilhos, O trem passa, As garrafas tremem, Seu destino é de andadeiro. Lá vai o carroceiro: Empapado de suor E gotas