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Mostrando postagens de dezembro, 2014

Drummond e as Explicações do Mundo

Pintura de Gerson Vieira                              Um grande poeta faz a gente sentir e pensar coisas que, sem ele, não saberíamos como dizer. Ele usa as palavras como se brincasse com a bola,  possibilita-nos criar um mundo paralelo onde o brinquedo movimenta-se entre o chão, o espaço e o ar azul do impalpável da natureza. Muito além dos ensinamentos herméticos de Hermes Trismegisto (Thoth) e a alquimia de Paracelso. Vendo até parece fácil. O que torna o poeta mineiro de Itabira tão atraente a ponto de contribuir para a formação de uma nova linguagem poética no Brasil e na Argentina dos anos 50, 60 e 70, é, a meu ver, esse equilíbrio entre espontaneidade e reflexão, entre ironia e desilusão, entre lirismo e rebeldia que a caracteriza.             Por outro lado, parece-me que falar da presença da cultura brasileira na Argentina dos anos 50 e 60 seria um bom assunto para um próximo artigo. E nessa presença, ao menos durante esses anos, a figura de

Os Causos Absurdos das Tribos

Capa da primeira edição de 1967             No livro “ A Horas dos Ruminantes” , uma novela de 1966, uma história sobre a opressão que submete um lugarejo pacato que se chama Manarairema e seus habitantes. O conto abre com a chegada dos homens misteriosos, vindos não se sabe de onde, instalam um acampamento numa tapera nos arredores da cidade. Esses homens pouco expressam e nem revelam o seu objetivo. Por outro lado, demonstram a sua exigência e dureza. No decorrer do tempo, vão subjugando os habitantes da cidade forçando-os a cumprir obrigações no acampamento.             Sob as suas ordens vieram o carroceiro Geminiano, em seguida, o vendeiro Amâncio e, posteriormente, o marceneiro, o ferreiro, um casal de namorados e a indagação: Qual o poder dos homens da tapera? Ninguém sabe ou então não se atreve a explicar: o fato é que uns se tornam esquivos a qualquer pergunta, outros não conseguem disfarçar o medo. Alguns não se submetem ao tratamento autoritá

Noite de Autógrafos

            O escritor Benedito de Godoy Moroni, da Academia Venceslauense de Letras (AVL), estará autografando o seu novo livro “Casos e Causos”, no próximo sábado (13.12) às 20h00 no anfiteatro João Brilhante, em Presidente Epitácio. O evento conta com o apoio cultural da Prefeitura da cidade.             Quero agradecer à gentileza de Ari Florentino da Silva, presidente da AVL, de Presidente Venceslau, pelo envio do convite. CASOS E CAUSOS Benedito de Godoy Moroni Dia 13 de dezembro de 2014 (sábado) Horário: às 20h00 Local: Anfiteatro João Brilhante Presidente Epitácio - São Paulo

Estranhas Alegorias

            José J. Veiga pertence a uma tradição literária cujas raízes podem estar no tcheco Franz Kafka ou no inglês Aldous Huxley, pela sua maneira de denunciar um mundo cada vez mais difícil; ou, ainda, no brasileiro João Guimarães Rosa por sua inalienável relação com o sertão. O contista entretanto, faz de sua literatura algo muito pessoal, cuja visão do mundo procura registrar, sempre numa linguagem simples (e até despojada de quaisquer aparatos linguísticos) uma realidade complexa – menos aparente, como declara o próprio autor -, que resvala os limites do absurdo. Uma estranha realidade, que ele desencava, ora no mundo perdido do sertão de sua infância, ora no mundo que está à sua volta. São contos ambientados em cidades pequenas, cujos modelos poderiam ser a Corumbá ou a Pirenópolis do passado ou, ainda, fruto da própria imaginação de José J. Veiga. Uma obra reflexiva, isto é, espelho de uma realidade (a brasileira ou qualquer uma), levando o leitor

Rito

Os lábios sorveram da vida plena e comerão o corpo e beberão o sangue. Carne perfumada a nadar, pois nunca será inteiro o seu amado. Mesmo que ofereça comida aos deuses levada num barco faz parte do hieróglifo, se ilusão nem tanto como a pedra.

O Tocar no Corpo e os Sentidos

“A criança adquire o conhecimento de seu corpo  próprio  introjetando a imagem de outra,  e em primeiro lugar, o corpo da mãe” Le Boulch             Percebe-se que o conceito de imagem corporal associa-se ao inconsciente, enquanto a mesma bifurca-se de um lado, em parte consciente e do outro também pré-consciente.             O caminho narcisista trilhado pela criança na fase em que se descobre a fusão de um corpo sentido de modo geral e a imagem especular vai exercer um papel dominante sobre si mesma. Pode-se, também, afirmar que através do corpo a criança declara a sua individualidade e se intera dele com o meio, formando a sua maneira de ser. Pelo pensamento exposto de Le Boulch é pertinente afirmar que toda relação corporal implica uma relação psicológica.             Entendo como identificação o processo pelo qual a criança, em seu meio, harmoniza-se posturalmente em relação à outra pessoa pela ligação afetiva que possui com ela