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Mostrando postagens de outubro, 2015

Pelo buraco da fechadura

Hoje, a tentação é de tanto atrativo visual, que a gente fica distraído, dispersivo e com preguiça de pensar             Digo sempre a uma amiga que esse negócio de redes sociais, da Internet, muito parece com o buraco da fechadura. Acho que foi a Clarice Lispector que disse que o proibido sempre atrai. Atraído pela curiosidade de saber o que acontece naquele espaço, de polegadas, da vitrine da rede social. Ou mesmo de procurar a sensação única de abater uma caça; seja homem ou mulher. E você fica olhando quem tecla e entra na sala. Você enxerga códigos e desenhos e, não vê as pessoas. Essa ideia lembra algo de mascarados no salão, de confissão de solitários, alguma coisa de falta do que fazer ou de sono. Seria o acessório um novo modo de ver?             No espaço virtual da sala, você se torna um personagem ilhado com suas fantasias.             Hoje, a tentação é de tanto atrativo visual, que a gente fica distraído, dispersivo e com

Passatempo e outros tempos

            No mundo animal, existem sapos que inflam uma espécie de bola na boca, ou o pavão que abre a calda em leque, apenas para seduzir a fêmea. Isto têm a haver na relação do ser humano, como auto-afirmação do macho na adolescência.             Houve um tempo que você ouvia um som na rádio-vitrola, ou aquelas angustiantes fitas-cassetes que, na maioria das vezes, a gente fazia torcida para não enrolarem no tape-deck, para tirar os acordes, decorar as letras para se cantar nos festivais do ginásio, ou simplesmente sonhar colado nas “brincadeiras dançantes”. Mas, são coisas de outras gerações... A necessidade de se exibir para o povo com os altos decibéis, às vezes, se torna insuportável e irritante. As pessoas estão exagerando atrás de uma fantasia em querer preencher o vazio existencial. Isto leva a questionar a inversão de valores como o respeito a individualidade do outro, de invadir a privacidade alheia. Imagine só: Às três da madruga, uma fila de

Temporal II

La Victoria de René Magritte Jogo os meus olhos no clarão do céu Jogo os meus longos cabelos magnéticos na flor violeta-chumbo em ebulição. Quero ser só matéria em dispersão, um sopro dos elementos em fúria. O vento cospe um poema em forma de temporal me reflito no azulejo, topo de miragens augustas, reflexo da eternidade, amálgama do ar, da água e do fogo em corrente. O dedo indicador direito erguido na amplidão desenha os quatro pontos cardeais após o traçado, traz a porta do horizonte em direção ao centro do coração pulsante, visões do esplendor. As nuvens flexionam as espáduas saltando as veias como raízes do meu corpo com os pés fincados na terra de braços abertos no ar. Pelo descampado respiro o som de contas de vidro trincam as veias formando um mapa do tempo nublado. Como um Ente nervoso, desencapa, deságua e eletrifica em forma de tempestade. Enquanto meu espírito passeia longe de

ReVisões do Menino Prudentímido

(Da esq.para a dir.) Meu irmão Renato e eu de camiseta listrada O olho míssil do menino desenhava barcos verdes sobre grandes travesseiros. Eram embarcações de chocolate, que foram o meu primeiro encontro com o estado onírico. Colocava também ao lado, portas, chaves, sapatos, vestimentas, dentro de um aquário, entre outros objetos, e muitos corações de morango explodindo feito fogos de artifício. II A página em branco indica sempre um novo poema de tudo, ou supressão do nada. A página em branco é o salto para o deserto das almas ou esticado elástico no sal da terra. A metáfora do branco é o sal A metáfora do sal é o branco O branco é o procurar do texto Serei julgado fora da linha de margem, o juízo final começa os pontos de mim III A exemplo da página em branco, o ovo é um monumento de recomeçar, plano piloto da redundância No meu tempo de infância, Eu tinha medo do ov

Fragmento de Casa Grande & Senzala

Ilustração de 1839             “Considerando-se neste ensaio o choque das duas culturas, a europeia e a ameríndia, do ponto de vista da formação social da família brasileira – em que predominaria a moral europeia e católica -, não nos esqueçamos, entretanto, de atentar no que foi para o indígena, e do ponto de vista de sua cultura, o contato com o europeu. Contato insolente. Entre as populações nativas da América, dominadas pelo colono ou pelo missionário, a degradação moral foi completa, como sempre acontece ao juntar-se uma cultura já adiantada com outra atrasada.             Sob a pressão técnica e moral da cultura adiantada, esparrama-se a do povo atrasado. Perde o indígena a capacidade de desenvolver-se autonomamente tanto quanto a de elevar-se de repente, por imitação natural ou forçada, aos padrões que lhe impõe o imperialismo colonizador. Mesmo que se salvem formas ou acessórios de cultura, perde-se o que Pitt-Rivers considera o potencial, isto é

A mesma forma social

Retrato em branco e preto da formação patriarcal             Oitenta e dois anos depois do lançamento de “Casa Grande & Senzala”, Gilberto Freyre, em 1983, diz que escreveria a mesma coisa hoje e que está convencido de que assim agiria pela atualidade do livro, pelas antecipações científicas que o tornam pós-moderno. E citou como exemplo dessa atualidade a acolhida que teve entre os alemães a edição da obra na década, a segunda naquela língua.             O escritor pernambucano lembrou o impacto que causou nos meios intelectuais brasileiros o lançamento de “Casa Grande & Senzala” pela Editora Maia e Schmidt Ltda., do Rio de Janeiro. O livro surgiu numa época em que duas ideologias se enfrentavam no Brasil: o comunismo e o integralismo de Plínio Salgado, este ainda não inteiramente definido. E que tanto comunistas como integralistas se dividiram em ataques e elogios à obra. Gilberto Freyre foi chamado, ao mesmo tempo, de comunista e reaci