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Mostrando postagens de março, 2016

Alquimia bar

Uma linha editorial alinhada à reflexão política             Alguém já disse que o Alquimia bar não era apenas um bar, mas uma casa de ilusões, sempre à beira do concreto. Cada antigo frequentador fornecendo uma visão própria que é incomum a todos. Na sua rápida existência, o Alquimia bar, na rua Siqueira Campos esquina com a Casemiro Dias, confirma a sua imagem de vendedor de ilusões. Para mim, essa imagem é verdadeira. Desde o início, antes mesmo da inauguração, Mário Paulo não queria ter apenas um bar, um restaurante. Queria uma casa onde as pessoas se sentissem tão à vontade quanto um gueto permite. Por isso, batizou o bar de Alquimia, uma mistura fina de composições químicas que era mais poético, onírico, místico, atraente e globalizante. Surgiu a casa. No primeiro ano, era um bar teatral e animado, local da moda. Depois, passou a ser, também, uma espécie de centro cultural e político. Teve a apresentação do acústico Fábio Mitio Guibu e Gutão Cr

Escoadouro

Toda a água é um espelho de Fernando Vidal Para o Dia Mundial da Água Essa paisagem desapegada do rio abandonado represa a enchente que guarda dentro do corpo. Muito maior que o desejo parcelado no crediário que pagas. A fome de vida transborda desorientando a tua bússola. E se encorpa em gelatina, entre todos, lona de um tecido tão fluvial que se abaixa e mergulha por si. Avança em linha rasteira, como uma onda, alastra o som em paralelo. O rio – ave migrante sente-se estrangeiro ou imigrante, como se fosse um retirante. Sol a pino, os sentidos fora dos trilhos urbanos e das faixas dos acostamentos das estradas. Aquela vela segue o claro vibrante sol ou do raio lunar que não se estanca a alma escura do rio caminha com carranca no desfiladeiro, circulando as barrancas submersas nos pesadelos e miragens encarceradas na barragem de ansiedades, ilusões, vontade de poder dos seres que oram pela

Um escritor com olhos na história

Pintura El Nacimiento del Fascismo (1945) de David Alfaro Siqueiros             A Alemanha, esta pálida mãe da cultura, teve filhos excelentes. Thomas Mann (1875-1955) foi um dos melhores. Para György Lukács, “homem e escritor se fundem, na evolução artística de Mann, em uma combativa unidade”. É dizer tudo sobre alguém que fez da cultura e da razão sua “ raison d´etre ”, em uma época - que não acabou - onde isto absolutamente não era muito simples.             A chave de seus textos deve ser buscada no espírito crítico que alimenta a cultura clássica alemã. Um dos seus personagens, Settembrini, expõe em “A Montanha Mágica”, publicado em 1924, todas as dificuldades dessa enigmática razão. A oposição Naphta-Settembrini, no romance, supera em muito as reflexões de Hans Castorp, afinal, a personagem central.             Os escritos de Mann são um espelho da vida em sua riqueza - no capitalismo isso significa também um reflexo da miséria do mundo. Estas r

(De)líri(c)o obcecado III

Pintura “Amantes II” de Santi Uma celebração unindo poesia, amor & vinho Formoso é o fogo no lume do corpo amado tudo em redor clareia Depois é leite espumoso que se alteia e se faz renascer o novo nas curvas da centelha. Já não existe nem esboço e nem corpo, mas desenhos unos - encaixados e justapostos. São almas que teimam e no amor se queimam de um mesmo sopro.

A reativação poética dos mitos

          Os deuses vivem. Nossa solicitude pode torná-los presentes. Não é mera recordação, é magia ao enunciar que, nomeando, invoca forças e qualidades, sob cuja proteção então nos encontramos. Grécia, paisagem interior: plenitude de vida, luz e festa da alteridade que nos habita. Há uma Grécia imortal, incorporada em nós. Sua sacralidade antiga resiste ao tempo e vibra nas ruínas de Delfos, nas pedras do templo de Apolo, no vale de Agrigento.             Numa época da morte de Deus, “tempo de carência” e de ausência do sagrado a minha poética renova a atenção aos mitos gregos enfatizando que os deuses vivem em nós. E que a poesia é via de acesso ao ser, dádiva, na palavra de um outro inefável em si mesmo. Walter e Rudolf Otto, Carl Jung, Kerényie e Mircea Eliade abordam, dos pontos de vista filosófico, psicológico e antropológico a essência da mitologia. Que dizem sobre os mitos e os deuses? Dizem o mito vivo, buscam não só descrever, mas evocar e invocar