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Formação do nosso paladar

No livro A literatura na degustação , de Rubens Shirassu Júnior, serão determinantes as narrativas que falam de receitas recolhidas, vindas provavelmente de tempos longínquos, depositados nos vãos da Memória Cultural, entendendo-a como um campo de negociações culturais através dos quais diferentes narrativas compõem seu lugar na história. É sobre essas narrativas contadas e recolhidas pela Literatura Contemporânea enquanto patrimônio e linguagem, que o escritor e o ensaísta de Presidente Prudente, São Paulo, discorre. Por isso, da maior importância ressaltar a relevância da obra do folclorista e etnólogo Câmara Cascudo (2004), o qual realizou uma pesquisa profunda sobre as práticas culinárias no Brasil, seu livro “História da Alimentação no Brasil” . O autor não faz, neste livro, apenas um levantamento etnográfico, mas também organiza um panorama da história literária sobre o assunto. A obra de Câmara Cascudo (2004) possui um valor fundamental para esta pesquisa, visto que o autor faz
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Culinária de sentidos: corpo e memória

  Os textos de escritores que relacionam literatura e culinária levou Rubens Shirassu Júnior a fazer uma reflexão sobre a Memória dos Sentidos dentro de um espaço específico, a cozinha, entendida como um lugar de rito que transfigura os corpos. A partir desse recorte, no livro A literatura na degustação, o escritor procura relacionar a representação do feminino, do corpo na cozinha e na confecção do alimento, nos textos de autoras femininas incorporadas ao corpo desse trabalho, são elas: Rachel de Queiroz, Cora Coralina, Adélia Prado, Heloísa Helena, Márcia Frazão , da mexicana Laura Esquivel e da chilena Isabel Allende , percebendo as diferenças escriturais na maneira de construir o corpo a partir da relação com a culinária, pois os hábitos alimentares são como textos que narram a história de constituição de um grupo. Entre os escritores: Eça de Queirós, Gilberto Freyre, Homero, Jorge Amado, Machado de Assis, Marcel Proust, Rubem Braga, Thomas Mann, William Shakespeare etc. E en

Magia de degustar

Alina Sokolov * Há uma velhíssima tradição escrita que cultua o ato humano de comer. Esse ato, por mais individual que pareça ou por mais solitário que possa ser numa dada circunstância, esse ato é social e, vincado à natureza, tem caráter cultural. Ato, assim, da natureza viva e vivente, e da cultura exercida sobre a natureza e os homens entre si. Cozinhar, entretanto, é uma ação de caráter cultural, que nos liga sempre ao que fomos, somos e seremos, com o que produzimos, cremos, projetamos, sonhamos, gozamos. Toda cozinha tem a marca do passado, da história da sociedade, do povo, da nação a que pertence. Por esse motivo, as grandes cozinhas "nacionais" – a chinesa, a japonesa, a francesa ou a coreana, por exemplo - não são importantes porque nelas uma parte da China, do Japão, da França ou da Coreia tenha imposto seu estilo culinário ao resto do país. Ao contrário, são grandes, importantes e apetentes, porque incorporaram e somaram os achados gastronômicos de todos os s

Perfis históricos e escritores interioranos

  A revista literária Chico´s Cataletras, número 76, de setembro de 2024, de Cataguases, Minas Gerais, publicou o poema inédito “(Re)trato im(Prudente),” de Rubens Shirassu Júnior, de Presidente Prudente, na página 65 e a resenha “Sabores no corpo da memória,” sobre seu livro de ensaios “A literatura na degustação,” na página 79. A linha editorial da publicação com temática livre, inclui poemas, contos, crônicas, resenhas, anúncios de eventos, e na seção “Detalhes”, divulga concursos literários, lançamentos de livros, palestras etc. Destacam-se na publicação a tradução do poema “Eldorado – 1849,” de Edgar Allan Poe por Emerson Teixeira Cardoso (pág. 27) o perfil histórico e artístico do multiartista plástico Pury (pág. 9), autor da escultura “Mandala”, que ilustra a capa desta edição, “A literatura fora dos grandes centros,” de Hugo Pontes (pág. 74), “Cooperativa de poetas 40 anos,” de Cadu Cardoso (pág. 77). Tradição cultural Cataguases evidencia-se por ser uma cidade modernis

(Re) trato (im) Prudente

  Terminal rodoviário de Presidente Prudente   Lona imperfeita de eus em meus em multidão plantada em hastes, colinas amplas com topos suaves e ondulados: cidade inventada a cada pessoa.   Teus homens, mulheres e moribundos vestem a roupa rústica das manhãs à noite despertam os calçados da tarde ora com nuvens, ora sem elas.   Levam às ruas o coração fechado enquanto os olhares usurpam cores das feias calçadas fora de nível à quimera das vitrines atados estamos ao preço das coisas.   E a matéria vivida coexiste calada nos cômodos das mesmas casas soma de tantos gestos e sentenças manchas úmidas nas paredes gastas.   Quantos insones atravessam a tua noite acionam os remos largos da madrugada e no amanhecer fecham os olhos cansados, indiferentes à altivez dos edifícios.   Na praça da rodoviária aparecem as primeiras crianças – as que se interessam pela terra acreditam na sombra das árvores e acolhem faceiras a luz deste dia.   Com nenhuma cor retida na retina, transeuntes viram as faces

Como folia carnavalesca

  A humanidade não pára de se divertir com grandes pileques tomados, subvertendo a ordem natural das coisas e colocando na árida rotina do cotidiano um pouco de lirismo, humor e poesia, e matéria-prima da vida simples, divertida, lírica, calma, de uma turma solidária, que sabia, principalmente, viver as coisas boas e, em certos momentos, refletir sobre o contexto que vivenciavam. Em 1980, ao chegarem no bar da Unesp, as pessoas saiam da gravidade burocrática, atiravam a máscara fora e passavam várias horas dizendo bobagens, xingando aqui, pagando rodadas de cervejas, cantando acolá. Não éramos mais a disciplina, a correção, a lei, o regulamento, éramos os coristas inebriados pela alegria de viver. Evoé, Baco! Como a folia carnavalesca, o grande burburinho dos frequentadores do bar da Unesp é que nos tirava do espírito as grandes preocupações da nossa árdua vida. Delicioso esquecimento! Bar é vício. Feito paquerar a cunhada, passar a mão na mulher do amigo, beijar no elevador a cole

Colcha de retalhos

  Falar sobre Literatura, Degustação e Culinária exige faca afiada e corte certeiro, tarefa não muito fácil para alguém que inicia pelo caminho da técnica. Rubens Shirassu Júnior em seu livro A literatura na degustação optou, desse modo, dar às reflexões o formato de uma colcha de retalhos. E, nesse ponto, delinea aquilo que é central na expressão “colcha de retalhos”. A concepção de “colcha de retalhos” veio a partir do filme intitulado “Patchwork” (1995), protagonizado por Winona Ryder que, na história, está elaborando sua tese de doutorado. Eis a sinopse: Mãe e amigas decidem bordar uma colcha para uma jovem indecisa frente ao casamento, uma colcha de casamento, seguindo a tradição. Enquanto constróem o bordado, vão resgatando episódios passados de suas vidas, resolvendo velhas pendências. Quando a colcha fica pronta, nada mais é como antes. Porque antes de tudo, esse termo possui uma feição estética, e é essa que pretendo fazer migrar para a formatação das escritas críticas. C