Imagem do Correio Brasiliense
beba coca cola
babe cola
beba coca
babe cola caco
caco
cola
cloaca
Décio Pignatari – 1967
Caviar o prazer
prazer o porvir
porvir o torpor
contemporalizar
Décio Pignatari – 1959
Ao se mencionar Poesia Concreta, a imagem imediata que ocorre são alguns poemas
sintéticos e despojados de expressão lírica. Neles, o que tradicionalmente se
espera do poético – a inspiração, a expressão de sentimentos ou estados d´alma –
foi liquidado.
Alguns destes poemas são clássicos
(como “velocidade”, “beba coca-cola”, de Décio Pignatari, e “nascemorre”) e revolucionaram a poesia brasileira por ousarem
transformar a palavra em coisa. O poema “Beba Coca Cola”, um clássico de
Pignatari, usa recursos modernos do anúncio, este poema faz a crítica não só ao
produto como à forma persuasiva da propaganda que o divulga. Já “caviar o
prazer”, não se iludam com a simplicidade. Substantivos tornam-se estranhos
verbos, sujeito e objeto da ação confundem-se. Através de sua construção, o
poema presentifica a alienação no cotidiano: contemporizar + temporalizar.
Palavras deslocadas (alienadas) de seu sentimento e funções habituais criticam
as ilusões da vida moderna. Esse poema, entre outros, pertencem à fase heroica do
Concretismo, momento de eclosão do movimento e de grande polêmica nacional de
1956 a 1960.
O que se ataca nesse momento de
extrema ortodoxia é o verso como medida rítmico-formal: é desarticulado por
meio de várias técnicas de fragmentação de palavras, ideias e frases. O poema
deixa de expressar e representar um universo de sentimentos e emoções
exteriores a ele, para personificar uma realidade viva e autônoma (“verbi-voco-visual”)
– a realidade em si do poema. São as três dimensões da palavra (semântica,
sonora e gráfica) projetadas no espaço em branco da página, em busca de uma
sintaxe espaço-temporal. Novas relações que visam a impedir a leitura linear,
colocando a poesia à altura da sensibilidade de nossa época. As exigências da vida moderna solicitam uma
comunicação rápida e eficiente. Assim, incorporando técnica e recursos dos meios
de comunicação modernos (jornal, propaganda, cinema, cartaz), o poema é
concebido como um “objeto de consumo” – utilitário e funcional.
Isso não significa que a realidade
urbano-industrial esteja diretamente reproduzida no poema. Como diz Décio Pignatari: “Objetos-bens-de-consumo,
sim, mas no âmbito do pensamento e sensibilidade, inconversíveis que são
valores meramente utilitários.”
O que implica transformar a realidade
num universo imaginário, de formas sensíveis. Universo que tem aparência do
real mas, por sua beleza racional, visa a uma crítica ao capitalismo e às suas
formas de consumo. Uma verdadeira utopia construtivista: o poema quer tornar-se
mercadoria, mas sem valor de troca, para poder resgatar e afirmar o poético e a
poesia numa sociedade em que tudo está à venda.
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