Em 1968, Caetano
Veloso cantava, devidamente vaiado pelos estudantes de esquerda, “É Proibido
Proibir” (e outras palavras de ordem do Maio francês), rompendo com o tom grave
e a falta de flexibilidade da prática política vigente. Soprava um vento
libertário, um desejo de “responsabilidade existencial” contra um sistema de
vida fechado e controlado por elites. Dois anos depois, abria-se um fosso
definitivo entre os que, de uma maneira ou de outra, se beneficiavam das
vantagens do “milagre econômico” e aqueles que, desarticulados, viam seus
projetos ruírem ou nem sequer eram capazes de construí-los. Era o Brasil
Grande, um “país que vai pra frente”, diante do qual restavam duas opções
radicais: amá-lo ou deixá-lo.
Num quadro de terror
e crise a década de 70, progressivamente, vai se definindo como os anos do
medo, da insegurança, da saúde, da competência e da qualidade técnica. Dentro
do clima sufocado pela opressão, vários jornalistas e fotógrafos, em reuniões
diárias, pedem aos editores que mudem a linha editorial, com o intuito de
informar leitores sobre os atos de violência e abuso de poder nas ruas, nas
universidades, sindicatos e grupos estudantis, produziram artigos, matérias e
editoriais que denunciavam as ações autoritárias, impulsivas e grotescas da
Polícia e do Exército, por afrontarem os direitos humanos e a liberdade de
expressão. Caso das demissões injustas de Plínio Marcos, dramaturgo, escritor e
cronista, de Tarso de Castro, jornalista, ambos da equipe de um grande jornal
de São Paulo. A ditadura arreganhava os dentes e os jornalistas, professores,
estudantes e artistas, corajosos ou não, os enfrentavam.
Esse jornalismo
“denúncia”, foi uma explosão na imprensa escrita, jogando para o ar padrões
acadêmicos, como forma de resistência ao tempo nebuloso, com fortes ventos, o
denominado jornalismo investigativo abalava a instabilidade meteorológica de
nossa história política. Falava-se da incompetência, da inércia e da alienação
da geração AI-5. Mas os textos ressaltam, sobretudo, a operação silêncio, que
deu o tom da época nas áreas da comunicação escrita, das artes e da literatura.
Em “Perfis feitos em
botecos”, o autor resgata as memórias musical e futebolística (Dino Franco,
considerado um dos principais compositores da música sertaneja de raiz e
Polaco, jogador de futebol, que jogou no Corinthians e no Palmeiras, na época
da famosa Academia, ambos nascidos em Rancharia.).
Souza tira de sua
experiência de vida o documento mais pungente. Um testemunho ocular, sem
conotações partidárias ou doutrinárias, estando mais comprometido com a
política do homem, suas frustrações, suas esperanças, seus anseios de
independência e liberdade. Seus textos cristalinos são um exemplo de que a
palavra é uma arma vigorosa contra a apatia e a indiferença, desde que
compromissada com a verdade.
Antes
que a memória falhe
(Histórias de bastidores do jornalismo que
merecem ser contadas)
Edições O fato
176 páginas
Rancharia – São Paulo – Brasil
2016
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