Bashô nas margens do rio Sumida, periferia de Edo
Hai-Kai, o despertar Zen, diz infinitas coisas
tendo pequenos meios
tendo pequenos meios
Século XVII. Aos 25 anos, Matsuó Bashô
abandona a sua casta social de linha, os samurais, para confrontar com o
universo mágico da poesia. Tabi (viagem), foi a sua palavra-chave, a outra é yuma (sonho) – assim, caminhou na
estrada, a pé, curtindo a vida sem rumo, por todo um Japão, atrás de luas,
lagos, templos dentro da mata escura, buscando lavrar as palavras do peixe;
peixe espada; peixe luz ou como diz o poeta Paulo Leminski: a lágrima do peixe,
o Hai-Kai. Toda a sua vida se resume neste poema em miniatura que diz infinitas
coisas tendo pequenos meios. Os seguidores de Bashô elevam-se a cada ano, e fazem
do hai-kai uma educação dos cinco sentidos.
Para recriar e penetrar na cultura
deste mestre, com tanta paixão e dedicação, que influencia a cada século, nada
mais oportuna a escrita de Paulo Leminski, uma groupie pela cultura oriental.
Nestes fragmentos/radiografia da alma coletiva,
reflete-se o vínculo com as estações da natureza, do outro lado a divina. Um
estudo do gênero mais desconcertante do Japão.
Bashô é doce-amargo, como o instante,
ou quando se abre uma ostra rompe-se o ostracismo e revela-se o encanto, a
pérola.
primavera
não nos existe
pássaros
choram
lágrimas
no olho do peixe
relampagueia
através
das trevas
a
garça ecoa
(dói
aquilo
dentro
do elmo
um
grilo)
o
cavalo pula
o
coração me vê
dentro
de uma pintura
este
outono
como
o tempo passa!
nas
nuvens
pássaros
Referências
Bibliográficas:
LEMINSKI,
Paulo. “Bashô: A Lágrima do Peixe”, Coleção Encanto Radical, 103 páginas, editora
Brasiliense, São Paulo, 1983;
BASHÔ, Matsuó. “Trilha Estreita ao Confim”, em tradução
de Kimi Takenaka e Alberto Marsicano, editora Iluminuras, São Paulo, 2008;
BASHÔ, Matsuó. “Sendas de Oku”, versão em espanhol
de Octavio Paz, tradução de Olga Savary, Roswitha Kempf/Editores, 1983;
BLYTH, Reginald Horace. “O Haiku”, 4 volumes: 1 -
Spring, 2 - Summer, 3 – Autumn e 4 – Winter, english language, livro importado
dos Estados Unidos;
CAMPOS, Haroldo de. “A Arte no Horizonte do Provável”,
Coleção Debates 16, crítica, 237 páginas, editora Perspectiva, 4ª edição, 1969,
1977;
PAZ, Octavio. “Signos em Rotação”, Coleção Debates
48, tradução de Sebastião Uchoa Leite, 320 páginas, 3ª edição, 4ª reimpressão, editora
Perspectiva, 2012;
Clique e acesse a apresentação “Oku
no Hosomichi - Matsuó Bashô - Senda de Oku”, de Semillas de Bambu no You Tube:
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