MITO E
REALIDADE
Mircea
Eliade
Coleção Debates Volume 52
182 Páginas
3ª Edição
Editora Perspectiva
1991
O livro Mito e Realidade, de Mircea Eliade
(1907-1986), professor, cientista de religiões, mitólogo, filósofo e romancista
romeno, tem o propósito de esclarecer, em sentido mais amplo, o que é e qual a
importância do mito nas sociedades. Ao tentar definir mito sua intenção desarma
o preconceito do leitor, a fim de passar com clareza a necessidade da
existência de mitos em todas e qualquer cultura.
Seu discurso atinge
leitores de diferentes sociedades, mas não de diferentes classes sociais, o que
exige um mínimo de conhecimento de sociologia para entender a real intenção do
filósofo. Embora esclareça que o objeto de seu estudo sejam as sociedades
primitivas, o texto acaba afastando a real ideia de mito, pois os mitos ali
tratados são, sobretudo, de sociedades mais distantes. É interessante que o
indivíduo pense no peso do mito no seu próprio grupo para assim se colocar no lugar
de outras comunidades, compreendendo sua razão, e que os conceitos de fábula e
mito fiquem a cargo do próprio leitor, que compare a visão de Eliade com a de
outros autores, decidindo por si só como diferenciar fábula e mito de modo mais
correto. Para tornar a obra Mito e Realidade
ainda mais completa, seria enriquecedor adicionar as pesquisas de Sigmund Freud
(1856-1939), médico neurologista e criador da psicanálise, e Joseph Campbell
(1904-1987), estudioso norte-americano de mitologia e religião.
Freud comenta a
relação do inconsciente com a criação dos mitos, de forma que acentua a ideia
de que nascem por motivos que vão além de explanar as questões sobre o
surgimento de tudo. O mito nasce como forma de explicar e até naturalizar
alguns comportamentos humanos ligados ao inconsciente, por exemplo, o de Édipo,
em que um filho se apaixona pela mãe. Para Freud, a história de Édipo está além
de uma fábula, o que seria chamado posteriormente de Complexo de Édipo, era na verdade a manifestação do desejo no
inconsciente humano. Mircea Eliade deduz que o mito pode ser encarado de
múltiplas formas, em várias interpretações, basta defini-lo: como uma coisa foi
produzida, como começou a existir...”, diante de tal reflexão se deve aceitar
as definições de que a história de Édipo explica o nascimento do complexo, seja encarada como mito.
No século 19, mito
era sinônimo de ficção e fábula, conceito esse que os ocidentais aplicavam com
a finalidade de subjulgar a cultura, principalmente, religiosa de um povo e
justificar o domínio da Europa sobre suas colônias. No entanto, esse conceito
mudou e, na atualidade, o mito é encarado como histórias verdadeiras, apoiadas
em Seres Sobrenaturais, que
conceituam a criação do mundo e cria premissas quanto ao fim da humanidade.
Esses mitos são apoiados em sonhos e experiências não científicas que
determinam o comportamento de certo grupo diante de variadas situações. Além de
fornecer uma ideia quanto ao sobrenatural, eles são importantes na formação do
caráter e da moral das sociedades, funcionando como modelos da conduta humana.
Portanto, os mitos
não devem ser encarados como característica de uma cultura inferior ou de povos
selvagens, diversos relatos fantásticos estão presentes em nosso cotidiano e a
maioria daqueles que são raízes da nossa cultura são encarados como verdades
universais sem sequer nos darmos conta de que todos os mitos possuem uma só
essência e nenhum deles é cientificamente provado.
Para Mircea Eliade,
mais do que estudar cada mito como uma história isolada, torna-se importante
estudarmos os efeitos destes em cada grupo social, sendo seu principal objeto
as sociedades em que o mito permanece vivo,
ou seja, praticável e que se refez, adaptou durante os anos sem ser esquecido.
Diante disso, não seria recomendável começar o trabalho por mitos greco-romanos
que não se adaptaram com o tempo, e hoje são encarados como fábulas, mas
estudar mitos que se enriqueceram no decorrer dos séculos e persistem
explicando os fenômenos, o comportamento e a atividade do homem até hoje.
Exemplos desses mitos são encontrados principalmente na África, Ásia e Oceania
e são chamados de mitologias primitivas.
O tempo no mito é relativo,
ele não está ligado a calendários humanos, trata-se de um tempo sagrado que
pode ser recuperado e revivido através dos ritos. Um ritual revive momentos históricos
importantes em que os entes sobrenaturais ou ainda os ancestrais obtiveram
sucesso, de forma que invocando esse momento também haja sucesso naquela
guerra, cura ou nascimento de uma criança. Nota-se que os mitos têm importância
vital para a humanidade, pois nascem na hora do desespero humano, a fim de
confortar toda uma sociedade em seus momentos mais difíceis, consolando-a na
derrota e a encorajando na luta.
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