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Mostrando postagens de 2024

O arqueiro, as flechas e o canteiro

  Um convicto jardineiro de poemas. Entrega-se aos acasos para poder vislumbrar detalhes ou cenas quaisquer, donde se depreendesse o sinal possível, espiralado, que permite o estirar de uma frase natural. O poeta sempre atento na ponta dos olhos, aceita a emendar palavra com palavra em meio à limpeza das mesas poéticas; não quer a poesia remediada, de tato virtual, nem a fria plumagem da língua. Prefere o exercício diário na sua residência ou nas ruas e avenidas. Colhe as coisas nas estrelas e tenta tocar suas mãos ansiosas no girassol em chamas, o sol, revira a natureza, os olhos sob as fases da lua. Quanto mais se distancia do cotidiano corriqueiro e letárgico, sorve melhor a atenção dos encontros. Gosta de viajar para longe, bem longe, até que o cansaço o faz surpreender-se com a imagem solitária de um tronco de árvore ou com os rabiscos de um muro que circunda um terreno baldio lotado de entulhos. Joilson Portocalvo, o arqueiro poeta em Quintal do meu coração , de olhos a...

Compulsão e sem prazer

  Dentre as formas prazerosas contemporâneas se destaca o prazer de deleitar no beber e no comer, como uma das maneiras de driblar ou escapar do mal-estar na cultura. Além de estar associada à qualidade de vida, condição de saúde e beleza, a alimentação tem despertado o interesse acadêmico, resultando em número crescente de publicações sobre os hábitos alimentares e os rituais a eles relacionados. Presentes nos momentos mais marcantes da vida em sociedade, estes hábitos e rituais permitem compreender melhor padrões de culturas e mentalidades como instrumentos de comunicação, metáforas de afeto, necessidades de pertencer e expressão de identidade. Na última década do século 20, a comida e a bebida abriram portas para novos desejos, profissões, objetos de consumo, formas de relacionamentos, cerimônias de agregação, obras literárias e cinematográficas. Tornou-se cada vez mais evidente que, sob o domínio da linguagem, o comportamento de se saborear extrapola o âmbito da necessidade e...

Marca do passado

Há uma velhíssima tradição escrita que cultua o ato humano de comer. Esse ato, por mais individual que pareça ou por mais solitário que possa ser numa dada circunstância, esse ato é social e, vincado à natureza, tem caráter cultural. Ato, assim, da natureza viva e vivente, e da cultura exercida sobre a natureza e os homens entre si. Cozinhar, entretanto, é uma ação de caráter cultural, que nos liga sempre ao que fomos, somos e seremos, com o que produzimos, cremos, projetamos, sonhamos, gozamos. Toda cozinha tem a marca do passado, da história da sociedade, do povo, da nação a que pertence. Os leitores saberão a razão da cena envolvendo comidas e bebidas sob os olhares dos escritores, entre outras reflexões, que integram o livro de ensaios “A literatura na degustação,” de Rubens Shirassu Júnior. Você pode encomendar o livro pelo link abaixo da Editora Escola Cidadã: https://www.editoraescolacidada.com.br/2024/07/pre-vendas-literatura-na-degustacao.html     ...

Formação do nosso paladar

No livro A literatura na degustação , de Rubens Shirassu Júnior, serão determinantes as narrativas que falam de receitas recolhidas, vindas provavelmente de tempos longínquos, depositados nos vãos da Memória Cultural, entendendo-a como um campo de negociações culturais através dos quais diferentes narrativas compõem seu lugar na história. É sobre essas narrativas contadas e recolhidas pela Literatura Contemporânea enquanto patrimônio e linguagem, que o escritor e o ensaísta de Presidente Prudente, São Paulo, discorre. Por isso, da maior importância ressaltar a relevância da obra do folclorista e etnólogo Câmara Cascudo (2004), o qual realizou uma pesquisa profunda sobre as práticas culinárias no Brasil, seu livro “História da Alimentação no Brasil” . O autor não faz, neste livro, apenas um levantamento etnográfico, mas também organiza um panorama da história literária sobre o assunto. A obra de Câmara Cascudo (2004) possui um valor fundamental para esta pesquisa, visto que o autor faz ...

Culinária de sentidos: corpo e memória

  Os textos de escritores que relacionam literatura e culinária levou Rubens Shirassu Júnior a fazer uma reflexão sobre a Memória dos Sentidos dentro de um espaço específico, a cozinha, entendida como um lugar de rito que transfigura os corpos. A partir desse recorte, no livro A literatura na degustação, o escritor procura relacionar a representação do feminino, do corpo na cozinha e na confecção do alimento, nos textos de autoras femininas incorporadas ao corpo desse trabalho, são elas: Rachel de Queiroz, Cora Coralina, Adélia Prado, Heloísa Helena, Márcia Frazão , da mexicana Laura Esquivel e da chilena Isabel Allende , percebendo as diferenças escriturais na maneira de construir o corpo a partir da relação com a culinária, pois os hábitos alimentares são como textos que narram a história de constituição de um grupo. Entre os escritores: Eça de Queirós, Gilberto Freyre, Homero, Jorge Amado, Machado de Assis, Marcel Proust, Rubem Braga, Thomas Mann, William Shakespeare etc. ...

Magia de degustar

Alina Sokolov * Há uma velhíssima tradição escrita que cultua o ato humano de comer. Esse ato, por mais individual que pareça ou por mais solitário que possa ser numa dada circunstância, esse ato é social e, vincado à natureza, tem caráter cultural. Ato, assim, da natureza viva e vivente, e da cultura exercida sobre a natureza e os homens entre si. Cozinhar, entretanto, é uma ação de caráter cultural, que nos liga sempre ao que fomos, somos e seremos, com o que produzimos, cremos, projetamos, sonhamos, gozamos. Toda cozinha tem a marca do passado, da história da sociedade, do povo, da nação a que pertence. Por esse motivo, as grandes cozinhas "nacionais" – a chinesa, a japonesa, a francesa ou a coreana, por exemplo - não são importantes porque nelas uma parte da China, do Japão, da França ou da Coreia tenha imposto seu estilo culinário ao resto do país. Ao contrário, são grandes, importantes e apetentes, porque incorporaram e somaram os achados gastronômicos de todos os s...

Perfis históricos e escritores interioranos

  A revista literária Chico´s Cataletras, número 76, de setembro de 2024, de Cataguases, Minas Gerais, publicou o poema inédito “(Re)trato im(Prudente),” de Rubens Shirassu Júnior, de Presidente Prudente, na página 65 e a resenha “Sabores no corpo da memória,” sobre seu livro de ensaios “A literatura na degustação,” na página 79. A linha editorial da publicação com temática livre, inclui poemas, contos, crônicas, resenhas, anúncios de eventos, e na seção “Detalhes”, divulga concursos literários, lançamentos de livros, palestras etc. Destacam-se na publicação a tradução do poema “Eldorado – 1849,” de Edgar Allan Poe por Emerson Teixeira Cardoso (pág. 27) o perfil histórico e artístico do multiartista plástico Pury (pág. 9), autor da escultura “Mandala”, que ilustra a capa desta edição, “A literatura fora dos grandes centros,” de Hugo Pontes (pág. 74), “Cooperativa de poetas 40 anos,” de Cadu Cardoso (pág. 77). Tradição cultural Cataguases evidencia-se por ser uma cidade mode...

(Re) trato (im) Prudente

  Terminal rodoviário de Presidente Prudente   Lona imperfeita de eus em meus em multidão plantada em hastes, colinas amplas com topos suaves e ondulados: cidade inventada a cada pessoa.   Teus homens, mulheres e moribundos vestem a roupa rústica das manhãs à noite despertam os calçados da tarde ora com nuvens, ora sem elas.   Levam às ruas o coração fechado enquanto os olhares usurpam cores das feias calçadas fora de nível à quimera das vitrines atados estamos ao preço das coisas.   E a matéria vivida coexiste calada nos cômodos das mesmas casas soma de tantos gestos e sentenças manchas úmidas nas paredes gastas.   Quantos insones atravessam a tua noite acionam os remos largos da madrugada e no amanhecer fecham os olhos cansados, indiferentes à altivez dos edifícios.   Na praça da rodoviária aparecem as primeiras crianças – as que se interessam pela terra acreditam na sombra das árvores e acolhem faceiras a luz deste dia.   Com nenhuma cor retida...

Como folia carnavalesca

  A humanidade não pára de se divertir com grandes pileques tomados, subvertendo a ordem natural das coisas e colocando na árida rotina do cotidiano um pouco de lirismo, humor e poesia, e matéria-prima da vida simples, divertida, lírica, calma, de uma turma solidária, que sabia, principalmente, viver as coisas boas e, em certos momentos, refletir sobre o contexto que vivenciavam. Em 1980, ao chegarem no bar da Unesp, as pessoas saiam da gravidade burocrática, atiravam a máscara fora e passavam várias horas dizendo bobagens, xingando aqui, pagando rodadas de cervejas, cantando acolá. Não éramos mais a disciplina, a correção, a lei, o regulamento, éramos os coristas inebriados pela alegria de viver. Evoé, Baco! Como a folia carnavalesca, o grande burburinho dos frequentadores do bar da Unesp é que nos tirava do espírito as grandes preocupações da nossa árdua vida. Delicioso esquecimento! Bar é vício. Feito paquerar a cunhada, passar a mão na mulher do amigo, beijar no elevador a ...

Colcha de retalhos

  Falar sobre Literatura, Degustação e Culinária exige faca afiada e corte certeiro, tarefa não muito fácil para alguém que inicia pelo caminho da técnica. Rubens Shirassu Júnior em seu livro A literatura na degustação optou, desse modo, dar às reflexões o formato de uma colcha de retalhos. E, nesse ponto, delinea aquilo que é central na expressão “colcha de retalhos”. A concepção de “colcha de retalhos” veio a partir do filme intitulado “Patchwork” (1995), protagonizado por Winona Ryder que, na história, está elaborando sua tese de doutorado. Eis a sinopse: Mãe e amigas decidem bordar uma colcha para uma jovem indecisa frente ao casamento, uma colcha de casamento, seguindo a tradição. Enquanto constróem o bordado, vão resgatando episódios passados de suas vidas, resolvendo velhas pendências. Quando a colcha fica pronta, nada mais é como antes. Porque antes de tudo, esse termo possui uma feição estética, e é essa que pretendo fazer migrar para a formatação das escritas críticas....

Arte milenar de celebrar

    O ato de cozinhar nos torna humanos? “Culturalmente falando, sim, nos torna humanos, pois representa memórias afetivas do passado, da infância, de trocas e de momentos importantes da vida, como cozinhar para os amigos e familiares. Por meio desse ato, reunidos ao redor de uma mesa farta, que nos acolhe e nos aproxima. Cozinhar modifica as estruturas físicas dos alimentos, transforma o que era um ingrediente em um produto final, compartilhar conhecimentos, técnicas e receitas”, define Rubens Shirassu Júnior, escritor, pesquisador e autor do livro de ensaios A Literatura na degustação .  O ensaísta destaca que “aprender a cozinhar pode modificar a percepção que as pessoas têm dos alimentos e seus produtos finais”, comenta. Se em outras gerações a habilidade em dominar a cozinha era parte da formação, ainda que só da mulher (mas isso é outra história), com o passar dos anos a sociedade adotou o já desgastado ditado “descasca cada vez menos e desembala muito mais”. A c...

Performatividade e feminilidade

  A análise de Rubens Shirassu Júnior flui como um rio, procurando entender a relação entre culinária e narração em observância ao corpo feminino, entendendo essa categoria, o corpo enquanto espaço ativo, em ação e mutação constantes, que se desdobra. Nos ensaios que compõe A literatura na degustação , a memória entra em foco, no sentido de que esses corpos narram e reinterpretam a sua posição no mundo, em diálogo com o fazer culinário e com a prática narrativa. Por isso, o autor recorre à “performatividade” como forma de perceber a ação e a reação desses corpos no tempo e no espaço da narrativa. O sentido de “performatividade” que os leitores vão saborear durante a leitura da obra. No que demonstra as dimensões artística e antropológica, cuja ligadura se faz por meio do discurso desencadeado pelos agentes sociais, que se personificam no âmbito literário e no vivido. Como argumenta o ensaísta, o corpo se performatiza na relação trinômia entre o ato de escrever, cozinhar e amar, ...

Formação do nosso paladar

    No livro de ensaios A literatura na degustação , de Rubens Shirassu Júnior, serão determinantes as narrativas que falam de receitas recolhidas, vindas provavelmente de tempos longínquos, depositados nos vãos da Memória Cultural, entendendo-a como um campo de negociações culturais através dos quais diferentes narrativas compõem seu lugar na história. É sobre essas narrativas contadas e recolhidas pela Literatura Contemporânea enquanto patrimônio e linguagem, que Rubens Shirassu Júnior, escritor e ensaísta, discorre. Por isso, da maior importância ressaltar a relevância da obra do folclorista e etnólogo Câmara Cascudo, o qual realizou uma pesquisa profunda sobre as práticas culinárias no Brasil. O ensaísta no livro A literatura na degustação não faz apenas um levantamento etnográfico, mas também organiza um panorama da história literária sobre o assunto. A obra de Câmara Cascudo (2004) possui um valor fundamental para esta pesquisa, visto que o autor faz o resgate n...

Cultura na cozinha

  O estudante de Gastronomia aprende também sobre ferramentas de gestão e controle, os aspectos históricos e culturais da alimentação, pertencentes às áreas de Sociologia, Antropologia, Psicologia, entre outras coisas, incluindo o acompanhamento desse setor que não para de inovar! Assim, além de aptidão, grande interesse por pesquisa e empenho, os apreciadores e estudantes de gastronomia devem assistir palestras e workshops durante a formação. Dentro desta iniciação, se torna essencial a leitura do livro A literatura na degustação , de Rubens Shirassu Júnior, onde os estudantes terão a oportunidade de aumentar o cabedal sobre os hábitos e costumes alimentares das regiões norte, nordeste do Brasil e parte da Europa. O que favorece o compartilhamento de experiências e, claro, de fundamental importância iniciar a construção de um banco de dados e o network na área. VOCÊ COMPRA O LIVRO NO SITE: www.editoraescolacidada.com.br

Como se comemora na literatura

              A literatura na degustação é o tema do livro de Rubens Shirassu Júnior, escritor, pesquisador e ensaísta. Dessa pauta inocente podem-se extrair interessantes lições. A mudança nos paladares e cardápios acompanhou, mantidas as proporções, profundas transformações históricas. Você encontra o livro no site: www.editoraescolacidada.com.br  

Faces da cozinha na literatura

    Um livro, muitas vezes, nasce como uma flor. Ou um apetente prato para cuja elaboração é indispensável amor, carinho e muita atenção. A literatura na degustação , um ensaio aberto e disponível a todos os deuses e mortais que apreciam a boa mesa, nasceu assim. Era preciso publicar algo que ilustrasse e defendesse a nossa cozinha. Que a mostrasse com todas as suas virtudes, prazeres e inesgotável criatividade, no escolher, no fazer e no degustar, antes, durante e depois... Por outro lado, que também a comparasse aos manuais e as memórias gustativas de autoras como Laura Esquivel, do México, e Isabel Allende, do Chile. Rubens Shirassu Júnior desde 2018 pesquisou, refletiu e encontrou a melhor forma de apresentar este livro. Ele ficou pronto. E representa a continuação de um esforço, e esse esforço não vai se limitar apenas a dois ou três livros. Outros virão. Pretende revelar o Brasil para nós mesmos. E para os outros países. Mostrar a flora. A fauna. A imensidão amaz...

Sabores no corpo da memória

  Quantas toneladas de comida e bebida já foram consumidas na história da literatura? Quantas ceias, saraus e banquetes, quantos petits déjeuners , piqueniques e monumentais bebedeiras já foram tematizadas pelos grandes escritores? De Homero a Tom Wolfe, passando por Rabelais e pelo século XIX (Honoré de Balzac, Gustav Flaubert, Guy de Maupassant, Eça de Queirós, Machado de Assis), até chegar aos clássicos contemporâneos (Marcel Proust, James Joyce, Louis-Ferdinand Céline), a grande literatura tem muito de uma história de celebrações. Desse tema inocente podem-se extrair interessantes lições. A mudança nos paladares e cardápios acompanhou, mantidas as proporções, profundas transformações históricas. Se a leitura já é, em si mesma, um ato de degustação, a degustação nos grandes livros nunca é gratuita. Em Jorge Amado o prazer em preparar os pratos para sedução nos romances Gabriela, Cravo, e Canela e Dona Flor e seus dois maridos e as recordações gustativas de algumas crônic...

Imprensa e literatura em convergência (3)

  (Terceira parte) O espaço da crítica literária na imprensa Nas décadas seguintes, consolidou-se o que a Teoria Crítica chamou de “cultura de massas”, e, em paralelo a isso, ocorre uma mudança no perfil da crítica literária no Brasil. De acordo com Süssekind (2003), entre os anos 1940 e 1950, havia a chamada “crítica de rodapé”, feita por bacharéis não especializados. Aos poucos, outro modelo de crítica ganha espaço: a universitária, ocasionando uma substituição do rodapé pela cátedra, ou seja, passando a palavra (e o poder) para aqueles com aprendizado técnico, os críticos-professores. Dessa forma, os anos 1960 a 1970 foram anos academicistas, o que fez a crítica manter-se autoconfinada ao campus universitário, pois houve redução do espaço jornalístico destinado a ela, culminando assim na dificuldade de circulação dessa produção acadêmica. Mais tarde, nos anos 1980, com o crescimento do mercado editorial, estimulou-se uma nova ampliação do espaço para a literatura na impren...

Imprensa e literatura em convergência (2)

  (Segunda parte) A relação que se estabelece entre jornalismo e literatura, permeada por dicotomias como dinheiro versus arte, e realidade versus ficção, precisa ser analisada com outros olhos. Nos meios acadêmicos, há um discurso fundador da literatura internalizado que separa a arte literária da produção textual remunerada, considerando aquela menos artística por isso. Nas palavras de Lajolo & Zilberman (2001, p. 71): “Na tradição dos Estudos Literários, não é de bom tom misturar questões de dinheiro com literatura, apagando-se o caráter econômico das atividades culturais”. O apagamento desse caráter econômico, entretanto, resulta em perdas significativas para uma pesquisa dedicada ao estudo da relação entre esses tipos de escrito, pois se deve levar em consideração que, por muito tempo, o jornalismo foi um refúgio para os escritores que não conseguiam se sustentar com a literatura. Dessa forma, cair no simples maniqueísmo do que é bom ou ruim, de arte pura ou comprada, ...