Em 1972, "A Grande Família", primeira comédia
de costumes, de Oduvaldo Vianna Filho, na Rede Globo
Pode-se
festar no final e ano novo de várias maneiras. Sozinho, com amigos e amigas ou
com a família. Ir para a praia, na casa dos outros, de parentes, ou festa de
reconciliação matrimonial.
Em qualquer das situações acima, não
tenha dúvida, você fica empanzinado e louco de raiva. Tem sempre uns
engraçadinhos nestas festas. Aquele que logo vira o líder da turma. Aquele
mesmo que puxa um violão e começa a cantar o “Trem das Onze.”
Você passa rápido sem fazer parada
nas mesas. Cansa, o sapato aperta e a saudade dói.
E o esporro que as crianças estão
fazendo na sala, correndo e chutando o seu calcanhar, em volta da televisão
ligada com chuvisco.
Não existe nada pior do que passar o
Natal e Ano Novo na casa dos outros. Claro, você nunca vai se sentir em casa.
Nunca, por mais que a anfitriã diga:
- A casa é sua. É pequena, mas o
coração é grande! Mentira.
Você tem que entrar no horário deles,
comer na hora certa, fazer as suas necessidades idem. Você tenta colaborar.
Acorda e arruma a cama. O pior é que
depois você volta ao quarto e percebe que a cama foi rearrumada. Cada casa
arruma a cama de um jeito.
Você não pode se fartar de carne no
espeto. O que a família não vai pensar? E aquele cheiro que ficou no banheiro
no outro dia, de manhã? Como disfarçar?
O pior é que eu tenho certeza que
você esqueceu de levar lençóis e toalhas. E era para levar. A dona da casa, a
sua sogra, educada, não fala nada. Mas olha.
E quando uma beata da família quer
ver a Missa do Galo e os pirralhos ver aqueles feiosos dos Simpsons?
O pior é que você detesta baralho e
tem que ficar jogando buraco até as duas da manhã, tomando cafezinho!
Não faz mal, toma semancol!
E as fofocas sobre as conhecidas que
ainda não casaram? Sem contar aquela tia viúva que ralha com as crianças que
mexem nas coisinhas dela?
E o bolo que a sua mulher resolve
fazer na última hora para “adocicar” aquele cunhado bêbado, metido a tarado e, impávido
colosso, que sempre fica martelando sobre as manias de sua “sogrinha.”
Soca maionese no povo!
Não faz mal, toma semancol!
Existem sogras piedosas que acham
que isso dá certo. Não é que dita a experiência. Casal nunca se reconcilia em
Natal e Ano Novo. Muito pelo contrário. Afinal, brigar lá fora é muito melhor,
porque ninguém entende a baixaria.
Não faz mal, toma semancol!
( Páginas 16 e 17, do
livro “Novas de Macho na Cozinha e Outros Ingredientes II”, Crônicas, 244
Páginas, 2ª Edição, Editora Clube de Autores, São Paulo, 2012. )
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