Essas vozes, quando juntas, sussurram
uns nos outros amparados
nesses diálogos inexpressivos,
como pés de ratos sobre cacos.
Os que atravessam
de olhos retos, para outro reino
uma fôrma sem forma, sombra paralisada
gesto sem vigor; os olhos são como a lâmina
do sol nos ossos de uma coluna de tédio
neste encontro derradeiro
com o manancial morto
oscilando entre a vida e a morte,
vi-me na outra margem do rio enegrecido.
Aqui, na superfície,
o eco redivivo de contenda vil
é um rosto que, ao chorar, transpira?
Aqui, as imagens de pedra
estão eretas, recebem a súplica
da mão de um morto
sob o lampejo de uma estrela
agonizante, distante e solene.
E nisto consiste
o reino crepuscular
do vento que não canta
lá, onde as árvores não têm ramos
que eu possa trajar no reino do sono
pele de rato, plumas de urubu,
travesseiro do sono profundo
de almas danadas e pesadas,
rezam as pedras quebradas
no último sítio desvalido,
o encontro nas terras do túrgido rio
tateando, sem nada ver, a não ser
a figueira-brava.
Entre o reino do sono
e a realidade
às cinco em ponto da madrugada
tomba a sombra sem cor
de criaturas vazias.
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