Discutíamos o nada e o tudo.
Fiquei na completa
intradução
Certa vez,
escrevi uma crônica/confissão para meu anjo-da-guarda, dizendo de sua grande
paciência em ouvir e me compreender. Ouço sempre histórias autênticas de
pessoas salvas sob as asas protetoras desses nossos amigos invisíveis.
Hoje,
leitoras e leitores, gostaria mais ainda de escrever que choveram anjos na sua
horta depois da crônica. Anjo-da-guarda é papo quente. Se bem que alguns são
meio vadios e nem sempre cumprem horário integral.
Não resisto à angelical tentação de
descrever o perfil de Caio Fernando Abreu, uma imagem meio epifânica. Quando
ele esteve em Presidente Prudente convidado para participar da bienal do livro,
conversamos um pouco numa mesa tomando “água mineral”. Depois teve um show instrumental
com todas aquelas luzes.
Falou mais sobre a sua adaptação de
“O Marinheiro”, de Fernando Pessoa, para o teatro, do que olhar os
acontecimentos da feira de livros. Lembro-me dizer que adorava Virginia Woolf.
Olha como um estranho estrangeiro que chega na terra desconhecida. Era um
“mutante” na linda definição de Lygia Fagundes Telles, amiga e companheira dele
há tantos anos.
Discutíamos o nada e o tudo. Fiquei
na completa intradução. Aliás, poucas pessoas tornavam-se amigas do Caio F. As
pessoas ficavam curiosas em decifrar aquela sua aura de mistério. Que coisa
interessante! Que cabeça! E aqueles olhos ternos e enigmáticos? Nada mais
único.
O Caio tinha cara de santo, de anjo,
de Dom Quixote.
Não foi a doença que o deixou tão
magro. Quando ela chegou, ele já não tinha mais o que emagrecer.
No meio de luzes entrecortadas, vi o
Caio sair do salão e passar por mim pela última vez, iluminado de branco, com
uns lampejos de luz em torno da sua cabeça. Sumiu como um anjo sem trombeta.
Sabia que nunca mais o veria.
(Para encontrar esta crônica
publicada no item “Busca Autores”, em baixo, do lado direito do site, clique em
Prosador, em seguida, Nacionalidade: Brasileiro. Autor: Digite Rubens Shirassu
Júnior, em “Tipo: você clica em Contemporâneo” e, por último, no “Busca Autor”
do Portal Blocos Online, de Leila Míccolis e Urhacy Faustino, de Maricá, no Rio
de Janeiro.)
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direto na página do Portal Blocos Online:
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