Entrevista
Carlos Maltz:
“O PAPO É POP”
O livro é uma tentativa de recriar os diálogos reais que aconteciam na comunidade
Primeiro baterista e fundador da banda Engenheiros do Hawaii, onde participou dos mais importantes discos da banda de 1986 a 1996. Construiu o projeto A Irmandade, onde gravou dois CDs (Irmandade e Anjos de Metal). Com a Irmandade, emplacou sucessos como a música "Depois de Nós", que foi regravada no Acústico MTV Engenheiros do Hawaii. Faz participações especiais em shows dos Engenheiros do Hawaii, do duo Pouca Vogal e apresentações duo violões com Marcus Melgar. Seu único álbum solo é “Farinha do mesmo saco” onde iniciou o discurso que o levou a fundar a comunidade virtual chamada "Com-Unidade-1-Manos", os diálogos e a diversidade de pensamentos que motivaram Maltz a escrever o livro, conforme os leitores verão na entrevista que concedeu ao blog. Produziu o primeiro álbum "Conversão Perigosa à Esquerda" da banda curitibana Esquerda Volver.
Atualmente, mora em Brasília e tem ligações com a UDV - União do Vegetal, além de ser astrólogo, psicólogo junguiano e escritor. Lançou seu primeiro livro: Abilolado Mundo Novo, pela editora Via Lettera em 27 de novembro último, na Livraria Cultura do Shopping Casa Park, em Brasília. Ao mesmo tempo, inicia a Abilolada Tour 2010 com Pocket Shows ao lado de Marcus Melgar, palestras, bate-papos interativos, exposições, leituras e apresentação de seu livro.
1- Você foi ou é ainda um leitor voraz de histórias em quadrinhos por pertencer ao mundo pop, ou sempre ouvindo e estudando música e literatura em geral?
Eu nunca fui leitor de histórias em quadrinhos. Minha aproximação ao mundo pop sempre se deu pela música. Nunca li por entretenimento, sempre para aprender alguma coisa. Sou muito utilitarista quanto a leituras... Aliás, sou muito utilitarista em geral, nunca pensei que diversão fosse algo importante...
2 – Quais os autores do gênero ficção científica que são as suas referências literárias? Qual deles você mais admira e teve influência(s)?
Também nunca li ficção científica... Li Huxley, que considero um visionário, e não um autor de ficção científica...
3 - Além da sua visível alusão ao “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, você acredita que a sociedade, a família e os meios de comunicação criam “neuróticos”, indivíduos egoístas, consumistas medíocres,vazios, etc.?
Bem, não sei se a sociedade cria... Nem sei se o Huxley pensava dessa maneira... O que é uma sociedade? Um monte de indivíduos juntos... Se eu disser que a sociedade cria, o indivíduo fica colocado em um lugar de vítima, e eu não vejo dessa forma... Quem cria as sociedades medíocres, consumistas e vazias são os indivíduos medíocres, consumistas e vazios, ou seja: nós mesmos...
4 - No livro, percebe-se a fluência, sua maneira muito agradável e despojada de escrever, sem ranços acadêmicos e posturas intelectuais, o enfoque principal seria o mundo do abilolado, ou o novo mundo abilolado com doses divertidas de ironia e sarcasmo?
Bem, muito grato pelas palavras amigas... O enfoque principal é o fim DE um mundo, e o começo de UM outro... Abilolados, estamos todos nós, nessa esquina do tempo em que nos encontramos... Abilolados, abestalhados... Sem Pai nem Mãe, nem nada... Zumbís sem sonhos... nem mitos vivos... Viciados em anestesia... Nos consumindo a nós mesmos num materialismo covarde e ateu... Fugindo do amor que nem o diabo foge da cruz... Ajoelhados diante de nossos maiores deuses: o antidepressívo e o Viagra... Ironia e sarcasmo são o antídoto... prá gente não ficar doido de vez...
5 – Todos os ídolos, produtos e a linguagem que pertencem ao universo “pop” você incluiu na ficção?
Bem... procurei traduzir da forma mais fiel possível, o que realmente acontecia na COM-UNIDADE-1-MANOS... Que foi uma comunidade de discussão que eu mantive durante uns três anos... O livro nasceu dali... Diálogos incríveis entre pessoas com compreensões muito diferentes... O que é uma coisa rara de se ver... Geralmente, só os iguais conversam entre sí... Mas isso não é diálogo, é monólogo de dois... Que é uma coisa bem diferente... Eu gosto é do diálogo... DUAL-LOGOS... Um conhecimento que nasce do encontro, onde a resultante é maior do que a soma das partes... O livro é uma tentativa de recriar os diálogos reais que aconteciam na comunidade... Pura Filosofia-pop... O papo é pop...
6 – Antes de se tornar músico profissional, quais eram os cantores e bandas que formavam a sua discoteca básica?
Pink Floyd, Led Zeppelin e Zé Ramalho.
7 – E os grandes bateristas, sejam de jazz, blues, fusion e rock na sua opinião?
Neil Peart (Rush), John Bonham (Zeppelin), Jeff Porcaro (Toto), Steward Coppeland (The Police) e mais recentemente, o Alex “animal” Gonzales do Maná...
8 – Dentre os brasileiros, você poderia citar qual (ou quais) baterista(s)?
João Barone, do grupo Os Paralamas do Sucesso.
9 – Você acredita que neste mundo de espetáculos em HD, banalização das artes e perdas da identidade e individualidade, a literatura ainda pode causar alguma reação?
Bem, se eu não acreditasse nisso, não perderia o meu tempo escrevendo um livro... Talvez, a literatura seja a forma de arte mais capaz de causar algum tipo de reação, pois ela não entrega tudo mastigadinho, exige uma participação do leitor... Tem um tempo de solidão e meditação na literatura, que as tralhas eletrônicas não possibilitam... O leitor dialoga com o autor... E o diálogo é inteligente, não é aquele massacre da “cultura” de massas... Que cria abilolados passivos... Admirável gado novo... Como diria o Zé Ramalho.
Discografia (Carreira Solo)
A Irmandade Interplanetária, 1996
Anjos de Metal, 1997
Farinha do Mesmo Saco, 2002
http://www.carlosmaltz.com.br/blog/
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