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Mostrando postagens de abril, 2014

Um Clarão nos Olhos de Ressaca

            Na noite de autógrafos, em que a muito custo tento equilibrar todos os motivos de agir e de cruzar os braços e pernas, de insistir e agitar-me, fico quieto, neutro e entrelaçado no bate-papo digestivo - foi então que aconteceu.             Eu conversava ansioso e com desejo - no fundo do coração a esperança humilde como ave doméstica - eu me balançava como uma onda que vem e vai, e já teve noites de tormenta e madrugadas de seda, e dias vividos com todos os nervos e com toda a alma, e charnecas de tédio atravessadas com a longa paciência dos pobres - como um homem que quer se integrar a alguma cidade, um estrangeiro, e me sentia naquele diálogo como aquele que se vê nos cartões-postais, de longe, dobrando uma esquina – trafegava, portanto, extremamente sem importância, mas tendo em mim a força da renovação e na linha de um novo horizonte, uma paisagem marinha para repousar a alma.             Na medida da via, como um homem de vinte e nove

Roda ao Redor III

A Família do Pintor de Giorgio de Chirico Conta as voltas da hélice do ventilador, contempla o teto e ouve os barulhos da rua              Vai reconhecendo sua casa. Na verdade, conhecendo, descobrindo. As gavetas dos armários, de cedro, perfumadas. Os papéis acumulados em escrivaninhas, apesar da recomendação dela de jogar logo fora. Há quantos anos não tiro nada das gavetas? Só coloco, coloco, coloco e coloco. A memória de minha vida.             Que vida? Esta memória nunca consultada que vai ser atirada ao lixo, assim que morrer. Que é nada na ordem das coisas. Papéis, fotos, contas e anotações. Que importância têm? Documentos do quê? De um homem comum. Ora, a história jamais se interessou pelo homem comum. E por que havia de?             Lembranças. A ternura ressurge numa foto em preto e branco a mão. E os galos ainda existem, porém continuam cantando das 16 horas em diante. Vendo esse retrato sente-se só. Posto que

Roda ao Redor II

Os momentos em que determinamos as transformações  através de um gesto, ou a falta deste,  palavra ou pensamento, sem ter  a consciência desta determinação            Hoje, estive relando as matérias sobre a deterioração dos arquivos de jornais antigos no Museu Histórico. Esbocei algumas cenas para um filme sobre o descaso, a violência e o problema da falta de preservar a memória. Estes temas fascinam-me, porque jamais entraram em minha vida, conheço todos: Eu me refiro à violência e à morte. Não à violência que é só o arrebatamento de situações, uma dor interna. Pode-se pensar que os funcionários do museu não têm equipamento e estrutura para conservar e manter o arquivo. Ou por falta de mão-de-obra qualificada. Uma questão que envolve também falta de cultura, educação e vontade política.             A história morrer assim, sem que ao menos as novas gerações conheçam a história da imprensa, que saibam da sua identidade,

O Golfinho

O golfinho nada mais que peixe e sardinha em sua pesca submarina. Pode ser para vislumbrar o segredo dos oceanos, que a torpeza do dia camufla de sonhar, de contemplar. Talvez a sensação de travessia dos dois mundos e dos hemisférios. O golfinho, em suas impressões claras do escuro contido nos barcos e navios, as âncoras da vil matéria, desamarra para unir aos mistérios dos astros de luz.

Roda ao Redor

Ilustração de Jean Cocteau (1960)             No silêncio, somos todos palavras adormecidas, escritas ou por escrever. Nesta procura pode ser o meu encontro, único, possível e fora das margens das molduras. Uma força, uma estranha experiência manifestando-se na forma de arrebatamento, que não cabe na parede, na tela do século, na arte e nem em palavras.     O que sobra está impresso nas retinas, um verde coração aberto aciona os vestígios do genoma clandestino, a constituição principal e milenar. Uma espécie de roda de Samsara, um movimento redondo contraindo-se ao reinverso negativo, o alfa e o ômega. Aos passos de meu próprio espírito, aos passos de sintonizar-me à frequência magnética, dentro de mim, o demiurgo.

Dispersão

Esparrama-me éter sobre o céu - ser a estrela intangível - esperar no embalo do encontro, despido e sem adorno, que canta a voz que chicoteia solta, acalanto da brasa. Ser a dispersão do fogo e a água, entre espasmos e ebulições, o anel solar no vitral serpenteia, e do sangue apenas freme derramando a anestesia pelos gritos de histeria.

Uma Agitadora da Cultura

“Guardamos indelevelmente a figura de dona Jupyra da Cunha Marcondes, nossa querida professora de Música e Francês,dos bancos ginasiais. Com que carinho ela se dedicava aos seus alunos e com que santa paciência encaminhava sempre para o caminho do bem e do saber aquela turma de moleques travessos.” (Dona Jupyra, de Rubens Shirassu, jornal O Imparcial, Página 2, Presidente Prudente, 1974) JUPYRA Ivanildo Reinaldo de Oliveira Mylene da Silva Santos Firmino Paulo José Sereguetti Suelen Perez de Azevedo Videodocumentário 1:30 Minutos Faculdade de Comunicação Social Jornalista Roberto Marinho (Facopp) Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) 288 Páginas Orientadora: Profª e Drª Thaisa Sallum Bacco Presidente Prudente – São Paulo 2013              A Escola Municipal de Artes Jupyra da Cunha Marcondes, pode ser tomada como um ponto de refer

Lugar de Ideias e Imaginação

Quanto maior o espaço encontrado nas margens de um livro, aumenta o seu valor             Conhecer um sebo pode ser uma experiência inusitada. Ao entrar em contato com objetos de épocas e assuntos os mais variados, pressente-se no ar, como uma corrente de energia, um pouco da experiência humana, acumulada de geração em geração.  Num livro ou outra publicação impressa, percebemos visualmente os tempos idos. Mas, a percepção vai muito além. E é no mundo das ideias, da criatividade, que a magia do objeto acontece em toda a sua plenitude. A imaginação realiza voos fantásticos ao viajar em lugares, épocas ou situações desconhecidas. O ambiente do sebo moderno tornou-se, intencionalmente ou não, um lugar propício para estes passeios da imaginação. Um ambiente de paz e aconchego onde se esconde, em pilhas de objetos antigos e empoeirados, um pouco de história.             Assim é o sebo ou antiquário, uma atividade nem sempre lucra

Procura

Só porque procuro encontro o contratempo. Só porque busco perco-me criando labirintos. A procura da resposta, a coisa. Só porque procuro a causa do erro. Só porque procuro entre o erro e o acerto construo duas pontes: diluo-me na margem de liberdade.

Beijos e Ferroadas

Museu René Magritte em Bruxelas As estranhas relações que mantemos com a cidade de origem             Sinclair Lewis garantiu que Deus faz o país, o homem a cidade e o diabo a sua aldeia, e vingou-se de sua aldeia, ou província, escrevendo Rua Principal - uma obra cujo protagonista revolta-se contra a mentalidade mesquinha de uma pequena cidade do meio-oeste americano. Menos furibundo, Gabriel García Márquez servia-se de sua Aracataca de todas as maneiras. Arranjou-lhe outro nome - Macondo - e colocou-a no centro de seus livros: aquele lugarejo da América do Sul onde acontece tudo que não é possível acontecer e muito mais. Se realmente o diabo fez sua aldeia em Macondo, houve exagero.             Da mesma forma que Sauk Centre impressionou Sinclair Lewis e Aracataca serviu de trampolim para García Márquez chegar à fama, com Cem Anos de Solidão , outras províncias - aldeias ou não - têm quase sempre deixado marcas pro

Textos em Portal de Referência

146 países dos 5 continentes visitando o portal de Leila Míccolis e Urhacy Faustino Considerado um dos mais importantes do mundo pela Unesco                         Rubens Shirassu Júnior, escritor e revisor de textos de Presidente Prudente, teve 15 textos de sua autoria, entre os gêneros conto, crônica e artigo, selecionados por Leila Míccolis e Urhacy Faustino do portal Blocos on line, do Rio de Janeiro. Incluem-se na pequena seleta o conto A Entrevista, as crônicas A Cidade e o Campo, Apagão, Borboleta-Flor Amarela, Cara de Santo, Conversa ao Pé-do-Ouvido, Muita Dose de Mãe II, Nosso Pedaço de Mundo, O Pau, O Vento Assovia na Chuva Tímida, Pedaço do Brasil e Pneuzinhos em Alta. Completam a antologia os artigos: A Falta de Memória e Identidade, Nas Malhas da Rede e Semiótica.             O portal Blocos on line tornou-se uma referência importante no cenário atual da literatura brasileira, há 17 anos no ar, desde a segunda quinzena de julho de 1996.

Gemidos

I Será um gemido Talvez, um som de grunhido do fundo, de onde vem? Mas não sei, seja de Belém, de Loanda, de Aruanda ou quizumba de kiumba em culto de Quimbanda? II Alarido na senzala do bando, sei que chove tanto, parece o pranto de mulher abortando.

Eclipse da Lua

Imagem de Alexandre Sanches É o satélite solitário dos aventureiros, símbolo dos místicos, sonho dos românticos, estandarte de todos os verões, até os da alma              Houve um tempo em que os povos veneravam a lua, cantando músicas e contando lendas ou “causos” trazidos de seus ancestrais. Essa gente divulgava, entre outros mitos, tipos de seres extraterrenos que faziam contato na hora do eclipse. Com a diminuição de seus raios, ocorre um aumento da sombra nas matas, águas das fontes, mares, vales, cachoeiras e rochas. Seguindo as tradições milenares, acreditam os chineses, como descreve um famoso poema, que uma princesa virgem suicidou-se por ter sido largada no casamento. Pelo trauma do episódio, em todo eclipse, ela vem procurar um rapaz, usando de todos os meios para convencê-lo a morrer por ela. Ele, ao partir, com as mãos dadas a ela, fica preso no mundo dos mortos, que seria o outro lado da lua. Assim, eles chama

Contraprodutividade

O pensador austríaco em 2002 A atualidade do pai da educação sem escola             Hoje, Ivan ILLich aparece como um inspirador dos que pretendem repensar a educação, a partir de alguns dos aspectos que foram mais criativos e inovadores no campo, como é o caso da educação de adultos.             Há um conceito na obra do pensador austríaco confirmado pelos fatos: o de contraprodutividade. Hoje, claramente, os sistemas escolares são contra-produtivos. Fabricam uma infância anormal, problemas de aprendizagem, desfuncionalidades, subordinam a educação à produtividade e àquilo que ele critica em termos de desenvolvimento. ILLich pensa globalmente a educação, tendo como referência uma outra sociedade baseada naquilo que ele chama a convivialidade ou convivencialidade, uma nova referência. Nesse sentido, ele recupera o debate, a dimensão política e filosófica da educação como questões centrais.             Fica a impressão