"Tristeza não tem fim / felicidade sim..."
( A Felicidade, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes )
A música "dor-de-cotovelo", o cinema americano e a televisão nos educaram mal. Não se sabe quantas cavernas no fígado se devem a ilusão que tomar um "porre" iria sensibilizar a bem-amada como mostram as canções de Vicente Celestino, Herivelto Martins, pasteurizadas hoje numa espécie de bolero pelas chamadas "duplas sertanejas." Nos criamos com a perigosa desinformação de que basta uma cena violenta na cara da não-correspondida para deixá-la impressionada. Se funcionava com milhares de pretendidas, além de distraídas do cancioneiro popular, por que não seria verdade? Alguns exemplos do folclore ficaram ultrapassados. Nunca vi nenhuma mulher real "sem a menor vaidade", como a da letra de Ataulfo Alves e Mário Lago, depois de um elogio, que não ajeitasse pelo menos os cabelos.
Também ficamos mal-acostumados com o conceito falso-moralista de letras tipo: "Este é o exemplo que damos/ aos jovens recém-namorados/ Que é melhor brigar juntos/ do que chorar separados", do Lupicínio Rodrigues, na voz de Jamelão. É o caso da bela musicalidade de "A Felicidade", de Tom e Vinícius, onde mostram que a felicidade acaba, afirmando o permanente estado de tristeza do homem. Muito da dissimulação, desconcentração e falta de reflexão vem de um excesso compulsivo de distração e consumo, via onda sonora e imagem digital, onde tudo parece ser tão mais prático, rápido e fatal. Na verdade, metas, racionalidade, estratégia e bons contatos compensam melhor o profissional no decorrer da vida, mas não se deve confiar demais na propaganda dos meios de comunicação. E parece que só algumas pessoas aprenderam alguma coisa. Mas a maioria recua, ignora civilizadamente. Faz mal, porque dói. Acredite, pensar e agir é muito melhor e mais saudável!
A Falocracia que até hoje domina o mundo coincide com a criação do alfabeto. Depois que o homem descobriu como manipular a linguagem, o alfabeto e a imagem com seus preconceitos fixos, fundaram o patriarcado. Porque os machos são mais exibidos e colocaram as fêmeas na condição maternal de zelar por suas imagens. E quando supomos que somos melhores que elas, as mulheres são tolerantes na sua resignação e aceitam a nossa ingratidão, pois sabem que estão lidando com animais interessantes, mas carentes.
O Estado consola-se com o seguinte pensamento: se não tivesse reprimido nenhum impulso e feito tudo que deu vontade de fazer, na hora em que deu vontade, você hoje estaria preso, ou gravemente desfigurado. Civilização é autocontrole. Só chegamos frustrados e infelizes neste ponto porque resistimos à tentação de dizer aquela verdade. Todo homem (mulher, menos) é a soma, não das suas decisões, mas das suas hesitações, ou do que, pensando melhor, decidiu não fazer.
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