Alguns acontecimentos
da segunda metade do século XX, como a instabilidade econômica mundial, o
surgimento de novas tecnologias e a globalização, contribuíram para a perda da
ideia de controle sobre os processos do mundo, trazendo incertezas quanto a
nossa capacidade de nos adequar aos novos padrões sociais, que se liquefazem e
mudam constantemente. Nessa passagem do mundo sólido ao líquido, Zygmunt Bauman chama atenção para a
liquefação das formas sociais: o trabalho, a família, o engajamento político, o
amor, a amizade e, por fim, a própria identidade. Essa situação produz
angústia, ansiedade constante e o medo líquido: temor do desemprego, da
violência, do terrorismo, de ficar para trás, de não se encaixar nesse novo
mundo, que muda num ritmo hiperveloz.
Para a sociedade da
cultura líquida, a marca do artista não tem espaço. Isso porque ela milita
contra o sacrifício das satisfações imediatas em função de objetivos distantes,
bem como questiona o valor de sacrificar satisfações individuais em nome de uma
“causa” ou do bem-estar de um grupo. Essa sociedade despreza os ideais de
“longo prazo” e da “totalidade.”
A globalização para a maioria dos habitantes do planeta equivale à
profunda deterioração de suas condições de vida? Devemos compreender que o resultado
imediato da emancipação da atividade econômica em relação a qualquer critério,
exceto o de multiplicar lucros, foi um crescimento sem precedentes da produção
e da acumulação de riquezas, e também uma polarização aguda e violenta dos
padrões de vida, gerando uma desintegração das redes habituais de proteção
formadas por vínculos, obrigações e compromissos humanos. E a globalização
unilateral limitada aos empreendimentos comerciais é percebida acima de tudo
como uma perda de controle sobre o presente e uma incapacidade de prever o que
o futuro trará, reforçando a insegurança.
Sem estrutura social,
não se cria uma cultura, uma eficiente ferramenta da administração de tensões e
enfrenta quaisquer brechas da norma, fraturas e desvios ocasionais que ameaçam
afetar o “equilíbrio do sistema”. A manutenção do equilíbrio seria a autopoiesis, de Humberto Maturana, um
termo biológico usado também na sociologia.
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