Pular para o conteúdo principal

A pintura das metamorfoses

 



O artista que aqui surge, um homem complexo, inquieto, pelo qual sou atraído às suas pinturas. Em sua nova produção intitulada “Ponto de Mutação”, Nivaldo Gonçalves nos apresenta a sua intensa relação com a arte oriental e sua admiração pelos pintores abstracionistas: Manabu Mabe, Kinya Ikoma e Tomie Ohtake. Sua pintura se assemelha aos Kanjis japoneses, surgindo de forma espetacular ao deslizar a espátula sobre a tela. Suas obras se destacam no atual cenário das artes visuais prudentinas pela sua originalidade, ousadia e inovação.

O título da exposição traz também reflexões muito interessantes: a crítica ao modelo acadêmico e tradicional de fato como base para grandes avanços no século passado, nos grandes centros, porém o resultado que hoje observamos no universo local e regional, nos mostra um cenário de pobreza cultural, alienação e desunião entre os próprios artistas. Daí, a necessidade de gestão e políticas públicas voltadas para o setor, como a criação de galerias de arte, curadorias, críticos especializados, editais, e principalmente o retorno do extinto Salão de Artes Plásticas. Seria necessário repensar esse quadro caótico, pois a região permanece com poucas referências devido o esquecimento e inércia dos representantes da população.

Na África, existe um ditado que diz: “eu sou porque nós somos”. A classe artística atual precisa compreender que são de fato a soma dos demais humanos. Um sistema interligado, como o corpo humano, que se mostra perfeito porque todas as partes do corpo funcionam em harmonia. É preciso entender que quando um sofre, o todo sofre. Assim, não podemos agir como máquinas ou como um dispositivo digital. Infelizmente, no modelo mental de hoje, fazer essa virada se torna difícil a longo prazo, mas carece de consciência coletiva, de luta, de crítica, de perseverança, de cobrança aos políticos, de pensar e encontrar alternativas.

 

Biografia

 

Nivaldo Gonçalves, artista visual natural de Presidente Prudente, região oeste do Estado de São Paulo. Iniciou a carreira artística aos quinze anos de idade, assessorando ateliers de pintura, ministrando oficinas de desenho artístico e histórias em quadrinhos em escolas estaduais. Aperfeiçoou-se em Ilustração e Desenho Publicitário na instituição Ebac – Escola Brasileira de Artes, Ciências e Comunicação. Atua com produção artística e formação de público há dezessete anos. Possui uma produção rica e abrangente no campo das artes visuais, passando por diferentes técnicas e estilos. Participou como artista convidado da Instalação coletiva “Entre-linhas: Tintas e Palavras” promovida pelo SESC Thermas no ano de 2013, em Presidente Prudente. Agraciado com o Prêmio Mapa Cultural Paulista, edição 2013/2014, na categoria desenho de Humor.

Participou do Prêmio Internacional de Arte Contemporânea “ADRENALINA - Jesus 3.0” realizado pelo Coletivo Cultural Adrenalina, em Roma, Itália, em 2016, além de selecionado para participar das exposições “PRESENTE” e “MAE – Mostra de Arte Erótica”, organizadas em 2016 e 2017 em São Paulo. Atualmente, desenvolve trabalho de pesquisa fotográfica sobre pichações e grafites urbanos na capital e interior paulista.

 

Pílula Visual: Abstração

 

A arte abstrata é um gênero repleto de fascínio. Cada obra traz um olhar renovado justamente porque um de seus princípios está na liberdade do fazer. Existe no seu processo de criação essa característica de deixar as manchas e os traços fluírem. Quando se observa um trabalho como o de Nivaldo Gonçalves, não se trata de partir de um referente do mundo real, mas de expressar uma realidade interna que, por meio do mágico diálogo entre o cérebro e o gesto da mão, se cristaliza em imagem. O resultado é a visualização de todo um processo complexo para o qual não há respostas simples. É em sua execução que se percebe a magia de toda uma caminhada. O que se vê não é um instante, que pode ser rápido, mas um percurso. Não interessa quanto tempo o movimento do braço demora, mas a trajetória do artista até chegar a ele. Esse é um dos mistérios da arte abstrata que cada trabalho reforça.

 

Oscar D’Ambrosio

Crítico de arte

 

Link para ler o comentário completo no site

 

https://oscardambrosio.com.br/textos/2555/pilula-visual-abstracao

 Exposição

PONTO DE MUTAÇÃO

Nivaldo Gonçalves

de 8 a 29 de junho de 2021

Centro Cultural Matarazzo

Galeria Takeo Sawada

Rua Quintino Bocaiuva, Nº 749

Vila Marcondes

Presidente Prudente – São Paulo

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O PAU

pau-brasil em foto de Felipe Coelho Minha gente, não é de hoje que o dinheiro chama-se Pau, no Brasil. Você pergunta um preço e logo dizem dez paus. Cento e vinte mil paus. Dois milhões de paus! Estaríamos assim, senhor ministro, facilitando a dificuldade de que a nova moeda vai trazer. Nosso dinheiro sempre se traduziu em paus e, então, não custa nada oficializar o Pau. Nos cheques também: cento e oitenta e cinco mil e duzentos paus. Evidente que as mulheres vão logo reclamar desta solução machista (na opinião delas). Calma, meninas, falta o centavo. Poderíamos chamar o centavo de Seio. Você poderia fazer uma compra e fazer o cheque: duzentos e quarenta paus e sessenta e nove seios. Esta imagem povoa a imaginação erótica-maliciosa, não acha? Sessenta e nove seios bem redondinhos, você, meu chapa, não vê a hora de encher a mão! Isto tudo facilitaria muito a vida dos futuros ministros da economia quando daqui a alguns anos, inevitavelmente, terão que cortar dois zeros (podemos d

Trechos de Lavoura Arcaica

Raduan Nassar no relançamento do livro em 2005 Imagem: revista Usina             “Na modorra das tardes vadias da fazenda, era num sítio, lá no bosque, que eu escapava aos olhos apreensivos da família. Amainava a febre dos meus pés na terra úmida, cobria meu corpo de folhas e, deitado à sombra, eu dormia na postura quieta de uma planta enferma, vergada ao peso de um botão vermelho. Não eram duendes aqueles troncos todos ao meu redor velando em silêncio e cheios de paciência o meu sono adolescente? Que urnas tão antigas eram essas liberando as vozes protetoras que me chamavam da varanda?” (...)             “De que adiantavam aqueles gritos se mensageiros mais velozes, mais ativos, montavam melhor o vento, corrompendo os fios da atmosfera? Meu sono, quando maduro, seria colhido com a volúpia religiosa com que se colhe um pomo. E me lembrei que a gente sempre ouvia nos sermões do pai que os olhos são a candeia do corpo. E, se eles er

O Visionário Murilo Mendes

Retrato de Murilo Mendes (1951) de Flávio de Carvalho Hoje completaram-se 38 anos de seu falecimento Murilo Mendes, uma das mais interessantes e controvertidas figuras do mundo literário brasileiro, um poeta difícil e, por isso mesmo, pouco divulgado. Tinha uma personalidade desconcertante, sua vida também constitui uma obra de arte, cheia de passagens curiosas de acontecimentos inusitados, que amava Wolfgang Amadeus Mozart e ouvia suas músicas de joelhos, na mais completa ascese mística, não permitindo que os mais íntimos se acercassem dele nessas ocasiões. Certa vez, telegrafou para Adolph Hitler protestando em nome de Mozart contra o bombardeio em Salzburgo. Sua fixação contemplativa por janelas foi assunto do cronista Rubem Braga. Em 1910, presenciou a passagem do cometa Halley. Sete anos depois, fugiu do internato para assistir ao brilho de outro cometa: Nijinski, o bailarino. Em ambos os casos sentiu-se tocado pela poesia. “Na