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O arqueiro, as flechas e o canteiro

 


Um convicto jardineiro de poemas. Entrega-se aos acasos para poder vislumbrar detalhes ou cenas quaisquer, donde se depreendesse o sinal possível, espiralado, que permite o estirar de uma frase natural. O poeta sempre atento na ponta dos olhos, aceita a emendar palavra com palavra em meio à limpeza das mesas poéticas; não quer a poesia remediada, de tato virtual, nem a fria plumagem da língua. Prefere o exercício diário na sua residência ou nas ruas e avenidas.

Colhe as coisas nas estrelas e tenta tocar suas mãos ansiosas no girassol em chamas, o sol, revira a natureza, os olhos sob as fases da lua. Quanto mais se distancia do cotidiano corriqueiro e letárgico, sorve melhor a atenção dos encontros. Gosta de viajar para longe, bem longe, até que o cansaço o faz surpreender-se com a imagem solitária de um tronco de árvore ou com os rabiscos de um muro que circunda um terreno baldio lotado de entulhos.

Joilson Portocalvo, o arqueiro poeta em Quintal do meu coração, de olhos armados, atira a flecha nos alvos: da lua, das estrelas, do livro de Paz, como luzes reveladoras de sua intuição. Seu olhar de Cupido desencadeia os estados de paixão e de desejo.

Como deambulador dos instantes fotográficos, seus poemas são quase haicais japoneses, pela construção concisa, nas entrelinhas milimétricas, sem verdades definidas, a pisar cantos, recantos, poças de água e valas profundas. Por outro lado, por utilizar de metáforas o poeta verticaliza o absoluto como prisma, as variantes angulares, os seccionamentos, a linguagem e a essencialidade.

Possui a centelha da alquimia do verbo e está consignado de corpo e alma às causas, fraquezas e dilemas da existência. E quer, contudo, nada. Apenas fluir, expressar-se nas retas, nas curvas e nas dobras do tempo.

Ao final da viagem, entre poliedros e paliçadas, carrega um justo repertório de rumores. Então, torna-se os momentos de remoer as intuições, e desembaraçá-las como a um jogo de xadrez, face a face com o rosto frio do silêncio, algumas cores soltas em seu caleidoscópio. Ao rés do chão Joilson Portocalvo se levanta do mundo do solo e se lança aos ares apolíneos. E é capaz de amar fazendo, de gerar verbo e enigma de seu próprio ventre, de eternizar-se e romper – e estender-se a todos – ungido e só, no silêncio de seu coração.

Rubens Shirassu Júnior

Você pode encomendar o livro pelo site da Editora Escola Cidadã:

https://www.editoraescolacidada.com.br/p/clique-aqui_15.html

 

 

 


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