Oswald de Andrade em 1948
Aos 458 anos de São Paulo
Oswald, o homem que come
agitando seus panfletos do caos
fulgurações, de intuições descontínuas
marco zero da tropicália urbana,
floresta entrançada da pauliceia ilhada,
rica de seivas, cheia de cipós de plásticos encapados,
de ramos entrelaçados bits, bites
com Eros escancarado, guerrilheiro canibal
de viril Pau Brasil nu com a alma da poesia
carnavalista de vida do corso pede passagem
no desfile divisor das águas dos movimentos
alegria alegoria da geleia rococó das máscaras.
Oswald desfolha a bandeira do estrangeiro conquistador,
lança-chamas, incendiário da burguesia
perfeito cozinheiro das almas catequistas do poder
em nome do desejo fechado da catedral
do Bispo Sardinha cozido no caldeirão,
evangelho do dirigismo cristão escravo
guilhotinou a sabedoria dos povos da florestas,
dos elementais das matas, folhas
ressecadas pelo Patriarcado e a servidão
impondo o código da culpa em comer o pão e beber o vinho,
de bem-viver do trabalho, a paranoia de vagamundo.
Oswald, secretário da amante,
saboreia o manjar dos deuses
na fogosa fornalha de Miss Ciclone.
Oswald, o homem que come a carne da palavra,
arcada língua portuguesa vigiada dos mil olhos
dos desencontros acadêmicos, do museu
medieval das senhoras católicas
rompe o lacre de professoras, pintoras e jornalistas,
filhas de Maria das mentiras do labirinto de gretas,
julgado sem defesa no tribunal dos juízes da moral
pelo seus maus hábitos de monge que não lambe
as solas sádicas das gigantes botas do poder.
Oswald estripa as vísceras do velho porco
que chafurda a borra do veneno da falsa moral
enlatada do manual de ajuda,
na prateleira do supermercado desejo
vazio que liquida ação em pó do deserto
cinza dos tártaros.
O menino sentimental das travessuras que fez,
mirava os seres tiranos, pastores leigos,
camelôs da autoajuda, cowboys virtuais,
em paralelo aos tubarões da noite.
Era capaz de destruir um afeto por causa
de um gracejo mordaz, ferino riso do dragão,
catapulta de bolas de fogo lançadas
sem alvo, sem direção que explodem.
Sim, esta é a vida do homem Oswald,
Andrade espírito do País do carnaval:
- Viva Oswald! Vida (á)vida!
Clique e acesse os três links e conheça um pouco do pensamento dionisíaco de Oswald de Andrade:
Em "Embajada del teatro" Renato Borghi e Zé Celso Martinez, fundadores do Teatro Oficina, falam sobre o filme Rei da Vela.
Macumba Antropófaga abraçando o Bexiga com o grupo Oficina
LivroClip da obra "Memórias Sentimentais de João Miramar", de Oswald de Andrade com a música "Blunt of Judah", do Nação Zumbi.
Comentários
Postar um comentário