O dramaturgo e cronista do inconsciente em 1949
Além de ter sido o grande inovador da dramaturgia brasileira, Nelson Rodrigues deixou sua marca inconfundível no jornalismo brasileiro, através das crônicas e colunas que manteve durante toda a vida em jornais e revistas, principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo.
Marcou época sua série de crônicas “A Vida Como Ela É”, onde Nelson fala sobre o dia-a-dia da cidade grande, os dramas humanos da pequena burguesia de uma sociedade em decomposição. Capta as frustrações e traições que se transformam em molas propulsoras do comportamento neurótico e doentio, e que tornam a aventura humana um terrível e desolador deserto de afeição e solidariedade.
O tema dessas crônicas é bastante semelhante à utilizada de modo mais desenvolvido nas peças “A Falecida”, “Os Sete Gatinhos”, “Boca de Ouro”, “Beijo no Asfalto”, “Bonitinha, mas Ordinária” e “Toda Nudez será Castigada”. Aparentemente, as crônicas são simples quadros de costumes: retratos da sociedade carioca cujos personagens principais são pequenos funcionários, cartomantes, torcedores fanáticos, milionários empedernidos, jornalistas, médicos assassinos, maridos traídos, políticos, grã-finas, bicheiros e outras figuras da vasta fauna brasileira. No entanto, trata também do amor e da morte, temas abordados vezes sem conta por Nelson Rodrigues em sua obra.
Ele próprio afirmava ser um dramaturgo, um romancista e um cronista que não teve medo da repetição, mantendo as mesmas ações e situações em várias peças, romances e crônicas.
Do ponto de vista do estilo, essas crônicas também se assemelham muito às peças citadas. O diálogo é rápido, flexível, enxuto, seguindo muito mais a estrutura da língua falada do que os cânones da palavra escrita. Seus personagens são descritos com dois ou três adjetivos que revelam suas características essenciais.
Foi nessas e outras crônicas, e artigos de jornal, que Nelson Rodrigues cunhou uma série de expressões que passariam para o uso corrente, tais como: óbvio ululante, babar na gravata, tão mansa que come alpiste na minha mão, lágrimas de esguicho, etc. Criou, também, certos típicos personagens como a freira de minissaia, a aluna de Psicologia da PUC, a cabra vadia, o padre de passeata, e o Palhares que não respeitava nem as cunhadas.
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