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Conversa com alunos do Sesi




 
 
 
Contato quer manter a arte milenar de pensar e escrever
 
 
 
 
 
         Em 6 de novembro, última terça-feira, o escritor e poeta Rubens Shirassu Júnior, de Presidente Prudente, manteve bate-papo descontraído com alunos dos ensinos médio e fundamental do Sesi de Álvares Machado. À primeira vista, um dos objetivos do encontro é despertar o interesse à redação e literatura, sem desfazer das ferramentas e das novas tecnologias, a exemplo dos celulares, tablets, entre outras novidades com maiores recursos que surgem de três em três meses no mercado. Criando o hábito e o gosto de trabalhar um texto primeiro no papel, familiarizar com a consulta contínua de dicionários populares, daqui a alguns anos, poderemos ver uma parcela de resultados: redações criativas, cidadãos mais conscientes de seus direitos e deveres, fluentes nos diálogos, espontâneos e seguros na profissão e na carreira escolhidas. – declara a coordenadora Ligia Aparecida Estaregui Cegamarchi. “Desde que assumi a função na escola, percebi a necessidade de desenvolver um trabalho de resgatar o hábito milenar da leitura e da redação, em meio ao burburinho de novidades digitais e de entretenimento, pois vi que davam atenção mais às máquinas e, na vida prática de estudar, viver e trabalhar, os jovens precisam aprender a respeitar as atividades artesanais na fase de aprendizagem, conciliando com os compromissos, o lazer e a tecnologia .” – diz.
         Para Shirassu Júnior, o encontro possibilitou quebrar mitos e folclores que existem quanto à imagem do escritor, aquele perfil tradicional de esquisito, meio marciano, solitário e isolado por sentir-se diferente da maioria da população: “Os alunos precisam ver você, no contato ao vivo na sala de aula, por isso, fiz questão de sentar-me ao lado deles dentro do círculo de cadeiras. Sim, igualei-me. No começo da conversa, notei uma certa timidez, uma retração, mas no decorrer do bate-papo houve uma descontração, construiu-se uma ponte de interatividade e, chegaram a perguntar como era a vida de adolescente nos anos 70? Mostrei-me sincero, autêntico, argumentei que na fase que estão vivendo também tive as mesmas cobranças, conflitos, dúvidas junto ao sentimento de estar sozinho e incompreendido no mundo.”
         Os jovens ficaram perplexos quando disse que percorria dois quilômetros todos os dias para estudar no Colégio Joaquim Murtinho (conhecido popularmente como “Academia”) de João Camarini, professor de História aposentado e, de sua esposa a professora Áurea Camarini, localizado na Rua Quinze de Novembro. Mas, para os garotos de nossa geração as dificuldades eram levadas na alegria, compensávamos colhendo frutas no próprio pé, como manga, goiaba, siriguela, cajamanga, jaca, cana, jabuticaba, abacate, mamão macho e amora, na volta da escola fazíamos um sacolão de frutas pelo caminho! (risos). Ficaram também impressionados com o regime militar adotado, tanto pelos professores, inspetores, cozinheiras e faxineiras: desde o horário de entrada, o uniforme padrão, o costume de levar o boletim de notas para o pai assinar, os pontos que tínhamos que alcançar para passar de ano e, o que estarreceu a todos, havia sim, o bullying, mais com os obesos, magros e feios, mas não chegava perto da alta densidade e violência gratuita exposta nos dias de hoje.”
         Na manhã do encontro, Shirassu Júnior discorreu sobre o valor da autoexpressão no atual mercado de trabalho, através das várias formas de comunicação escrita e literatura, como o blog, as redações expositiva e opinativa, a crônica ou o poema, mas também do valor da redação nos vestibulares e concursos públicos, ou a boa apresentação de um relatório de seção. O autor prudentino contou a história real do jovem, morador em São Bernardo do Campo, São Paulo, que passou no concurso da Volkswagen do Brasil e foi homenageado por sua redação criativa e original, além de receber o prêmio de uma bolsa de estudos, com o acompanhamento de uma assistente social e psicóloga da indústria.
         O escritor prudentino esteve em duas classes lotadas: primeiro da professora Eliana de Souza Santos Silva e, em sequência, do professor Vagner Monteiro, ambos ensinam língua portuguesa e literatura no Sesi de Álvares Machado. Esse livro faz parte do programa de Literatura e Língua Portuguesa, pois cada aluno elaborará textos referentes aos poemas que escolherá do livro “Cobra de Vidro”, de Rubens Shirassu Junior. Os alunos deverão especificar desde as principais influências, poetas, pensadores e os movimentos literários (surrealismo de Salvador Dali, André Breton, René Magritte, geração Beat nos Estados Unidos, com Ginsberg, Geração de 45 no Brasil, Ismael Nery, Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira.) que contribuíram para a formação do poeta.”– afirma a coordenadora Ligia Cegarmachi.
 


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