“A fome
não afeta os brasileiros,
porque
comemos uns aos outros
e isto
nos satisfaz”
Tatyana Tolstaya
Os moradores de várias
cidades do Brasil estão estressados, indignados e perplexos com a poluição
sonora e a perturbação do sossego público provocadas por igrejas, por seitas e
comunidades evangélicas. O volume alto das caixas de som entrecortado por
gritos, choros e exaltações a Deus, de forma desesperada pelos devotos, que
clamam por mudança em suas vidas, no sentido dos equilíbrios financeiro,
espiritual e físico, ou na questão de saúde. Fica difícil classificar o que
seria isto: um espetáculo teatral, de fundo emocional, de fanatismo exacerbado,
com doses exageradas mesclando mediunidade do espiritismo, pela ânsia do que
almejam, expressam confusamente palavras desconexas, sem clareza e sem
objetividade, declarando ser uma língua que não pertence ao mundo terreno, além
de exporem o íntimo aos confrades.
Esses adeptos do
messianismo estão infringindo, primeiramente, a Lei de Contravenções Penais, no
Artigo 42, quanto ao item da Lei de Perturbação do Sossego – com gritaria e
algazarra, com abusos de sinais acústicos, invadindo as moradias e tirando o
sossego de aposentados, de gestantes, de recém-nascidos e, principalmente, de
uma faixa etária entre 60 a 90 anos, portadores de alguma doença degenerativa,
a exemplo de câncer ou mal de Alzheimer. As comunidades agridem querendo impor através
de seus gritos histéricos, estridentes e amplificados em decibéis, como forma
de atrair a atenção do público dos bairros e arredores, para que venham visitar
e, automaticamente, tornaram-se frequentadores assíduos de seu culto, de seus
conceitos e de seus hábitos, de seus costumes e do modo de vida.
Tal ação estratégica
primária invade também o universo particular. Por outro lado, o ato traz
apatia, soa inconveniente e irritante. Uma grande parcela dos cidadãos chega
após uma jornada intensa de trabalho e busca o descanso, o conforto e o sono tranquilo.
Que fique bem claro aos leitores: não sou contra a opção religiosa desses
seguidores de comunidades e de seitas, pois tenho consciência do livre-arbítrio
existente em nosso País. Percebe-se, sim, a falta de educação, de bom senso e
de respeito à individualidade dos moradores. Assim, deve-se alertar aos fiscais
da prefeitura a notificarem e façam os pastores cumprirem as normas, providenciando
a instalação de acústica e portas adequadas, como acessórios que isolam o som.
Verificar, também, se possuem o alvará de funcionamento e registro em cartório.
Pelo que dispõe o Código de Obras alguns bairros são estritamente residenciais
e existe artigo especifico que discorre sobre o impedimento de maquinário
poluente em todos os sentidos. Além de contravenção penal, o bombardeio
constante de som elevado trará problemas auditivos, pois altera o metabolismo
do corpo humano aos moradores, além de outros males, decorrentes do alto
stress. Acrescenta-se que a poluição sonora é prevista no artigo 54, da Lei de
Crimes Ambientais (Lei Federal Nº 9.605/1998).
Neste “vale tudo”
apelativo em que vivemos, desde o começo predominou a geocultura pelas fortes
influências das teorias europeias, uma prática que dura mais de 50 anos. Se o
mesmo primitivismo está por trás do que acontece no Oriente Médio, devemos
ficar atentos ao perigo do fundamentalismo e do fanatismo religioso, um dos
violentos freios sociais. Este é um reflexo de que o Brasil tem vocação para a
autofagia social.
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