Ao analisar
a poesia de Dora Ferreira da Silva
chego à conclusão de que há a enunciação da presença de deusas “numa época da morte de Deus, tempo de
carência e de ausência do sagrado”. De acordo com minha visão, a poeta Dora traz a vitalidade das deusas nos
poemas e assim celebra a renovada atenção aos mitos gregos lembrando que os
deuses vivem em nós.
A
forma como Dora expressa em sua
poesia permite que o próprio ser distancie de si e sinta os turbilhões de
sentimentos nesse mundo transponível, conhecendo as deusas, o maravilhoso, o
incomum. É manifestada a poeta, a artista que decifra todo o acontecer, por esta
perspectiva realiza-se o lirismo e evidencia o sujeito moderno.
Este
ensaio teve como intuito discutir a subjetividade através do sujeito lírico,
apreendidos como estado íntimo conferido ao “eu” poético, esvaziamento do ser
para experimentar as coisas do universo desconhecido e assim conhecer o
inefável e estar fora de si. Entender que a subjetividade na poesia lírica
contemporânea não está somente intimamente ligada à identidade do sujeito,
aspecto tradicional, mas ela é ressignificada num visão ampla, pois a
subjetividade moderna pode estar relacionada à fragmentação da consciência do
sujeito, reconstituindo o sujeito lírico através das coisas ou objetos.
Outro
fator preponderante: entender que na obra poética de Dora Ferreira da Silva
(1999) o clássico e o contemporâneo são presentes, uma vez que a poeta busca a
temática mitológica (tradicional) para resgatar por meio do vigor das deusas, a
essência humana, também configura a presença do feminino para mostrar os
valores que são sagrados e ocultados no universo feminino mediante a supressão
e austeridade imposta pelo homem.
A
expressividade da poesia é demonstrada como uma peculiaridade dos temas de Dora Ferreira da Silva para que o leitor
reflita sobre as identidades e os valores que vão se fragmentando e perdem-se
em meio a uma sociedade em massa que prima por questões de interesse
financeiro, consumo e perde hábitos e valores culturais sagrados que enriquecem
espiritualmente e humanamente.
Assim,
a poetisa Dora, com sua imaginação
fértil, mostra que através de sua vocação poética, considera que o papel do
poeta é mostrar, questionar e transformar o que estava na penumbra,
perseverando, por mais que a humanidade esteja a caminho da dessacralização, o
ressurgimento para irradiar a alma subterrânea, numa corrente espiritual que o
inadequado, o transumano ganha forma e força, abrindo para novos horizontes que
somente a poesia é capaz de suscitar.
Referências:
BARTHES, R. Mitologias.
Trad. Rita Buongermino e Pedro de Souza. 11ªed. Rio de janeiro: Bertrand
Brasil, 2001.
BOSI, A. O ser e tempo da
poesia: Poesia-resistência. 8ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
CAMARGO, G. O. BUARQUE, J.
Inscrições da subjetividade na poesia contemporânea brasileira e portuguesa in:
Fronteiras de paragens líricas. 1ª ed. Goiânia: Cânone Editorial, 2016.
CANNABRAVA, E. Decisão
poética em Dora Ferreira da Silva. In: Poesia Reunida. Rio de Janeiro:
Topbooks, 1999.
CESAR, C. M. O poetar
pensante de Dora Ferreira da Silva. In: Poesia Reunida. Rio de Janeiro:
Topbooks, 1999.
COLLOT, M. O sujeito fora de
si. Revista Signótica Trad. Zênia de Faria, Cesaro, Patrícia Souza Silva.
Goiânia, Vol.25, n 1, p.221-241, 2013.
COMBE, D. A referência
desdobrada. O sujeito lírico entre a ficção e a autobiografia. Trad. Iside
Mesquita e Vagner Camilo. Revista USP, São Paulo,
Revista Ícone Revista de
Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Linguística e Literatura Volume 19,
n.1 – Agosto de 2019 – ISSN 1982-7717
Comentários
Postar um comentário