As flautas sopram o vento
entre as folhas do caderno
de música da infância.
Encadernada pauta de metal
dentro das margens do palco
os bicos dos flautistas
sob o holofote
ritmo andante passaredo allegro
dois compássaros.
Momento suspenso e vário
feito de renda e contraste:
abrindo em véu e haste.
São séculos de vida amarga
em cinco linhas de pauta.
Momento de claro-escuro
que às vezes pinta o universo
em tela de renda ou muro.
Dias virão verão,
O jugo torna-se pomba
que metamorfa um lírio branco
e o tempo, a gaiola inteira:
empluma, o ferro das jaulas
e falas lírio lírico
Juntos lutamos
e juntos ascendemos
num só canto
num movimento de bolas
que leva a alma conosco
se cumprimos o fio
da severa linha.
De severa sorte,
corda, partitura
da música
que se aninha
onde for mais forte
a pressão e o choque.
Pássaros somos
sem menor retorno.
Depois as asas doem
e as folhas tombam.
A vigilância
cobre nosso sono
com gaiolas e tômbolas.
Nem tempo
nos deram
para emendar razões
na partitura
do meu caderno.
( do livro Cobra de Vidro )
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