A Hygienica, de 1918, design em estilo vitoriano de Manoel Guimarães
In memoriam de W.C.
Será que fabricar apartamentos e casas com banheiro separado está fora de moda e não vende? De uns tempos para cá, constroem-se apartamentos ou casas com quatro suítes. O mais interessante é que, antigamente, as famílias eram bem maiores, tinha-se mais filhos. E o modelo do banheiro era um só: comunitário, grande, todo branco, de chão vermelho, com janela para o quintal, com banheira grande e branca.
O que será que está mudando nesta nossa moderna sociedade de consumo? O brasileiro, de dez anos para cá, vem defecando mais? Não digo as defecadas federais, nem as estaduais, nem as municipais. Estou me referindo à nossa defecadinha honesta de todo o dia, pessoal, íntima. Ou será que foram os arquitetos que perderam o senso do ridículo?
O mais interessante é que, antigamente, as famílias eram bem maiores, tinha-se mais filhos. E banheiro, um só. Ladrilho vermelho encerado ou com vermelhão. Ali se faziam as necessidades e se tomava banho. Tinham horas do dia em que se faziam filas para entrar no banheiro. Hoje, fila de banheiro só em festinha, para se dar uma cafungadinha. Os banheiros tinham janelas. Não era necessário nenhum perfume artificial para se combater o cheiro de cada um. O banheiro tinha um cheiro característico dele, uma mistura de pasta de dente com sabonete Gessy. Hoje, como os banheiros são mínimos, sente-se o cheiro de tudo. Principalmente; de nossas necessidades fisiológicas. Os banheiros são pequenos cubículos, caixas de cheiro duvidoso. Dentro da latrina já se coloca um baratinho, depois joga-se não sei o que lá dentro. E, dependendo do almoço ingerido, ainda tem que se dar umas borrifadas deste ou daquele produto.
Antigamente, um rolo de papel higiênico dava para uma família por semanas. Hoje, gasta-se muito mais. Não sei por que andamos nos sujando tanto. Vocês já notaram, nos carrinhos de supermercados, a quantidade de papel higiênico que as donas-de-casa compram? E tem mais: já tem papel higiênico que vem perfumado. Pessimamente, mas perfumado. Claro, nesta caixa que se tornou o banheiro, por onde vai sair o cheiro?
E quando a namorada é nova, você dorme com ela, acorda no dia seguinte e vai fazer o seu serviço e aquele cheiro fica a invadir o seu quarto e ela que também está a fim de ir lá, disfarça na cama, fica fazendo hora, porque sabe que a barra está pesada lá dentro! Sei de casos que terminaram na primeira manhã de amor. E fazer amor debaixo do chuveiro nesses apartamentos cheios de suíte? Já tentaram? Impossível. Os boxes são feitos só para um e olhe lá. Para se abaixar e pegar um sabonete no chão, teme-se ferir o bumbum na maçaneta. Se você senta-se na privada, não pode abaixar a cabeça, porque senão bate na pia. E, no bidê, tem-se que fazer ginástica para lavar qualquer parte pudenda. Hoje, os bidês parecem mais com bibelôs de porcelana. E naquelas suítes que não têm esguicho no bidê, você tem que puxar o chuveirinho do chuveiro, atravessando ali naqueles dois metros quadrados? Corre-se o risco de tropeçar nele e bater a cabeça na torneira da pia.
Saudades do “fulano está demorando muito no banheiro!” Ou, como aconteceu com a irmã do amigo meu, na pré-adolescência, foi reclamar com a mãe que tinha visto vários espermatozóides do irmão coagulados nos ladrilhos do banheiro. Enfim, as suítes que estão nos vendendo são mais um motivo para a desagregação da família. Estão isolando pais de filhos, irmãos de irmãs. Antigamente, a família que defecava unida era muito mais unida.
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