Pular para o conteúdo principal

Oração ao Grande Colar do Cosmo



Pintura de Marc Chagall







Eu agradeço à mãe Terra, que gira sem tempo –
e a seu solo: rico, poroso e maternal Pelicano,
serena e plena em nossa comunhão
de pensamento sempre fluindo.


Eu agradeço às Plantas, à folha projetada para o sol,
que se transmuta com a Luz
raios flecham os bambuzais como imponentes lanceiros
que emitem os assovios do vento forte
sua energia, seu temperamento oscilante
a força da sua tempestade em ebulição,
transforma em chuva, a sua dança está no Grão
Elemento espiral que brota em nossas mentes
serenas e plenas em nossa comunhão
de pensamento sempre fluindo.

Eu agradeço ao Ar, que sustenta todos os pássaros,
seja andorinha, gaivota, canário, abutre, rouxinol e
a silenciosa coruja da reflexão da noite ao amanhecer.
Sopro desta canção livre que é o puro espírito da brisa,
que ameniza e traduz o verão,
serenas e plenas em nossa comunhão
de pensamento sempre fluindo.

Eu agradeço aos Seres Selvagens de nossa fauna,
por ensinarem a não ter medo de velar os mortos.
Segredos, liberdades e caminhos; apesar de
nosso instinto predador e de conquista,
por serem íntegros, corajosos e atentos,
serenos e plenos em nosso caminho
de comunhão do pensamento
sempre fluindo.

Eu agradeço à Água: pelas nuvens, lagos, rios, geleiras;
retendo, jorrando e evaporando em total corrente
nossos corpos mares salgados
em nossas mentes serenos e plenos em nosso caminho
de comunhão do pensamento
sempre fluindo.

Eu agradeço ao Sol: pulsante e ofuscante luz varando
troncos de árvores e atravessa pedreiras, névoas,
geleira dos polos norte, do sul e aquece
cavernas como do urso da misantropia,
das cobras mágicas - ele que nos desperta
em nossa mente sereno e pleno
em nosso caminho de comunhão
do pensamento sempre fluindo.


Eu agradeço ao Grande Céu
que abriga bilhões de estrelas e vai ainda muito mais,
além de todos os poderes do pensamento
e ainda está adormecido dentro de nós,
velho avô colar, meu indecifrável e intangível Espaço.
Caule da Mente, a sua esposa e companheira
pulseira da grande família do cosmo, das dimensões,
assim em nossa mente sereno e pleno
em nosso caminho de comunhão
do pensamento sempre fluindo.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O PAU

pau-brasil em foto de Felipe Coelho Minha gente, não é de hoje que o dinheiro chama-se Pau, no Brasil. Você pergunta um preço e logo dizem dez paus. Cento e vinte mil paus. Dois milhões de paus! Estaríamos assim, senhor ministro, facilitando a dificuldade de que a nova moeda vai trazer. Nosso dinheiro sempre se traduziu em paus e, então, não custa nada oficializar o Pau. Nos cheques também: cento e oitenta e cinco mil e duzentos paus. Evidente que as mulheres vão logo reclamar desta solução machista (na opinião delas). Calma, meninas, falta o centavo. Poderíamos chamar o centavo de Seio. Você poderia fazer uma compra e fazer o cheque: duzentos e quarenta paus e sessenta e nove seios. Esta imagem povoa a imaginação erótica-maliciosa, não acha? Sessenta e nove seios bem redondinhos, você, meu chapa, não vê a hora de encher a mão! Isto tudo facilitaria muito a vida dos futuros ministros da economia quando daqui a alguns anos, inevitavelmente, terão que cortar dois zeros (podemos d

Trechos de Lavoura Arcaica

Raduan Nassar no relançamento do livro em 2005 Imagem: revista Usina             “Na modorra das tardes vadias da fazenda, era num sítio, lá no bosque, que eu escapava aos olhos apreensivos da família. Amainava a febre dos meus pés na terra úmida, cobria meu corpo de folhas e, deitado à sombra, eu dormia na postura quieta de uma planta enferma, vergada ao peso de um botão vermelho. Não eram duendes aqueles troncos todos ao meu redor velando em silêncio e cheios de paciência o meu sono adolescente? Que urnas tão antigas eram essas liberando as vozes protetoras que me chamavam da varanda?” (...)             “De que adiantavam aqueles gritos se mensageiros mais velozes, mais ativos, montavam melhor o vento, corrompendo os fios da atmosfera? Meu sono, quando maduro, seria colhido com a volúpia religiosa com que se colhe um pomo. E me lembrei que a gente sempre ouvia nos sermões do pai que os olhos são a candeia do corpo. E, se eles er

O Visionário Murilo Mendes

Retrato de Murilo Mendes (1951) de Flávio de Carvalho Hoje completaram-se 38 anos de seu falecimento Murilo Mendes, uma das mais interessantes e controvertidas figuras do mundo literário brasileiro, um poeta difícil e, por isso mesmo, pouco divulgado. Tinha uma personalidade desconcertante, sua vida também constitui uma obra de arte, cheia de passagens curiosas de acontecimentos inusitados, que amava Wolfgang Amadeus Mozart e ouvia suas músicas de joelhos, na mais completa ascese mística, não permitindo que os mais íntimos se acercassem dele nessas ocasiões. Certa vez, telegrafou para Adolph Hitler protestando em nome de Mozart contra o bombardeio em Salzburgo. Sua fixação contemplativa por janelas foi assunto do cronista Rubem Braga. Em 1910, presenciou a passagem do cometa Halley. Sete anos depois, fugiu do internato para assistir ao brilho de outro cometa: Nijinski, o bailarino. Em ambos os casos sentiu-se tocado pela poesia. “Na