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Relatório do mundo lacrado II



Gaita de Foles de Hyeronimus Bosch




Os luminosos dançam nos
telhados de Metrópolis,
o jardim das delícias
sereias de néon & mistério,
estufas de vapor Bolgia
danados de Dante Alighieri,
sonham eternamente em saunas
casamento do céu & inferno
fios telefônicos cruzam as ondas
Meus olhos vidrados cegam minha mente
diluindo como uma laranja
mecânica de tudo
Avenida dos Centauros, utopias,
Esfinges de metal e concreto matando
os sonhos
Allan Ginsberg profetiza o caos,
Dionísio e Eros aprisionados,
uma floresta de cobras amarelas
nos olhos
dos escoteiros acendendo velas
em volta do primeiro chacra.

Ezra Pound recita numa estação
do metrô.
Eu sinto a fumaça de todas as chaminés
crescendo pelos sete buracos da cabeça
cachos de glória & outro na
barriga do Bode sobremesa
nesta longa temporada
no inferno dos corações gelatinas
bucólicas e misantrópicas
Meu silêncio ruminante de búfalo
Meu amor meteoro kamikaze
de gargalhadas & espelhos
domesticados feito um navio ancorado
no alto-mar do passado
porta-retrato bolorado
até a consumação.

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