O mundo
parece esconder uma infinidade de objetos pequenos que se derretem diante dos
nossos olhos, entranhados no chão e na lembrança, qual moeda, chaveiro ou
borracha desaparecidos pela casa, ninguém sabe e ninguém viu...
No entanto, ninguém perde um
elefante. Perde-se uma aliança, um alfinete de gravata, uma corrente de ouro,
um colar... Mas, me explique por que ninguém perde de vista um navio, a menos
que naufrague?
Não
gosto de perder coisas, quem gosta? Porém, objetos continuam sumindo todos os
dias, grampos que caem do cabelo de uma mulher, lapiseiras que criam pernas,
lápis de cor fogem do arco-íris da caixa e se embrenham no mundo procurando
devolver à madeira da floresta.
Ah, talvez seja por isso que tenhamos
esta sede sem nome por encontrar navios submersos há dezenas ou centenas de
anos. Talvez seja por isso que a descoberta dos tesouros povoem o nosso
imaginário com seus colares e moedas, seus diademas e anéis, suas pedras
preciosas de todas as cores e formas de lapidação. É por isso que temos o
encantamento das conchas que guardam pérolas: seriam as antigas pérolas, as que
lá se escondem sem nunca ali terem sido criadas, caídas dos diademas das
princesas ou rainhas?
Apesar de que, tudo desaparece, tudo
volta a ser o que era. No entanto, quem faz desaparecer os tiranos e suas
guerras de interesses? Quem, olhando a beleza da pérola supõe transformada a
química clandestina na delicada concha, quieta e, aparentemente inútil, no
fundo mar, é um testemunho de que, no mundo, quando queremos , deixamos o outro
encontrar o que fomos um dia.
( Páginas 66 e 67 )
NOVAS DE MACHO NA
COZINHA
E OUTROS INGREDIENTES
Rubens Shirassu Júnior
Crônicas
- Literatura Brasileira
244
Páginas
2012
Editora
Clube de Autores
São
Paulo - SP
Link de acesso para a editora:
http://www.clubedeautores.com.br/book/119375--NOVAS_DE_MACHO_NA_COZINHA#.VQQmy9LF_RU
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