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O jogo de interesses









Toda uma fantasia organizada, do tipo “faz-de-conta”









            Considero a reforma da educação nos anos 90, marcada por ambiguidades e contradições, percebidas nos planos e projetos interrompidos, sem uma avaliação e acompanhamento dentro de prazos não determinados. A maior parte desmembrada e substituída por outras ideias, em razão de pressões de órgãos internacionais e movimentos políticos, entre outras entidades que defendem uma educação que atenda a todos os setores e classes da sociedade. O que os tornou fragmentados, vagos, perdidos e confusos em decorrência do excesso de burocracia. O ensino precisa de menos padronização e maior flexibilidade nos projetos amoldados de acordo com o perfil econômico e social da cidade, da região e do estado.
            É visível que esses planos apenas preenchem a plataforma de políticos que defendem a manutenção de um ensino profissionalizante que prepara uma faixa de público das regiões mais pobres do Brasil, a exemplo do Norte, do Nordeste e o Oeste do Estado de São Paulo. Esse cumprimento de tarefas, tanto da parte do Ministério da Educação como das secretarias municipais, reflete o descaso e a falta de vontade política das autoridades representativas e do Governo Federal na década de 90. Essas medidas apenas promovem a sustentação do ensino tecnicista que favorece a formação rápida de uma mão-de-obra, em sua maioria, de baixo salário e, obviamente, sem perspectivas de mudar de função, características das teorias taylorista e fordista, e de futuro no mercado de trabalho.
            Nota-se, também, a incorporação da forma de gestão utilizada pela iniciativa privada, predominando critério como eficiência, eficácia, produtividade para aferir a capacidade da esfera educativa através da divisão dos recursos pelo custo-aluno, além de conduzirem a escola como obrigação de preparar para o mercado de trabalho.
            Para FERRETTI (página 47, 2003) ¹ possibilitou:
“Mudanças no perfil profissional do indivíduo: considerando sua formação atrelada ao processo produtivo - focando o individualismo, a competição, onde, o modelo de competência implica a exacerbação dos atributos individuais em detrimento das ações coletivas na construção das identidades e espaços profissionais.”


            O fato de observarmos pessoas que sabem apenas assinar o nome completo de registro (o analfabetismo funcional presente no ensino superior nos dias atuais.), demonstra o que classifico como sonambulismo cultural, de jovens e adultos que vivem numa cegueira mental e, não têm condições de criar alternativas para sair da condição das misérias social e cultural. Essas pessoas advindas de uma vida sofrida, geralmente, de um lar desestruturado, sem o apoio e o incentivo familiar, não sabem de seus direitos e deveres. Por outro lado, são bombardeadas pela propaganda ideológica do consumismo exacerbado, os padrões impostos de beleza estética, os modismos passageiros e frívolos que trazem, consequentemente, a frustração, a baixa autoestima e o sentimento de exclusão social.
            A história nos mostra que grande parte das ações na educação favorecem apenas a uma elite minoritária, como as filiais das grandes corporações multinacionais, os banqueiros, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Organização das Nações Unidas (ONU), as igrejas e as religiões. Criam-se planos de marketing, usados intensamente nos meios de comunicação em geral. Toda uma fantasia organizada, do tipo “faz-de-conta”, que encobre os problemas decorrentes de um sistema econômico, social, político e educacional, desmoronado e falido. Ressalto, também, o peso da globalização em nossa Nação, um país de terceiro mundo, na América Latina, urge uma reforma do Estado: - a transformação e a redefinição na sua configuração e na afirmação de novos modelos na economia e no sistema de tributação.



Referência Bibliográfica


(¹) FERRETTI, Celso João. A reforma do ensino médio: uma crítica em três níveis. Linguagens, educação e sociedade, Teresina, Nº 9, p. 41-49, Jan/dez., 2003.






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