No dia Independência
Nacional
Eu fiz um quarto bem
vermelho em Gotham City
Sobre os muros altos
da tradição de Gotham City
No cinto de utilidades
as verdades Deus ajuda
A quem cedo madruga em
Gotham City
(Gotham
City, de Jards Macalé e Capinam)
A ação experimental
dos jovens em alguns pontos que consomem literatura e artes em geral na cidade,
a poesia começa a perder a pompa e a solenidade. Explora todas as
possibilidades do papel, no que se refere ao design gráfico - frases escritas à mão, letras com espaçamento
aberto. Mais que uma manifestação de denúncia e protesto, a poesia jovem foi
uma explosão na literatura de Presidente Prudente e região, jogando para o ar
os padrões poéticos, o que lhe valeu, inclusive, o nome poesia marginal. O
momento de transição, a ansiedade, a insegurança proporcionada pelo estado de
coisas, sinalizaram a necessidade de mudanças no fazer poético e, certamente,
sentia-se uma “ansiedade cultural”, que teria dado o tom da época na área das
artes e literatura. Essa geração procurou expressar como essa poesia,
desmentindo o senso comum, foi extremamente atenta às crises político-existenciais
da história de seu tempo e, ainda, como se empenhou em verso e prosa, em
redefinir a própria maneira de pensar e viver a poesia.
O
dilúvio. A poesia prossegue em clima de grande movimentação, animando São
Paulo: o grupo Sanguinovo, em
passeatas, poetas vão à rua com as palavras de ordem: “Interferir no marasmo
urbano de São Paulo, estimular uma participação popular e, principalmente,
abrir espaços e conquistar corações”. Nesta ocasião, houve a presença de uma Centopeia Poética, de 15 metros de
comprimento conforme foi fartamente noticiado pelas folhas. Manchete dos
jornais de Sampa em 4 de dezembro de 1979: “Chove poesia no centro de São Paulo”.
A poesia jovem serviu
de diversas formas de comunicação para atingir o público, numa efervescência
que tomou conta do país e deu palavra às mais variadas tendências. Os poemas
apareceram em simples folhetos mimeografados, xerocados, posters,
cartões-postais, cartazes e, até mesmo, em muros e paredes. Como parte da
estratégica de marketing, esse material chegou aos teatros, ruas e exposições,
levado pelos grupos de poesia jovem. Mas conseguiram ganhar seu espaço também
em publicações alternativas da chamada imprensa nanica, nos jornais, revistas
ou livros lançados por diversas editoras que se dedicaram a essa “poesia
marginal”, como a policromática revista Navilouca,
o espirituoso e juvenil Almanaque Biotônico Vitalidade e o transgressivo Dobrabil, do poeta paulista Glauco
Mattoso.
De acordo com estudos
de antropólogos, o forte calor seco e abafado afeta o metabolismo da
comunidade, o que caracteriza pela inquietação, pela impulsividade e pela
imprevisibilidade de comportamento. Pelo contrário, Presidente Prudente
manteve-se em uma posição de neutralidade perante os grandes acontecimentos
políticos e sociais do século 20, no Brasil, o que fez com que a cidade
desenvolvesse características muito singulares e ficasse alheia ao imaginário
nacional. Tais artistas não comungavam com essa propensão à neutralidade
política adotada pela cidade. Mas o modelo de neutralidade sociopolítica
adotado pela elite minoritária dominante não pode dar conta de explicar tudo.
Do ponto de vista cultural
há um isolamento ocasionado também por outros fatores, sendo um deles a falta
de consciência política, a egolatria e o individualismo exagerado. A questão
mais agravante que permeia até o presente: o desinteresse dos representantes do
povo em criar leis que incentivam as atividades culturais e, principalmente,
respeitem o artista como cidadão e produtor profissional. O clima quente
influencia muito na mentalidade da população. O calor excessivo agrega uma
atmosfera de furacão interno e silencioso. Mesmo tendo o suporte de uma
religiosidade ascética somada a uma emotividade exacerbada não suprem o vazio
existencial. Esses jovens apesar de terem sido educados nesse contexto
cultural, tentaram em suas obras estabelecer um visível lastro crítico em relação
a essa herança. Um deles recorda com palavras mordazes: “Ficamos à mercê de uma
educação literalmente medieval, feita de maus-tratos físicos e psicológicos que
visavam destruir toda e qualquer manifestação natural de vitalidade. Nessa
declaração, expõe-se um dado fundamental que alicerça a história de Presidente
Prudente. Desde a sua fundação, no século 20, a questão religiosa apresenta um
fator primordial de manipulação e controle, conforme demonstra visivelmente o
número de igrejas e templos, demarcou com a eleição do padre Francisco Leão, da
Igreja Católica, como vereador na década de 1970.
Pouco se conhece
sobre sua história e sua cultura não oficial. E para tratar da fragmentária
história cultural do município, é preciso tirar o véu por sobre esse enigmático
universo situado numa região fortemente amarrada aos elos tradicionais da Casa
Grande e Senzala, articulada a oligarquia, de mandatários, além de sua economia
primitiva e sazonal do extrativismo agrícola e a pecuária de corte, conhecida
popularmente como “cultura bovina”.
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