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Mostrando postagens de agosto, 2024

Colcha de retalhos

  Falar sobre Literatura, Degustação e Culinária exige faca afiada e corte certeiro, tarefa não muito fácil para alguém que inicia pelo caminho da técnica. Rubens Shirassu Júnior em seu livro A literatura na degustação optou, desse modo, dar às reflexões o formato de uma colcha de retalhos. E, nesse ponto, delinea aquilo que é central na expressão “colcha de retalhos”. A concepção de “colcha de retalhos” veio a partir do filme intitulado “Patchwork” (1995), protagonizado por Winona Ryder que, na história, está elaborando sua tese de doutorado. Eis a sinopse: Mãe e amigas decidem bordar uma colcha para uma jovem indecisa frente ao casamento, uma colcha de casamento, seguindo a tradição. Enquanto constróem o bordado, vão resgatando episódios passados de suas vidas, resolvendo velhas pendências. Quando a colcha fica pronta, nada mais é como antes. Porque antes de tudo, esse termo possui uma feição estética, e é essa que pretendo fazer migrar para a formatação das escritas críticas. C

Arte milenar de celebrar

    O ato de cozinhar nos torna humanos? “Culturalmente falando, sim, nos torna humanos, pois representa memórias afetivas do passado, da infância, de trocas e de momentos importantes da vida, como cozinhar para os amigos e familiares. Por meio desse ato, reunidos ao redor de uma mesa farta, que nos acolhe e nos aproxima. Cozinhar modifica as estruturas físicas dos alimentos, transforma o que era um ingrediente em um produto final, compartilhar conhecimentos, técnicas e receitas”, define Rubens Shirassu Júnior, escritor, pesquisador e autor do livro de ensaios A Literatura na degustação .  O ensaísta destaca que “aprender a cozinhar pode modificar a percepção que as pessoas têm dos alimentos e seus produtos finais”, comenta. Se em outras gerações a habilidade em dominar a cozinha era parte da formação, ainda que só da mulher (mas isso é outra história), com o passar dos anos a sociedade adotou o já desgastado ditado “descasca cada vez menos e desembala muito mais”. A comida de verda

Performatividade e feminilidade

  A análise de Rubens Shirassu Júnior flui como um rio, procurando entender a relação entre culinária e narração em observância ao corpo feminino, entendendo essa categoria, o corpo enquanto espaço ativo, em ação e mutação constantes, que se desdobra. Nos ensaios que compõe A literatura na degustação , a memória entra em foco, no sentido de que esses corpos narram e reinterpretam a sua posição no mundo, em diálogo com o fazer culinário e com a prática narrativa. Por isso, o autor recorre à “performatividade” como forma de perceber a ação e a reação desses corpos no tempo e no espaço da narrativa. O sentido de “performatividade” que os leitores vão saborear durante a leitura da obra. No que demonstra as dimensões artística e antropológica, cuja ligadura se faz por meio do discurso desencadeado pelos agentes sociais, que se personificam no âmbito literário e no vivido. Como argumenta o ensaísta, o corpo se performatiza na relação trinômia entre o ato de escrever, cozinhar e amar, tría

Formação do nosso paladar

    No livro de ensaios A literatura na degustação , de Rubens Shirassu Júnior, serão determinantes as narrativas que falam de receitas recolhidas, vindas provavelmente de tempos longínquos, depositados nos vãos da Memória Cultural, entendendo-a como um campo de negociações culturais através dos quais diferentes narrativas compõem seu lugar na história. É sobre essas narrativas contadas e recolhidas pela Literatura Contemporânea enquanto patrimônio e linguagem, que Rubens Shirassu Júnior, escritor e ensaísta, discorre. Por isso, da maior importância ressaltar a relevância da obra do folclorista e etnólogo Câmara Cascudo, o qual realizou uma pesquisa profunda sobre as práticas culinárias no Brasil. O ensaísta no livro A literatura na degustação não faz apenas um levantamento etnográfico, mas também organiza um panorama da história literária sobre o assunto. A obra de Câmara Cascudo (2004) possui um valor fundamental para esta pesquisa, visto que o autor faz o resgate não só das