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Porres homéricos



Duas histórias de boêmios fantásticos e seus pileques colossais



Papo vai, papo vem entre um jornalista e um cartunista carioca, falando de um porre que tomou em companhia de um conhecido cronista, quando depois de beberem por toda a noite, foram amanhecer numa escolinha de jardim de infância, sentados em cadeirinhas e tendo, sobre as não menos pequenas mesas, grande quantidade de garrafas de cerveja. De duas coisas o cartunista não consegue se lembrar: onde conseguiram as cervejas e como foram parar na escolinha.
Coisas que são proporcionadas ao servos das “cervas”, meus caros leitores e leitoras, são os efeitos do “tsunami” de cerveja que abalou a memória dos personagens desta historieta. Hoje, está guardada nos anais dos grandes pileques: o personagem do cartunista carioca, foi interpretado por Jaguar, um dos fundadores do semanário Pasquim e campeão na modalidade de “levantar copo” nas olimpíadas etílicas, e o conhecido cronista, era a figura lendária de Carlinhos de Oliveira (José Carlos de Oliveira) famoso cronista e autor de “Terror e Êxtase”, que frequentou as noites cariocas nos anos 60 e 70. Já o jornalista do bate-papo era Antônio Roberto de Almeida (mais conhecido como “Machadinho”) autor de um livro de memórias, onde mescla entre relatos sobre a vida jornalística junto com casos hilários e fantásticos da boêmia carioca.
Outra história de boêmios fantásticos e seus pileques federais. O Wilson Morgado, famoso arquiteto paulista, que bebe desde os 14 anos, foi apanhado em casa, de carro, por alguns amigos de farra dispostos, naquela noite de carnaval de 75, a curtir uma grande esbórnia. Começaram bebendo no Brás e, desse bairro paulistano, foram biritando até o centro.
Lá pelas tantas, a turma de ébrios resolveu amanhecer o dia no Rio de Janeiro e, mesmo sem consultar o Morgado, que já tinha apagado, ganharam a estrada. O dia estava amanhecendo quando eles cruzaram o Aterro do Flamengo e viram nos jardins um DC-3 da Varig que então ficava aberto à visitação pública. Não tiveram dúvidas: deram a volta, estacionaram e, pegando o escornado amigo, colocaram-no dentro da cabine de comando do avião.
Feito isto, caíram fora, deixando o pinguço agarrado no manche. Quando Morgado acordou, levou um susto dos diabos, pois não podia imaginar como fora parar ali. Além do mais, uma tripulação de crianças exigia, aos gritos, que o avião decolasse. Na verdade não decolou, mas seu piloto aterrissou feio no chão quando tentou descer a escada da aeronave. Só depois de muitos analgésicos foi que conseguiu descobrir onde estava.


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