Pular para o conteúdo principal

E-zine foge do padrão "novidade"



Publicação mineira prioriza literatura e ideias de qualidade




O e-zine segue os conhecidos fanzines, que de modo independente, canalizou a fatia mais instigadora, provocante e criativa da literatura brasileira produzida nos anos 80 e 90. Seguindo o perfil do gênero, o e-zine “Chicos”, da editora Cata-Letras, de Cataguases, Minas Gerais, chegou no número 30, em abril último.
Seu projeto editorial envolve as questões mais inquietantes sobre o uso da linguagem, como subversão de visões de mundo. É uma publicação incomum, um ovni digital para leitores de beira-de-piscina que, certamente, vão achá-lo “chato” (este adjetivo, aliás, é o máximo de “crítica”, alcançada por essas cabecinhas condicionadas pelos instantâneos da TV).
“Chicos” é uma pequena obra-prima do que chamamos “revista de autor”. É insubmisso à tirania do novidadeirismo do cadernos de cultura e entretenimento, de “estilo pop” com o seu rompimento de padrões da estética ao estourar a tipologia, além do exagero nos efeitos gráficos, nos clichês e no consumo de modismos excêntricos e passageiros. Aquilo que o marketing e o design capricham na embalagem para melhor empacotar o consumista alienado e lhe definir o que pensar, ouvir, ler, assistir e vestir. Não há “novidades” nas páginas de “Chicos”.
Seu projeto equilibrado e simples oferece uma leitura que flui descontraída, existe leveza, pois os espaços brancos harmoniosos se apresentam como elementos estruturais dentro da revista. Há uma continuidade na ordenação gráfica e visual das páginas.
“Chicos” mostra uma ideia séria, uma intervenção cultural que engole qualquer debatezinho bobo entre politiqueiros medíocres, sem vontade política, burocratas, ou pseudointelectuais.




Comentários

  1. Rubens,
    agradecemos os elogios. Ficamos contente em saber que o nosso objetivo está sendo alcançado.
    O propósito da e-zine é apenas divulgar literatura. Apenas literatura, nada mais do que literatura. Apesar do nosso amadorismo.
    Somos além de chatos, bastante teimosos.
    Somos gratos por acreditar em nossa teimosia.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O PAU

pau-brasil em foto de Felipe Coelho Minha gente, não é de hoje que o dinheiro chama-se Pau, no Brasil. Você pergunta um preço e logo dizem dez paus. Cento e vinte mil paus. Dois milhões de paus! Estaríamos assim, senhor ministro, facilitando a dificuldade de que a nova moeda vai trazer. Nosso dinheiro sempre se traduziu em paus e, então, não custa nada oficializar o Pau. Nos cheques também: cento e oitenta e cinco mil e duzentos paus. Evidente que as mulheres vão logo reclamar desta solução machista (na opinião delas). Calma, meninas, falta o centavo. Poderíamos chamar o centavo de Seio. Você poderia fazer uma compra e fazer o cheque: duzentos e quarenta paus e sessenta e nove seios. Esta imagem povoa a imaginação erótica-maliciosa, não acha? Sessenta e nove seios bem redondinhos, você, meu chapa, não vê a hora de encher a mão! Isto tudo facilitaria muito a vida dos futuros ministros da economia quando daqui a alguns anos, inevitavelmente, terão que cortar dois zeros (podemos d

Trechos de Lavoura Arcaica

Raduan Nassar no relançamento do livro em 2005 Imagem: revista Usina             “Na modorra das tardes vadias da fazenda, era num sítio, lá no bosque, que eu escapava aos olhos apreensivos da família. Amainava a febre dos meus pés na terra úmida, cobria meu corpo de folhas e, deitado à sombra, eu dormia na postura quieta de uma planta enferma, vergada ao peso de um botão vermelho. Não eram duendes aqueles troncos todos ao meu redor velando em silêncio e cheios de paciência o meu sono adolescente? Que urnas tão antigas eram essas liberando as vozes protetoras que me chamavam da varanda?” (...)             “De que adiantavam aqueles gritos se mensageiros mais velozes, mais ativos, montavam melhor o vento, corrompendo os fios da atmosfera? Meu sono, quando maduro, seria colhido com a volúpia religiosa com que se colhe um pomo. E me lembrei que a gente sempre ouvia nos sermões do pai que os olhos são a candeia do corpo. E, se eles er

O Visionário Murilo Mendes

Retrato de Murilo Mendes (1951) de Flávio de Carvalho Hoje completaram-se 38 anos de seu falecimento Murilo Mendes, uma das mais interessantes e controvertidas figuras do mundo literário brasileiro, um poeta difícil e, por isso mesmo, pouco divulgado. Tinha uma personalidade desconcertante, sua vida também constitui uma obra de arte, cheia de passagens curiosas de acontecimentos inusitados, que amava Wolfgang Amadeus Mozart e ouvia suas músicas de joelhos, na mais completa ascese mística, não permitindo que os mais íntimos se acercassem dele nessas ocasiões. Certa vez, telegrafou para Adolph Hitler protestando em nome de Mozart contra o bombardeio em Salzburgo. Sua fixação contemplativa por janelas foi assunto do cronista Rubem Braga. Em 1910, presenciou a passagem do cometa Halley. Sete anos depois, fugiu do internato para assistir ao brilho de outro cometa: Nijinski, o bailarino. Em ambos os casos sentiu-se tocado pela poesia. “Na