Muita coisa sofro pela raça:
Sou enraizado pela herança
do espírito ao anarquista, aventureiro,
fidalgo e ao encantador de serpentes,
espetáculo do ilusionista passageiro.
Efeitos resgatados pela imagem
e semelhança de mil vidas
superpostas.
Não nasci há cinco décadas deste século:
sou o encarcerado do homem que fui.
Nasci do plano atribulado,
vivi mil ternuras desdobradas
dos amores intensos que tive.
Vim para desaguar o choro
que desamei e fui amado.
Vim para banhar novamente no rio.
Vim para discernir o mal do bem.
Vim para suportar a pequena
existência do Eu carnal privado
de recursos no palco mambembe.
Assisto às dúvidas e contradições,
personagem de enigma,
sou eu quem julgo os quatro elementos.
A ciranda de pedra,
da vida gravada em mármore, pois
tudo passa, e se reduz à efemeridade
menos a memória da bem-amada.
Tudo se reduz aos pensamentos,
contatos à superfície do teu corpo.
Pregaram-me no mapa-mundi,
transferiram-me uma alma bucólica
e um corpo desconjuntado.
Puseram-me o rótulo de homem,
numa única vida crucis, praias
uma passagem certa,
a morte revelará o sentido
verdadeiro das coisas,
novo Prometeu acorrentado
à ciranda da roda rodando.
(do livro “Cobra de Vidro”)
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