Ilustração de 1839
“Considerando-se
neste ensaio o choque das duas culturas, a europeia e a ameríndia, do ponto de
vista da formação social da família brasileira – em que predominaria a moral
europeia e católica -, não nos esqueçamos, entretanto, de atentar no que foi
para o indígena, e do ponto de vista de sua cultura, o contato com o europeu.
Contato insolente. Entre as populações nativas da América, dominadas pelo
colono ou pelo missionário, a degradação moral foi completa, como sempre
acontece ao juntar-se uma cultura já adiantada com outra atrasada.
Sob a pressão técnica e moral da
cultura adiantada, esparrama-se a do povo atrasado. Perde o indígena a
capacidade de desenvolver-se autonomamente tanto quanto a de elevar-se de
repente, por imitação natural ou forçada, aos padrões que lhe impõe o
imperialismo colonizador. Mesmo que se salvem formas ou acessórios de cultura,
perde-se o que Pitt-Rivers considera o potencial, isto é, a capacidade
construtora da cultura, o seu élan, o seu ritmo.
A história do contato das raças
chamadas “superiores” com as consideradas “inferiores” é sempre a mesma. Extermínio
ou degradação. Principalmente porque o vencedor entende de impor ao povo
submetido a sua cultura moral inteiriça, maciça, sem transigência que suavize a
imposição. O missionário tem sido o grande destruidor de culturas
não-europeias, do século XVI ao atual: sua ação é mais dissolvente que a do
leigo.”
Gilberto Freyre
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