Passatempo e outros tempos

No mundo animal, existem sapos que inflam uma espécie de bola na boca, ou o pavão que abre a calda em leque, apenas para seduzir a fêmea. Isto têm a haver na relação do ser humano, como auto-afirmação do macho na adolescência.

Houve um tempo que você ouvia um som na rádio-vitrola, ou aquelas angustiantes fitas-cassetes que, na maioria das vezes, a gente fazia torcida para não enrolarem no tape-deck, para tirar os acordes, decorar as letras para se cantar nos festivais do ginásio, ou simplesmente sonhar colado nas “brincadeiras dançantes”. Mas, são coisas de outras gerações... A necessidade de se exibir para o povo com os altos decibéis, às vezes, se torna insuportável e irritante. As pessoas estão exagerando atrás de uma fantasia em querer preencher o vazio existencial. Isto leva a questionar a inversão de valores como o respeito a individualidade do outro, de invadir a privacidade alheia. Imagine só: Às três da madruga, uma fila de carros com os mais modernos equipamentos de som, mais parecendo uma escola de samba eletrônica. Haja ouvido e “saco de elefante” para suportar o peso do som!

Conheço muitos que, na gula de aproveitar (entre 40 e 50 anos, as coisas que eram desimportantes para eles trocaram de valor com as importantes), emprestam descaradamente os cd´s players dos “filhões”, e chegam a brigar com eles, quando reclamam seus direitos: - Os direitos são iguais, e além disto eu não tive a infância regalada que vocês têm. Será que os adultos estão apenas começando a descobrir o inconveniente de ser adulto e racional? O mundo, isto é, o homem anda realmente fatigado, tem coisas demais, problemas e responsabilidades demais. Até ser importante dói.

Vamos esquecer tudo isso! Vamos deixar de ser hipócritas, e confessemos que a sedução maior dos entretenimentos é essa mesmo, serem passatempos e condizerem com a eterna criança e sua vida ativa! Deixemos de lado as últimas e desmanteladas pretensões à suposta adolescência, que é puro impulso instável por excesso de hormônios. E adotemos os chamados “vídeo-games”, que estão na moda, mas também o xadrez, o dominó, a sinuca, o pega-varetas, ocupações deliciosas que preenchem o tempo e prazer de guerrear com canhões de som.

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