Uma linha editorial alinhada à reflexão política
Alguém já disse que o Alquimia bar
não era apenas um bar, mas uma casa de ilusões, sempre à beira do concreto.
Cada antigo frequentador fornecendo uma visão própria que é incomum a todos. Na
sua rápida existência, o Alquimia bar, na rua Siqueira Campos esquina com a
Casemiro Dias, confirma a sua imagem de vendedor de ilusões. Para mim, essa
imagem é verdadeira. Desde o início, antes mesmo da inauguração, Mário Paulo
não queria ter apenas um bar, um restaurante. Queria uma casa onde as pessoas
se sentissem tão à vontade quanto um gueto permite. Por isso, batizou o bar de
Alquimia, uma mistura fina de composições químicas que era mais poético,
onírico, místico, atraente e globalizante. Surgiu a casa. No primeiro ano, era
um bar teatral e animado, local da moda. Depois, passou a ser, também, uma
espécie de centro cultural e político. Teve a apresentação do acústico Fábio
Mitio Guibu e Gutão Crepaldi nos violões. Houve a efervescência política pré-eleitoral,
com os articuladores, alguns defendendo interesses próprios, os românticos, os
quixotescos, além dos candidatos e simpatizantes disputando nas mesas as
preferências para os governos local, estadual e federal.
Lembro de um jantar que o Mário
organizou à Casa do Poeta, numa noite de março de 1991, em comemoração ao Dia
do Poeta. Ele sempre apreciou, valorizou e promoveu no espaço do bar as artes
em geral. Naquela ocasião, li “Relatório do Mundo Lacrado”, de minha autoria,
na companhia de Maria Aparecida Pereira de Souza, Luiz Komoda, artista
plástico, a professora Afife Fazzano, entre outros colegas da entidade. Às
próprias custas Mário Paulo produziu o fanzine Alquimia Bar, tendo como editor
o jornalista Roberto Prioste, em meio ao boom ou frisson das publicações
alternativas de Bauru, Campinas, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, no
Paraná, entre outras ações de Belo Horizonte, Juiz de Fora, Cataguases, de
Minas Gerais, de Brasília, Natal, no Rio Grande do Norte, Fortaleza, no Ceará,
Recife, em Pernambuco, e Belém do Pará.
Um divulgador de artista famoso (do
Geraldo Azevedo), colando cartazes e fazendo o merchandising do seu novo vinil
nas rádios, jornais e casas noturnas. Escritores anônimos, atores, músicos e
artistas plásticos, a exemplo dos objetos curiosos, instigantes e sensoriais
criados pelo Bertô, buscando divulgar seus trabalhos. Performances acontecendo
na casa que não era especializada. Quando o nome usado ainda era o antigo
happening. Poetas lendo seus poemas de mesa em mesa, sempre no clima do mais
alto astral, como as atitudes imprevisíveis do Chico da Bota. Ah! pode
perguntar aos leitores mais desavisados, e os nomes dessas pessoas, por que não
aparecem nesta crônica? Porque fazem parte da história do Alquimia Bar, e isto
é apenas um selfie. Essas pessoas queridas sabem que estão aqui, no sentimento
deste texto.
Ao lado dessas realizações, o
Alquimia tem o seu folclore, as fantasias e as maledicências que correm ao seu
respeito. E a cozinha do bar, heim? Quantas histórias escabrosas, sórdidas,
românticas, fantasiosas, delirantes ou qualquer outro adjetivo já não foram
contadas oralmente nesta cidade? Você, caro(a) alquímico(a), com certeza já
ouviu várias. Diante de qualquer ilusão colocada em questionamento, parafraseando
Charles Baudelaire, só nos resta dizer que tomamos a sopa do Alquimia e seremos
sempre mercadores de nuvens...
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