Foto: Franz Larese, Erker-Galerie, Burano, Itália, 1971
O poeta Ezra Pound quem diria, por
pouco não acabou ensinando chinês no Brasil. Em dezembro de 1957, meses antes
de se ver livre do confinamento no Hospital St. Elizabeth, em carta destinada
ao grupo da revista Noigrandes, o
poeta se dizia disposto a vir para São Paulo, caso fosse acolhido no primeiro
país a propiciar uma edição oficial de suas obras (trata-se de uma seleção dos
Cantos, Cantares, traduzida pelos
irmãos Campos e Décio Pignatari, editada pelo Serviço de Documentação do Ministério
da Educação e Cultura (MEC). A ideia não prosperou e Pound voltou para a Itália,
onde Murilo Mendes foi encontrá-lo em Roma, aos 76 anos em 1961, como “sua
própria ruína sobrevivente”. O tom melancólico do encontro, em que o poeta
brasileiro anotou a impressionante semelhança física de Pound com a imagem que
se faz do Quixote, e o autor dos Cantos
concordou, dizendo ser por causa da loucura, ficou registrado por Mendes na
segunda série de Retratos-Relâmpagos,
publicada na antologia de prosa Transistor
(Nova Fronteira).
Diferentemente do que algumas vezes
ocorre, quando a fama viaja mais rápido do que a obra, a biografia de Ezra
Pound vem precedida por uma considerável bibliografia do autor traduzida no
País ao longo dos anos. Em 1983, dois anos antes do centenário de nascimento do
poeta, a Hucitec, em co-edição com a Universidade de Brasília (UnB), lançou uma
antologia de traduções que abarcam poemas de todos os livros de juventude de
Pound, inclusive de sua Homenagem a
Sextus Propertius, o poema biográfico
Hugh Selwyn Mauherley, a recriação de uma das odes de Confúcio, além dos 17 Cantares, publicados anteriormente
na edição do MEC, esgotada. As traduções são do grupo ligado ao concretismo e
de Mário Faustino.
Faustino manteve no Jornal do Brasil,
nos anos 50, uma página de crítica de inspiração poundiana (apresentação da
poesia e tradução). Nesse espaço publicou um balanço da obra de Pound, recolhido
em livro por Benedito Nunes em Poesia-experiência
(editora Perspectiva). Da crítica praticada pelo próprio Pound dois volumes
foram traduzidos: O ABC da Literatura (Cultrix)
e A Arte da Poesia (Cultrix). Há 36
anos, em Os Escritores (Companhia
das Letras) foi traduzida a entrevista concedida por Pound ao poeta Donald
Hall, no segundo período italiano. Sobre a influência das leituras orientais de
Pound em Yeats discorre Richard Ellmann, em Ao Longo do Rio Corrente (Companhia das Letras). O Brasil foi ainda
um dos primeiros países do mundo a contar com uma nova tradução integral de Os Cantos (Nova Fronteira), a de José
Lino Grunewald. Em sua correspondência, ele revela seu papel de difusor
cultural e assim completa o perfil do poeta para o leitor brasileiro.
CANTARES
Ezra Pound
Poemas
Tradução de Augusto de Campos, Haroldo de Campos
e Décio Pignatari
Ministério da Educação e Cultura (MEC)
CANTOS
Ezra Pound
Poemas
Tradução de José Lino Grunewald
Editora Nova Fronteira
837 Páginas
Primeira edição: 1986
2002
TRANSISTOR
Murilo Mendes
Antologia de Prosa
Editora Nova Fronteira
414 Páginas
1980
POESIA
Ezra Pound
Poemas
Tradução de Augusto de Campos, Haroldo de Campos,
Décio Pignatari, José Lino Grunewald e Mário Faustino
Editora Hucitec / Universidade de Brasília (UnB)
Brasília - Distrito Federal
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