Como anda a política
de conservação e preservação do patrimônio histórico do Brasil? Minhas
observações se dirigem ao Condephaat, que possui as mesmas atribuições do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), sem esquecer do
Conselho Municipal do Patrimônio Histórico. Como a maioria das cidades
brasileiras, Presidente Prudente apresenta pouca preocupação com os vestígios
do seu passado, pois os ideais do urbanismo modernista progressista ainda
persistem. Em nome do progresso sem fim a especulação imobiliária destrói as
matas, florestas naturais, casas, prédios históricos. Em consequência, esquece
sua história numa atitude de negar o passado em nome desse falso progresso.
Esse procedimento confunde preservação de bens culturais com atraso e o preço
do progresso seria a sua sucessiva substituição. Tanto São Paulo como
Presidente Prudente, têm a paisagem urbana sendo transformada ao longo da
existência, tendo a substituição de seus edifícios históricos. Não podemos
esquecer o envolvimento da comunidade na construção dos elementos
significativos materializados ou não em edifícios, constituindo num reforço da
identidade do lugar. Alerto também que nem sempre o objetivo do Prefeito, do secretário
de cultura e do Conselho seja motivado por razões de identidade. A imagem
urbana pode ser tratada como produto para gerar lucros mais especificamente ao
turismo. Independente dos objetivos, o importante e fundamental é a preservação
de tais registros para o reforço da identidade desses lugares.
Esse processo de
revalorização de Presidente Prudente ainda necessita ser alavancado. Os
moradores, os atores sociais, as instituições precisam se envolver no resgate
de sua memória. Para reforçar a importância do conjunto arquitetônico, cito o
caso do Museu e Arquivo Histórico Prefeito Antônio Sandoval Netto, antigo
matadouro, na Rua Dr. João Gonçalves Foz, 2179, próximo a uma rotatória, no
Jardim das Rosas, tornou-se fundamental como referencial urbano constituindo-se
num elemento de percepção desta paisagem urbana. O que indica a importância
desta referência na legibilidade urbana, na qual a memória e o significado
contribuem à formação da imagem da cidade e, quanto mais legível for esta mais
forte é a sua identidade.
Urge discutir a
renovação e a revitalização do Museu, pois seu conjunto arquitetônico vem
sofrendo o processo de perda das características da ocupação do seu lote
original, incluindo o retalhamento para outros usos e afins. Diversas
interferências alteraram o espaço original. Carece de restauração, a construção
de um espaço mais amplo, para incluir salas de arquivo, compra de equipamentos
de conservação, a exemplo de scanners para digitalizar documentos, entre outros
equipamentos da tecnologia digital e, de caráter imprescindível, a contratação ou
terceirização de profissionais capacitados, conciliando a qualidade espacial e
as novas necessidades do mundo contemporâneo, conjugando produtividade
cultural, conservação e o direito à memória. Tendo a sensação de uma área
arejada e bem planejada e sem descaracterização, o Museu possibilita um público
heterogêneo e, principalmente, de turistas que perceberão o passado, o presente
e o futuro propiciando reflexões que contribuam para seu enriquecimento cultural.
Um projeto adequado transformando o local de simples depósito de documentos e
objetos antigos para um espaço apropriado ao desenvolvimento de pesquisas e
estudos sobre a cultura local e regional, de forma dinâmica, que permita a
participação dos seus usuários garantirá a preservação do bem cultural à sua
comunidade.
O acervo de
patrimônios culturais pode ser caracterizado e classificado em categorias
diversificadas. Isto se deve ao fato de que a conservação realmente engloba
valores e interesses diferenciados, ou seja, a necessidade e a busca de
preservação dependem do entendimento destas categorias em relação ao seu valor
histórico e social.
Carlos Alberto
Cerqueira Lemos, professor de arquitetura e escritor, destaca a tardia
conscientização que aconteceu no Brasil em relação ao pensamento de Preservação
do passado, desencadeando posições e medidas de conservação do patrimônio
cultural. O escritor e professor de arquitetura argumenta e define as relações
que possam vir a existir entre os artefatos e o meio de forma geral. Assim,
tais artefatos apresentam dimensões, usos e escalas de valores diferenciados, a
partir de conceitos definidos por órgãos responsáveis e até pela própria
sociedade. Além disso, os artefatos criados por um determinado uso podem vir a
se estabelecer em uma nova utilidade devido às necessidades decorrentes, ou
seja, os costumes, valores, princípios e introdução de novas culturas se
alteram ao longo do tempo definidos a partir de novas necessidades.
Levanto a questão do
porquê preservar como algo amplo, onde se merece observar todas as diretrizes e
características peculiares de cada sociedade. Admito que a industrialização e a
especulação imobiliária estão prejudicando esta busca pela própria identidade
cultural, mas que tudo é uma questão de adaptação. A preservação sugere um
conceito muito maior, incluindo elementos tanto tangíveis quanto intangíveis,
conservando a memória do que seja mais significativo diante do grande
patrimônio cultural estabelecido. Claro que, cada grupo dentro da sociedade
defende aquilo que lhe pareça mais importante e que apresente maior valor para
se preservar.
Além do porquê
preservar busca-se o quê preservar. A consciência conservadora estabeleceu-se
de forma retarda e individualista, ou seja, as pessoas levantavam bandeiras
para a preservação do patrimônio que lhes remetiam a um maior interesse. Muitos
projetos foram formulados com fins de preservação, mas somente na década de 30,
Mário de Andrade estabeleceu um projeto que englobou o patrimônio para a preservação
deste acervo no Brasil. Neste mesmo contexto surge o Sphan – hoje Iphan –
(Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e, de certa forma,
seguia a lógica de preservação estabelecida pelo projeto de Andrade, embora
mais ligado às questões de interesse público. O Sphan foi desenvolvido com o
intuito de promover todas as intervenções nos monumentos.
Quanto ao conceito
levantado ao Patrimônio Ambiental Urbano, desde o projeto inovador de Mário de
Andrade, este já interpretou o contexto urbano como algo a ser conservado.
Porém, devido às constantes transformações que ocorrem nos traçados urbanos
existe a dificuldade de preservação, digo a origem mais primitiva, mas possível
diante de um prisma conceitual definido.
Diante do patrimônio
cultural que se deseja preservar, deve-se definir como se preservar. O
principal enfoque neste conceito está relacionado aos bens ditos arquitetônicos
que também eram escolhidos de acordo com conceitos e interesses individuais,
desde ruínas até construções íntegras que necessitem de uma melhoria
específica. O “como” preservar vai depender justamente destas classificações,
sem ignorar o meio em que se encontram inseridas. Diante da busca de
preservação destes artefatos arquitetônicos estabeleceram-se medidas mais concretas
para este fim, como a Carta de Veneza, desenvolvida por profissionais ligados
ao movimento de conservação, com conceitos e métodos de preservação. O
tombamento também foi um recurso que começou a ser utilizado para a preservação
de uma memória, ou seja, com o tombamento há uma restrição do uso e ocupação de
uma determinada edificação para garantir a preservação de uma memória coletiva.
Claro que, atrelada a
todas estas questões de preservação, interesses sociais e econômicos participam
ativamente deste processo. A principal forma de como preservar o patrimônio
cultural está voltado principalmente para a questão de educação popular e em um
maior interesse de conservação das classes que dirigem esta conscientização.
Em suma, a
consciência de preservação no Brasil nasceu tardiamente e com conceitos
prematuros e mal definidos, isto justificado a partir da observação atrasada da
definição e estabelecimento do Sphan, diante da falta de interesse em relação
ao passado, tanto da classe popular quanto da administração pública, ignorando
o fato de que patrimônio cultural abrange vários tipos de categorias e métodos
específicos de preservação, merecendo análises próprias para a correta
preservação destes bens patrimoniais claramente importantes para a posteridade.
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