Ilustração de Rubens Shirassu Júnior
Ao
centenário de Presidente Prudente
Quase ninguém lembra
passa despercebida
ninguém disse nada
ninguém quis lembrar
ninguém quis preservar.
Porque as pessoas não querem mais lembrar
o lixo da memória pegando fogo.
O lixo da memória roído pelas traças e pelos
cupins
e
desistiram de falar
pois esta é a era midiática neomedieval do
silêncio,
do homem uniforme individual, da hipocrisia e
das relações líquidas.
Silêncio dos que são vigiados pelo GPS
e do que estão arquivados pelo banco de dados
do buscador.
Silêncio secular assentado,
alguns mortos e muitos fatos históricos
incomodam demais
ninguém quer saber o que tem a ver.
Silêncio de Galo das Trevas do cemitério.
Urros ecoam nos poliedros dos asilos e do
hospital psiquiátrico,
as seivas dos comprimidos insanos escorrem
numa madrugada áspera e constante.
Crepúsculo de cérebros doentios,
o esporte das lágrimas tentando alcançar
misericórdias.
Gritos nos subsolos de delegacias.
Gritos em corredores estreitos
desabando sobre o mundo.
Os presídios do tempo presente,
silêncio com rostos cúmplices,
silêncio de olhares de viés e sussurrado,
silêncio para que ninguém se lance contra o
estratagema,
silêncio para que ninguém chegue perto
e desvende a história da cidade imaginária e
sem rosto.
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