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Mostrando postagens de agosto, 2025

Jogo de cena

  (Quarta Parte) À procura de formas o trágico acabou por se adaptar a forma literária escolhida para se manifestar, desligando-se, assim, do conceito puro de tragédia, pautando-se mais na fenomenologia literária do mesmo. O trágico não pode ser pensado através de uma reconciliação racional, mas da exposição dos extremos. A tragédia deve ser tomada como modalidade de apreensão artística do espírito do trágico, em um âmbito geral. Ao se tentar escrever pretende-se expor justamente aqueles conflitos que se agitam no interior da realidade moderna e de que o sentido do trágico se alimenta. Pode-se dizer que na concepção moderna o trágico é o conflito apresentado como chaga. Compara-se, de certa maneira, o herói da tragédia grega e a pessoa comum moderna: a vontade, para ambos, não se modificou ao longo, de mais ou menos, vinte e cinco séculos. Se para o herói não havia “vontade”, visto que esse pensava agir por sua escolha, mas, não o era; hoje, não obstante, a vontade recobra es...

Os absurdistas e o sentido da ação

  (Terceira Parte) Após essa visão do trágico moderno, pode-se eleger alguns pilares que o sustentam; a ambiguidade, o paradoxo, o sujeito – tentando o ser – a massa contra poucos, a perda, a essência e a aparência, o conflito aberto. Pode-se sentir-se que as engrenagens da máquina-mundo estão em atrito intenso. Este referido atrito que Albert Camus falará em suas obras. Para ele, o trágico chama-se absurdo e, nesse meio, em que o mundo cala-se diante do apelo, do desespero, que pensador ratificará a necessidade de viver. Expondo ideias um tanto paradoxais, o filósofo afirma e se questiona sobre “ onde está o absurdo do mundo? Será esse esplendor ou a lembrança de sua ausência? Com tanto sol na memória, como pude apostar no absurdo? Espantam-se em volta de mim; eu também me espanto, por vezes [...] Falar dele, em suma, vai levar-nos novamente ao sol ”. Marly de Oliveira sensibiliza-se igualmente com o desajuste moderno. Ao tentar exprimí-lo, a poeta revela traços camusianos...

Filosofia do trágico: ontem e hoje

  (Segunda Parte) Introdução Este ensaio pretende abordar as influências da filosofia do trágico e do absurdo camusiano na obra de Marly de Oliveira, mais especificamente nos livros A força da paixão e A incerteza das coisas (1984). O estudo pretende exibir como a poesia de Oliveira, a partir do livro Contato , não só no trabalho com a linguagem, mas também na tendência filosófica pré-anunciada em livros ulteriores se mostra amplamente. Ao publicar Contato concretizam-se preocupações como a vida e a morte, a passagem do tempo, a alienação, a perda de noção de indivíduo. Um olhar amadurecido direcionado ao humano e suas relações. Desse olhar resulta um discurso contraditório que diz e depois desdiz, feito por antíteses e paradoxos. Tendo isso em vista, os livros a serem analisados no ensaio foram selecionados por se constituírem belíssimas amostras de jogos poéticos e de questionamentos sobre o homem e o mundo. Para isso, pensadores do trágico moderno e a filosofia de Albert C...