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Quando a história pega mofo


Montezuma Cruz, "a enciclopédia da Amazônia"


Help, Rondônia também faz igual


Não imaginava que no início da "melhor idade" fosse ter dificuldades em folhear novamente o Correio da Sorocabana, A Voz do Povo, A Região (em jornal e revista!). No entanto, dez anos atrás já fora alertado pelo jornalista ourinhense José Rodrigues, que um dia cedeu uma coleção inteira do seu Tempo de Avanço (anos 1960-70!) ao museu de sua cidade, constatando depois o desinteresse oficial em conservá-la para o usufruto da pesquisa por novas gerações.
         Nosso estimado Enéas Macedo (ex-sucursal paulista de O Globo durante anos), comentou a respeito da perda de memória das folhas prudentinas por conta do desleixo de museus, arquivos públicos, etc. Algo lembrado, muito bem, pelo nosso querido Rubens Shirassu Júnior, de quem tive a honra de conhecer, entre 2005 e 2006, na Redação de O Diário do Norte do Paraná, em Maringá. Enéas chama atenção para o papel do sindicato da categoria que, segundo ele, deveria agir. Afinal, trata-se da preservação da memória do jornalismo.
Está ocorrendo situação semelhante em Rondônia: coleções de O Guaporé e de A Tribuna começam a mofar nas prateleiras da Secretaria Estadual de Cultura, sem que alguém saiba ou queira lidar com elas, conservando-as na essência como sempre foram: papel impresso.
Fui lá, vi e chorei. Antes de morrer, em setembro passado, dr. Rochilmer Rocha, diretor-proprietário de A Tribuna, fora informado de que seus jornais estavam lá. "Viajou" antes de ir novamente comigo ao local. Ele queria tomar alguma providência para salvar tão rico patrimônio da história e da cultura rondonienses.
Resgatá-la é uma missão especial que cabe ao secretário, felizmente jornalista, Julio Olivar.

Fazer o quê?

O abandono às coleções de jornais é um golpe certeiro e fatal contra a memória da imprensa prudentina. Rubens Shirassu Júnior lembrou-se de alguns nomes, mas há tantos outros que se foram deste Plano ou que ainda caminham por aqui, perplexos com tanto desmazelo.
Coleções de jornais antigos poderiam ser hoje o farol para uma juventude que desconhece o passado. Poderiam. Fazer o quê?

Montezuma Cruz

Repórter e redator da Agência Amazônia de Notícias em Brasília, Distrito Federal
Do E-mail para Wilson Marini, Diretor Executivo
da Associação Paulista de Jornais ( APJ ) de São Paulo





O que são as velhas mídias?

Que beleza de invocação o texto que discorre sobre a importância da preservação da memória em geral,  pelo que declara o jornalista Montezuma Cruz. A História de um País é isto, a somatória de resistências locais pela memória, como essa. E o traço gráfico do amigo e colega está lá, para sempre registrado.
         Dói mais quando o descaso atinge as raras publicações, aquelas que foram críticas da sociedade de seu tempo, pois sabemos que a maioria delas, sobretudo no interior, foi criada para servir à ordem dominante.
   Mas o que esperar, se o órgão que representa a categoria não dispõe ou fomenta um único núcleo de preservação da memória do jornalismo paulista. Principalmente, quando ela é do Interior. Pior ainda, como contar com um sindicato que abre suas portas para manifestações pela censura!!! das "velhas mídias"!!!, como aconteceu há cerca de dois meses, no prédio da rua Rego Freitas, palco de dias memoráveis de combate à ditadura dos anos 60. De onde agora se perseguem "mídias antigas", a despeito delas darem emprego a mais de 90% da categoria. Aí eu vou e pergunto: o que são "velhas mídias"? É tudo o que ainda tem capacidade de incomodar o dono do poder. Mas, também, pode ser tudo o que quiser um agente censor, já que ditaduras não conhecem limites.
   Que tempos, que vergonha, meus amigos e colegas de profissão. Onde há censura não há futuro. Idem quando a História mofa.
   Saudações globais”.
  
Enéas Macedo

Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de São Paulo,
reside há quase cinco anos em São Luiz de Paraitinga


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