Seu grito e desespero em doses cavalares
e secas de conhaque
Amy Winehouse como Renato Russo, se expôs nas canções e no mundo como uma figura de domínio público, alvo de uma notoriedade que, em várias ocasiões, chegou a lhe invadir a intimidade, transformando em notícias todos os episódios ligados à sua vida particular.
De certo modo, Amy e Renato - suas obras, vidas e personalidades - podem ser encaradas como uma espécie de símbolo, de uma profunda mudança de valores (não só musicais e artísticos) pela qual vem passando nossa sociedade nas últimas décadas.
Amy acertou uma comunicação forte com seus ouvintes na produção de seus quatro cds, uma espécie de coroamento da música de parcela da geração 2000 e reunindo o perfil do vazio e dos “sem amanhã’. Quem a ouve muito, a garotada desmotivada que sofre nas américas que agride e estigmatiza a pobreza e, por não ter um pouco de cidadania e determinação. Associada ao fenômeno e a rapidez do sucesso, Amy cristalizou a imagem cool, impulsiva e imprevísivel, de uma cantora que sabe como ninguém traduzir os anseios de sua geração. Desde que Frank, primeiro álbum da intérprete foi lançado, os ouvintes de uma certa classe urbana, burguesa e sufocada em altas doses de barzinhos e pubs, se reconheceram nos personagens angustiados e às voltas com um universo comum de valores e referências culturais.
Ela prefere o lado escuro da lua e da vida, com veias diretas às divas solitárias e a forte influência de Billie Holiday, Bessie Smith, Mahalia Jackson, Nina Simone, Aretha Franklin e Janis Joplin. Amy, uma prima triste dos Blues, o lado melancólico dela, talvez melhor dito seu lado existencialista, sem fazenda ou coqueiro à beira-mar, que o negócio dela é mesmo a fumaça do automóvel, o avião intercontinental e o brilho do neon na noite urbana, badalada e encenada.
O resto poderia ser apenas história decorrente do sucesso. Mas não foi: Amy seguiu inquieta pela vida. Ela a joga autodestruindo-se na idéia de ser intérprete, de uma certa maneira à moda antiga, clássica e romântica como a da crooner de orquestra, e realiza uma trajetória pontilhada de escândalos e vagas notícias, deixando um mistério que, mesmo que ligada a uma época específica de show de notas avassaladoras, marketing, 30 segundos no vídeo, investidas e aporrinhações dos paparazzis, mesmo com tanta mediocridade, se a notícia é efêmera, amanhã é outro dia, ela ainda guarda o seu grito e desespero em doses cavalares e secas de conhaque.
É triste isso, alcool, drogas...acabam com qualquer um...
ResponderExcluirJotacê Cardoso
Verdade, porém, poucas pessoas estão preparadas para encarar a fama e o mundo da mídia, do ibope e dos "paparazzi."
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