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A fábula fabulosa






Uma única espécie frágil num planeta precário e
viveríamos numa fraternidade e paz, ou reverteríamos
ao nosso cerne básico e calhorda, agora sem qualquer disfarce?






Sempre um cronista do mundo, em algum bate-papo, está falando dele. Por mais que ele dê voltas e dribles, é sempre ele que está ali naquele espaço. Escrever crônica é uma bandeira. É expor-se, dizendo o que a gente pensa e não pensa.
Podem ser besteiras, lavar a alma, estender uma mão (ou um doce) para um lado e a outra para o outro. Isso lembra uma menina, e que se chama Gabriela ainda por cima, acho eu, sem ainda a noção exata do que acaba de acontecer com a sociedade brasileira e – duvido, não – mundial. Não sei se o estouro vai ser já, ou a fábula dela vai pegar leve. Eu não sou psicólogo de ofício. Mas, por escrever, quando olho, vejo um lado profissional que dá uma espiada de trivela. É que eu tenho dito aqui estar impressionado com a geração feminina 2000.
Essa Gabriela, que é prudentina, pratica Judô e adora jogar xadrez, um motor de qualquer natureza capaz de funcionar indefinidamente sem despender energia ou transformando em trabalho toda a energia recebida. Ela mostra a sua beleza na sinceridade dos doze anos, falando alto, gesticulando ou dançando ao som de um ritmo dançante. Como seriam melhores a vida e o mundo se todos agissem como você, Gabi! Brincando em sua pequena aldeia imaginária, pura e bela! Onde o sol se levanta para todos e a gente canta pra nascer um novo dia! Essa sua energia livre, leve e solta é a verdadeira “pane” do milênio. Vai mexer com os bites-neurônios de muita gente falsa, careta e covarde. Sua vida nunca será a mesma.
Você vive em torno de uma linha imaginária, separando o universo gabriélico do resto do mundo. Pois ela quebra as latitudes e as longitudes do amor, da dor e de tudo quanto é pensamento fácil. As reflexões dela são ricas como o calor: Se um dia a Terra parar as suas máquinas e não houver nada para fazer, como nos comportaríamos no silêncio e na escuridão? Nos convenceríamos, finalmente, de que somos uma única espécie frágil num planeta precário e viveríamos numa fraternidade e paz, ou reverteríamos ao nosso cerne básico e calhorda, agora sem qualquer disfarce? Formaríamos tribos ainda mais ou descobriríamos nossa humanidade comum, e como eram ridículas as nossas diferenças? Jogaríamos nosso dinheiro fora ou cataríamos a grana que os outros atirassem fora, pensando na remota possibilidade de comprar um lugar no último foguete americano a deixar a Terra antes do impacto? Perderíamos todo o interesse nos prazeres da carne e trataríamos de salvar a nossa alma? Se existissem foguetes salvadores e bases na lua e em Marte esperando os sobreviventes, estaríamos diante de outra situação “Titanic”. Quem vai nos foguetes? (Nada de ruim e mesquinho – as crianças primeiro!) Tem que ser americano? Quanto custaria uma terceira classe? Aceitam cartão? Gabriela te diz, duvida?
Gabi, desculpe tantos elogios cá deste modesto amigo e tio. Mas é que a sua sinceridade é a flor mais linda da vida que eu já vi. Você é uma fábula fabulosa. Além do mais, você faz a gente sonhar que o Brasil e o mundo, daqui a uns anos vão estar bem, bem melhor. É uma questão de tempo. É querer. Obrigado, Gabriela. Afinal, as máquinas humanas não foram feitas para nos matar, mas para dar a “pane” do milênio.



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