Quebrando Paradigmas de Rubens Shirassu Júnior
Em homenagem à Semana Internacional da Mulher, escrevi este comentário analisando o choque da cultura da mulher indígena, o uso da “gramática” e o seu significado para os Jesuítas e a indagação: Se não seria materialismo exagerado e tortura exigir a virgindade apenas da mulher, numa sociedade hipócrita, que exalta a Falocracia, o Patriarcado e leis civis e penais ultrapassadas que protegem o macho latino?
Desde a violência verbal, o desprezo, marcas das agressões psicológicas e físicas e até o extremo de tirar a vida de uma mulher, pela “honra”, deixo este texto, como um torpedo de repúdio aos fariseus, oportunistas covardes, falsos profetas moralistas, entre outras criaturas medonhas.
Não faz muito tempo, apareceu um estudo em que o fim dos matriarcados e o começo da falocracia, que até hoje domina o mundo, teria coincidido com a criação do alfabeto e, podemos relembrar a catequese dos jesuítas. Em suas cartas, eram frequentes as referências à dificuldade que certos padres tinham com a gramática no seu trabalho de catequese, nas missões. Frequente e obscura – não se sabia se a dificuldade tão citada era com a gramática que os próprios padres ensinavam ou com a gramática dos nativos. Até descobrirem que “gramática”, na verdade, era um código para castidade. O problema de alguns padres era manter seus votos de abstinência em meio aos índios. Ou no caso, às índias.
Conscientemente ou não, o código foi bem escolhido. Pecar contra a gramática é um pouco pecar contra a castidade, se aceitarmos que a correção gramatical é uma norma de boa conduta, e as regras de língua equivalem a parâmetros morais.
Todo o nosso drama milenar foi resumido numa pequena ação: Yoko Ono seduzindo John Lennon e desfazendo uma idílica ordem fraternal, quase destruindo um mundo. E o que é a supervalorização da virgindade e a estigmatização civil do adultério, como constam da lei brasileira, senão uma tentativa de garantir que a mulher só descubra o tamanho do pênis do marido quando não pode fazer mais nada a respeito? Continuamos vivendo na aparência hipócrita do “lacre” da virgem santa ou dos “tapa-sexo” dos primatas, que comentei em outra crônica. Numa sociedade que cria os homens carentes, infelizes, materialistas e machistas, de preconceitos fixos, sedimentou-se um patriarcado no planeta, o dos pobres, macacos vazios e imitadores exibidos.
A virgindade, independente das teorias, é um tema para muitas divagações. Ninguém, que eu saiba, ainda examinou a fundo, sem trocadilho, todas as implicações do hímen, inclusive filosóficas. Já vi o hímen – que salvo grossa desinformação anatômica, não tem qualquer outra função biológica a não ser a de lacre – descrito como a prova de que o Universo é moralista. E, levando-se em conta a dor do defloramento e, mais, as agruras da ovulação e do parto em comparação com a vida sexual fácil e impune do homem, também é misógino. Mas, em comparação com o que a mulher, historicamente, sofreu num mundo dominado por homens e seus terrores, o que ela sofre com a Natureza é “Caracas”. Com trocadilho.
· Crônica do livro Novas de Macho na Cozinha e Outros Ingredientes (editora Clube de Autores, São Paulo, 2012)
Comentários
Postar um comentário