Fico sabendo sobre o falecimento de Raymundo
Araújo Júnior, meu amigo virtual. Sua esposa Tita comunicou-me a trágica
notícia por e-mail. Uma morte súbita, chegou, foi cochilar e, pouco depois,
constatou-se a sua morte.
Raymundo Araújo, tinha planos, era médico
veterinário, queria mudar-se para o campo, aos arredores de cidade interiorana
do Rio de Janeiro. Fiquei perplexo! Não tive palavras para enviar por e-mail,
fiquei abatido temporariamente, o que dizer para a esposa dele? Somente
agora, me recompus, lembrando que o "amigo virtual", não raramente é
mais amigo que o vizinho próximo, o parente, o pretenso amigo que raramente nos
faz uma visita ou nos deixa uma palavra de carinho e encorajamento. Este
distanciamento virtual soa falso, visto que nos correspondemos, trocando
confidências, promessas, protestos, nossas paixões políticas, esportivas,
cinematográficas, literárias e todo um arcabouço de familiaridades, que nem
sempre contamos aos nossos "amigos e entes mais próximos".
Raymundo Araújo, era corajoso, não temia em
criticar abertamente o mundo politicamente correto em que vivemos - seus
artigos eram corrosivos e repletos de bom-humor! Detonava o xaroposo Lula, com
argumentos eficazes, desmascarando as encenações petistas; com efeito, e
com semelhante proeza, também dinamitava a arrogância tucana. Conheço
poucos articulistas que primam por esta coragem e veemência, numa época em que,
ter opinião própria, contra o rebanho que saca, contra esta gente com sorriso
aberto com a boca cheia de dentes, como diria a canção do Raul Seixas, e sem
motivo para tanta felicidade, é um ato raro, lúcido e destemido!
Raymundo não deveria morrer tão jovem, sei de
pessoas com décadas de vida nos rodeando e nos aporrinhando com suas ideologias
nazi-fascistas, seus ídolos de barro vociferando nos programas de tv e rádio
com sucessos de meia-pataca - mas por que Deus permite que os amigos e as mães
vão se embora? Um religioso me disse que é porque Deus quer vê-los bem perto
dele agora - ora, e nós, humildes mortais, não desejamos o mesmo?
Raymundo Araújo aprovava minha admiração
explosiva diante do talento de Nara Leão; minha coleção de cds do King Crimson/
Eric Clapton/ Arnaldo Baptista/ Fernanda Takai/ Tom Zé; minha predileção
política por Leonel Brizola, meu apego ao pensamento de Pier Paolo
Pasolini, minha devoção por John Sebastian Bach! Sabia de meus amores secretos,
de minha angústia perante a difícil missão de educar um filho único, meu
respeito pelos animais, minha angústia diante de um País sufocado pela
corrupção, pela falsidade dos amigos e familiares, a destruição interminável da
natureza, o ciclo irreversível do caos.
Pois é, querido Raymundo, estou aqui, sem lenço
e sem documento, resistindo sempre, contra os dragões da maldade que nos cercam
diariamente em todos os lugares Este distanciamento virtual é falso, sou teu
irmão, teu amigo, teu confidente, não consigo me desvencilhar de suas palavras
e escritos que mergulharam em minha mente como um imã - por isso, ouso
dizer que tu vives mais do que nunca, que tu não morreu! Que Raymundo Araújo
Júnior está aqui, que mais do que nunca luta contra a burrice, a corrupção
implacável deste País de ditadores e fantoches.
Everi Rudinei Carrara, teu amigo
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