Pintura de Francis Bacon
Os
modelos de colunas de orientação sexual e namoro
são
comportados e se colocam como jogos de livres escolhas
Acredito na pasteurização do namoro
e do prazer sexual transformado em produto de consumo, muito bem manipulado
pelo marketing. Isso é sem dúvida um subproduto da revolução sexual dos anos
60. Ainda que ninguém mais leve a sério as ideias de Wilhelm Reich (ele
acreditava, por exemplo, que a liberação sexual traria o socialismo), algo
daquele discurso forjado na esteira do feminismo, da pílula anticoncepcional e
na crença de que o homem é senhor do próprio destino permaneceu, apesar da Aids
e de algumas ofensivas conservadoras.
Ao mesmo tempo, vivemos a fase dos
sexólogos respondendo perguntas dos telespectadores em transmissão pela
televisão, em revistas e jornais. Em jogo a orientação sexual do jovem com o
respaldo da ciência, assegurando o crédito dos programas e colunas. Revistas
femininas e masculinas, tanto em formato papel ou em cdrom, tornaram-se
verdadeiras enciclopédias do sexo, abordando da anatomia as parafilias (cada um
de um grupo de distúrbios psicossexuais em que o indivíduo sente necessidade
imediata, repetida e imperiosa de ter atividades sexuais, em que se incluem,
por vezes, fantasias com objeto não humano, autossofrimento ou auto-humilhação,
ou sofrimento ou humilhação, consentidos ou não, de parceiro. Deste grupo fazem
parte o exibicionismo, o fetichismo, a frottage, a pedofilia, o masoquismo
sexual, o sadismo sexual e o voyeurismo) que a maioria de nós desconhecia.
Inexiste portal na Internet que não dedique gigabites ao assunto.
O
modelo site de comunidade e amizades, além dos programas de orientação sexual e
namoro na TV, obviamente estão longe de propor a anulação dos tabus sexuais. O
uso ritual da tecnologia serviria para desrecalcar a experiência da morte
individual, pois “a internet seria um terreiro eletrônico”, diz Zé Celso
Martinez. Todos são até bem-comportados demais para o meu gosto, o que o torna
um pouco maçante e artificial. Mas eles colocam-se como um jogo de “livres” escolhas
que é a metáfora perfeita - a exemplo do cadastro de informações gerais sobre o
usuário - de uma sexualidade alienante e alienada, que é mercadoria mas se
pretende como intermediador ou praça virtual.
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