Ilustração de Rubens Shirassu Júnior
Te
vejo no melindre da língua
da
história que se bifurca neste vale
sem
tréguas, erma nas léguas
dos
migrantes lavradores iludidos
pelo
canto das sereias de néon da cidade:
queriam
vencer na vida,
como
fazendeiros do ar.
A
língua aqui valia
a
palavra dada
Sem
papel escrito
Nem
assinatura lavrada.
Levou
o povo que sonha o vale verde
à
vala comum.
Os
frutos
colhidos
ao tempo
Os
homens
caiados
no tempo
Os
sonhos
caídos
do tempo
O
pesadelo diante de poucos tostões,
os
horizontes ceifados pelas hélices
selvagens
da máquina do progresso,
colhendo
milhões de fardos, de café, algodão,
amendoim
empacotado de São João
Fest,
fabricado em série,
fora
do alcance daquelas mãos, para o alto
vagam
onde os vagões da vida
descarrilham.
Te
vejo, homem da roça, suplicar uma providência
do
divino, quem lembra? Prevalece, prefalece
vale
onde me fundo:
alma
e lama
do
mesmo barro.
Cresce
o poema sem adubos nem manifestos
onde
a cerca de estacas cai aos pedaços,
apodrecida
de esquecimento e pobreza.
Presidente
Prudente, o que queres?
saliva
ruminada de estábulos,
cuspe
sorrateiro na cabeça de códigos
De
orgulho, ostentação e etiqueta.
Exposição
de dentes, de medalhas, troféus,
Títulos
de nobreza, mas és (so)mente
Arcadas
secas ao sol.
Presidente
Prudente dos candelabros!
O
poema se levanta da riqueza recusada
e
verde é teu tempo onde para sempre
serás
vão, vale a verdura das plantas
guardar-te
às vivências elementares.
Te
vejo Presidente Prudente
no
voo rasante do povo
de
alma de andorinha!
Se
teu voo é de delícias doces,
etéreas,
amargas, orvalhadas adentro
no
céu do espaço inerte.
Andorinha
que permanece livre
na
vida do azul aberto,
solta
e fogosa de ser,
agente
da malandragem
buscando
rebeldia interestelar.
Cresce
a semente no vale verde
de
alguns milagres de refeição,
de
reconciliação de amor perdido
em
amor achado de Deus,
fechar
as portas todas e deixar uma fresta
para
a esperança do homem prudente
do
campo, das palavras e suas metamorfoses
que
atravessam de círculo em círculo,
de
casas em casas e do mundo,
e as circunstâncias todas
que atravessam,
o sonho largo, longo
e fundo no fim da via:
na carne viva
do lavra(dor)
Lavrar inteiro do tempo,
debaixo das unhas,
a terra debaixo das unhas,
na vida sobre a terra
e nas unhas vivas da morte
madura
debaixo da terra.
( Páginas 59, 60 e 61 de “Cobra de Vidro”, São Paulo,
2012.)
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